terça-feira, 3 de maio de 2016

Mulher morta após abordagem da PM foi espancada, diz IML


 

Luana dos Reis foi agredida ao exigir que uma policial a revistasse, diz família.
PM investiga o caso, mas alega desacato e agressividade por parte da vítima.

Adriano OliveiraDo G1 Ribeirão e Franca
Luana Barbosa dos Reis morreu após abordagem da PM em Ribeirão Preto (Foto: Reprodução/EPTV)Luana Barbosa dos Reis morreu após abordagem da PM em Ribeirão Preto (Foto: Reprodução/EPTV)
Laudo do Instituto Médico Legal (IML) confirma que a mulher supostamente agredida por policiais militares durante uma abordagem em Ribeirão Preto (SP) morreu em decorrência de isquemia cerebral e traumatismo crânio-encefálico causados por espancamento.
A família de Luana Barbosa dos Reis, de 34 anos, que era homossexual, afirma que ela foi brutalmente espancada no dia 8 de abril, quando levava o filho ao colégio. Luana foi parada e não permitiu ser revistada pelos soldados da PM, exigindo a presença de uma policial.

A Polícia Militar, por outro lado, alega que os agentes foram desacatados e agredidos pela mulher, abordada porque o jovem que estava na garupa que ela pilotava desceu e saiu correndo, "causando desconfiança por parte dos policiais militares, que encontravam-se em patrulhamento."
“O que nos revolta é ver que esses policiais não foram afastados. Nada aconteceu com eles ainda. É um processo que vai ser longo e a gente percebe que eles vão tentar prolongar o máximo possível”, disse a irmã de Luana, a professora Roseli Barbosa dos Reis.
Nesta segunda-feira (2), a família obteve dois laudos do IML. Um deles, realizado logo após a agressão, quando Luana ainda estava internada na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas, aponta politraumatismo causado por agente contundente.
Luana Barbosa dos Reis morreu cinco dias após ter sido internada na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE) (Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)Luana Barbosa dos Reis morreu cinco dias após
ser internada no Hospital das Clínicas em Ribeirão
(Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)
O exame necroscópico, por sua vez, constata morte por traumatismo crânio-encefálico e isquemia cerebral provocada por “dissecção de artéria vertebral à esquerda secundária a espancamento, conforme resultado de angiografia (...)”
“Bastava olhar para a minha irmã, como ela saiu da rua, para entender o que aconteceu. Ela tinha provas nítidas, físicas. Não foi overdose, não foi AVC [acidente vascular cerebral], foi uma pancada. Uma não, várias. Ela não pegou o cassetete dos policiais e deu na própria cabeça”, afirmou Roseli.
A professora também negou que Luana praticasse artes marciais, como afirmou o tenente coronel da PM Francisco Mango Neto, três dias após a morte da mulher. Segundo Roseli, a irmã não usava drogas e nunca fez uso de anabolizantes.
“Eu nunca presenciei minha irmã usando drogas. Ela bebia como todo mundo. Agora, anabolizantes? Não, isso eu tenho certeza. Ele falou que minha irmã lutava artes marciais. Nunca. Onde que ela lutou artes marciais? É mentira, tudo é uma grande mentira”, disse.
Desacato policial
Em nota, o tenente coronel da PM Francisco Mango Neto explicou que policiais militares faziam patrulhamento pelo bairro Jardim Paiva e decidiram abordar Luana, ao avistar a motocicleta dela parada e o garupa sair correndo, o que causou desconfiança.
"Participaram da abordagem três policiais, sendo necessário o uso da força, uma vez que a senhora Luana mostrou-se muita exaltada e resistiu à revista pessoal, sendo conduzida ao Plantão Policial por lesão corporal e desacato", informou.
Ainda segundo Mango neto, os policiais respondem a Inquérito Policial Militar, que apura os fatos. A investigação interna deve ser concluída em 45 dias.
Investigação
A Polícia Civil investiga o caso. Roseli e um cunhado já prestaram depoimento. Testemunhas da agressão, no entanto, ainda não se apresentaram por medo de retaliações, segundo o advogado da família, Daniel Rondi. Ele disse que pedirá a realização de “oitivas protegidas”.
“Essas pessoas têm o direito de depor sem serem identificadas. No Fórum, elas são encapuzadas e só o juiz conhece as testemunhas. O comando da PM garantiu que os policiais envolvidos não estão na área. Mas, a gente tem receio, porque existe corporativismo”, afirmou.
Rondi destacou que o caso está sendo acompanhado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pelo Instituto Brasileiro de Direitos de Família (IBDFAM) e pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Rondi também comunicou a Anistia Internacional.
“O que a gente acha que aconteceu: uma abordagem padrão da polícia. Ela foi agredida da forma padrão, quando a pessoa oferece algum tipo de resistência. Com qualquer outra pessoa naquele ambiente, com esse perfil – mulher, negra, lésbica, pobre, na calada da noite –, o caso teria ficado por isso mesmo”, disse.

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