quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Pastora Damares Alves diz ter sido estuprada por dois pastores quando criança

Pastora Damares Alves diz ter sido estuprada por dois pastores quando criança (Foto: DOL)
(Foto: DOL)
A futura ministra Damares Alves relatou a série de estupros que sofreu quando criança. Disse que foi violentada por dois pastores da igreja que frequentava com a família. E quando tinha 10 anos, pensou em se matar e que subiu em uma goiabeira com veneno de rato dentro de um saco plástico. Segundo ela, o que a fez desistir foi "ter visto Jesus".
"O primeiro abusador foi às vias de fato. Fui estuprada por dois anos. Ele dizia que eu era 'enxerida', que a culpa era minha e que, se falasse, meu pai morreria", diz a futura ministra. O segundo, que a machucou quatro vezes, em uma delas, ejaculou em seu rosto. "Falar sobre isso me dói. Me expor custa demais. Mas entendo que preciso passar a mensagem de que sobrevivi.", relatou Damares.
Ela fala também sobre as violências pelas quais passou. "Da primeira vez, foi um missionário da igreja evangélica que frequentávamos na época, em Aracaju (SE). Ele foi enviado de uma outra igreja para a minha cidade e ficou hospedado na minha casa. Chamo ele de 'falso pastor' porque era um pedófilo fingindo ser pastor. Ele foi às vias de fato comigo. Eu falo abuso, mas foi estupro. Foram várias vezes em um período de dois anos. Começou quando eu tinha seis anos e a última vez que o vi estava com oito. Uma das cenas que lembro bem é: eu estava dormindo no meu quarto, que era ao lado do de meus pais. Estava sonhando que segurava uma coisa quente e, quando, abri os olhos, estava segurando o pênis desse homem. Senti pavor, medo e dor. Da primeira vez que me estuprou, ele me colocou no colo, olhou na minha cara e disse: 'Você é culpada, você me seduziu, você é enxerida'. Ele dizia que seu eu contasse para o meu pai, ele (o pastor) o mataria", contou a Ministra.
De acordo com ela, o segundo pastor também frequentava a casa dela. "Me tornei uma presa fácil porque depois do primeiro abuso tinha muito medo e achava que o primeiro tinha contado para o segundo. Ele não foi às vias de fato. Me recordo de quatro momentos. Passava a mão no meu corpo, me beijava na boca, me colocava no colo. Uma vez ejaculou no meu rosto".  
Ao ser questionada sobre os pais saberem, ela conta: "Já adulta soube que meus pais descobriram. Mas, na época, nada foi feito. E eu também não falava nada, porque tinha medo de que ele matasse meu pai (Ela se refere ao primeiro estuprador). Fiquei refém daquele predador. Acontece com a maioria das meninas abusadas: algumas não falam porque são ameaçadas, outras, porque têm medo da reação do pai e da mãe e há as que acham que ninguém vai acreditar. Mas eu emitia muitos sinais. Infelizmente, ninguém notou". 
Os sinais de que ela fala são bem aparentes, entretanto ninguém da família conseguiu identificar.  "Me tornei uma menina triste. Antes dos abusos eu sentava no primeiro banco da igreja, cantava feliz, dançava. Depois, não cantava do mesmo jeito, não dançava. Virei uma criança retraída. Tinha pesadelos e gritava à noite. Eu tinha dois ambientes de proteção: a família e a igreja. O terceiro devia ser a escola, mas quando cheguei nela já estava destruída. Acharam que eu era assim, e fui tratada como uma menina tímida. Os três ambientes falharam comigo. E não podia falar, o silêncio foi imposto. Passei por um duplo abuso e quero que você escreva sobre isso: depois que ele machucou meu corpo, saciou todas as lascívias, olhou na minha cara e disse: 'Você é culpada'. Eu era uma criança cristã, achei que fosse para o céu, e ele sepultou meu sonho, porque achei que era pecadora. Ele não tinha direito de machucar meu corpo e nem o direito de arrancar meu sonho. É uma dor profunda", explicou. 

Para ela, os abusos são até hoje motivo de dor, "uma menina abusada é uma mulher destruída. Falar sobre isso me dói. Me expor custa demais. Mas entendo que preciso passar a mensagem de que sobrevivi. O objetivo de contar minha história é porque sei que milhões de meninas e meninos têm essa dor profunda. Vou lembrar sempre do que aconteceu", relata.
Damares explica também que a família e a igreja falharam com ela.
"Quando meus pais descobriram, foram conversar com religiosos da igreja e tiveram a orientação de não falar comigo, mas de orar. Naquela época não se falava de sexo com filhos, minha mãe nunca falou de menstruação. Trocaria anos de oração por um abraço ou uma conversa quando ela descobriu. Os pais precisam fazer isso: ler os sinais, prestar atenção nos filhos, perguntar se a criança quer contar alguma coisa, perguntar se alguém fez um carinho esquisito. Se alguém tivesse me dito para gritar, eu teria gritado".
(Com informações do Uol) 



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