sábado, 16 de junho de 2012

Protestos tentam frear a morte do rio Xingu


Protestos tentam frear a morte do rio Xingu (Foto: Thiago Araújo)
Juntos, os manifestantes usaram o próprio corpo para formar a frase “Pare Belo Monte” (Foto: Thiago Araújo)

“Pare Belo Monte”. A frase era formada por cerca de 300 pessoas, que juntas representavam letras. À luz do nascer do sol, sob as águas calmas do rio Xingu, os manifestantes lutavam para sangrar uma gigante. A partir de uma iniciativa indígena, com apoio de movimentos sociais, acadêmicos, estudantes e até da imprensa estrangeira, manifestantes ocuparam ontem (15), por volta das 5h, uma das áreas conhecidas como “ensecadeiras”, onde está sendo construída a Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Contrários à política desenvolvimentista do governo federal, os manifestantes abriram, com cerca de 50 picaretas, simbolicamente, uma passagem na barragem de terra que impedia o fluxo do rio, o primeiro passo para construção de um dos reservatórios que secaria uma grande parte do Xingu e inundaria uma vasta área habitada no entorno de Altamira.
Numa das ensecadeiras do sítio Belo Monte, cerca de 500 mudas de açaí foram plantadas, simbolizando a recuperação, prevista por lei, das áreas desmatadas pelo consórcio Norte Energia nas margens do rio. Em seguida, 200 cruzes brancas foram cravadas ao longo da área, representando a morte do rio para ribeirinhos, pescadores, agricultores e indígenas do Xingu.
XINGU + 23
Todos os protestos aconteceram dentro da programação Xingu + 23, evento que ocorre paralelamente à Rio + 20 e busca chamar atenção de autoridades mundiais, para os problemas que a população nativa vem sofrendo desde o início da construção de Belo Monte, em meados do ano passado. Até ontem, o ato foi pacífico, sem nenhum conflito registrado entre manifestantes e a polícia ou a segurança privada do consórcio.
“Nós não queremos nada demais. Nós queremos os nossos direitos: uma terra pra gente trabalhar sossegado, mais nada”, falou Edmilson Tembé, 53 anos, que veio de Santa Maria para apoiar os indígenas e a população atingida pela usina. Edmilson estava presente em Altamira, há 23 anos, quando o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu impediu o barramento do rio. “Querem tirar os índios e colocar num lote de terra pequeno, perto da cidade, onde o índio não se habitua. Não tem caça, não tem pesca, nem espaço pra plantar, vai viver do quê?”, indagou.
O movimento contrário a Belo Monte parece ser consenso entre a população carente de Altamira, que alega que a cidade está inchando sem planejamento urbano e que os postos de trabalho estão sendo ocupados por pessoas de fora da região. Ainda ontem, uma marcha de estudantes foi às ruas da cidade protestar contra os impactos sociais e ambientais causados pela usina.
De acordo com o governo federal, Belo Monte é um projeto essencial para suprir futuros déficits de energia e eventuais apagões. Para Antônia Melo, uma das lideranças da ONG Xingu Vivo, Belo Monte é um problema nacional e diz respeito a todos. “O projeto é ditatorial e foi imposto sem nenhuma consulta popular”, afirma.
Segundo ela, cerca de 40 mil famílias terão que ser remanejadas para a construção de Belo Monte. Além disso, segundo os manifestantes, a obra irá beneficiar apenas grandes mineradoras e empreiteiras.
A vila Santo Antônio, bem em frente ao canteiro de obras da usina, foi o palco inicial da Xingu + 23. Quem sabe, a vila tenha celebrado a última festa do Santo que dá nome à localidade, no último dia 13, antes de ser inundada pelos efeitos da usina. No cartaz do evento, a salvação das famílias afetadas pela barragem, talvez, representasse a força da esperança criada pela união dos manifestantes. “O santo das causas impossíveis contra o fato consumado”. (Diário do Pará)

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