sábado, 14 de setembro de 2019

Sem Cintra e sem CPMF, o que será a reforma tributária sonhada por Guedes?

 

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Charge do Frank (Arquivo Google)
Alexandre CalaisEstadão
Com a reforma da Previdência encaminhada, e já dada como favas contadas, a reforma tributária passou a ser a transformação estrutural mais importante no horizonte de mudanças preconizadas pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. Mas não tem sido fácil entender qual é de fato o projeto do governo para esse tema. E a demissão do secretário da Receita, Marcos Cintra, tornou a situação ainda um pouco mais nebulosa.
Cintra saiu, segundo o próprio presidente Jair Bolsonaro, por insistir na criação de um imposto nos moldes da antiga CPMF, necessário para cobrir a queda da arrecadação que viria com o fim da cobrança de contribuição previdenciária sobre a folha salarial das empresas. “A recriação da CPMF ou aumento da carga tributária está fora da reforma tributária por determinação do presidente”, escreveu Bolsonaro no Twitter.
GUEDES APOIAVA – Mas a nova CPMF não era, obviamente, uma ideia defendida apenas por Cintra. Fazia parte do projeto que vinha sendo elaborado pela equipe econômica, e contava com o apoio de Paulo Guedes. O ministro chegou a falar, depois de uma reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que, se a alíquota do novo tributo fosse baixinha, não iria “distorcer tanto” a economia.
Na verdade, a nova CPMF era um pilar fundamental do projeto do governo, apesar de o presidente Jair Bolsonaro afirmar o tempo inteiro ser contra. E, após a saída de Cintra, será difícil para a equipe econômica continuar insistindo no tema. Em entrevista aqui para o Estadão após sua saída, o agora ex-secretário da Receita voltou a afirmar que a nova CPMF é a única alternativa para desonerar a folha de pagamento das empresas.
Mas a recriação de um imposto tão controverso, mesmo que com as melhores intenções possíveis, seria um desgaste político que provavelmente Bolsonaro não vai querer enfrentar.

REFORMA DISPUTADA – Enquanto isso, Câmara e Senado disputam o protagonismo da reforma tributária. Na Câmara, a proposta do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), baseada no projeto do economista Bernard Appy, já está na Comissão Especial, na fase de recebimento de emendas. Mas Rodrigo Maia sinalizou que iria esperar o governo mandar a proposta dele, para tentar amarrar tudo num projeto só.
No Senado, um outro projeto,  baseado na proposta do ex-deputado Luiz Carlos Hauly, também está em tramitação. A expectativa era que fosse votado na Comissão de Constituição e Justiça da casa ainda este mês. Mas também havia a expectativa do envio da proposta do governo, o que agora parece um pouco mais distante.
A reforma tributária, tão importante, se transformou em uma grande incógnita. No final das contas, há projetos demais – empresários reunidos no grupo Brasil 200 têm uma proposta, os Estados levaram mais ideias esta semana a Rodrigo Maia – e, mais uma vez, há uma grande desarticulação do governo.
UM VESPEIRO – Já foi assim com a reforma da Previdência, que acabou saindo  muito mais graças à movimentação das lideranças partidárias no Congresso, que se deram conta de que era preciso fazer algo para tentar tirar o País do buraco em que se encontra. Mexer nos impostos, porém, parece ser um vespeiro ainda maior. Seria bom que o governo realmente se empenhasse nisso.
Mas, como disse o cientista político Fernando Limongi, em evento realizado esta semana pelo Estadão e pelo Ibre/FGV, os interesses do presidente parecem neste momento estarem restritos à agenda familiar: garantir a nomeação do filho Eduardo como embaixador em Washington e proteger outro filho, Flávio, das investigações da Polícia Federal e do Coaf.

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