Pedro do Coutto
Numa entrevista à repórter Cecília Flesch no final da tarde de domingo, o professor Paulo Feldmann, da Universidade de São Paulo, esclareceu de forma substantiva que o problema do petróleo no Brasil não é de produção, já que ele figura entre os maiores produtores do mundo, com uma extração diária de 2,3 milhões de barris.
O problema, isso sim, encontra-se numa fração do refino, já que o país não possui número suficiente de unidades que sejam capazes de transformar em gasolina e diesel, por exemplo, a produção que realiza.
PRETEXTO – Dessa forma, penso que apresentar o preço do óleo bruto do mercado internacional como fator de aumento dos combustíveis, como aconteceu sexta-feira, é um simples pretexto para elevar o faturamento da Petrobras e, em consequência, tornar mais rentáveis as ações.
Entre os acionistas encontra-se a própria União, uma vez que em 2021, informou o general Silva e Luna, em artigo publicado ontem no Estado de S. Paulo, que recolheu de tributos federais e dividendos nada menos do que R$ 203 bilhões.
Paulo Feldman disse com absoluta clareza e objetividade que o grande erro político dos governos brasileiros nos últimos vintes anos foi o de não investir suficientemente no setor de refino. Por isso, as importações abrangem praticamente 25% do consumo de gasolina, diesel e gás de cozinha do país.
OSCILAÇÕES – O refino não segue as mesmas oscilações de preços que significam no óleo bruto. Daí porque a formação de preços nas refinarias brasileiras e dos postos de distribuição não estão vinculados ao preço internacional dos barris. Em cada barril cabem 159 litros.
O problema do refino não está vinculado ao preço do óleo bruto, mas ao dólar. Acrescento, porém, no caso brasileiro a oscilação do dólar só vale quando é para cima e não influi como fator de preço quando ele desce no mercado cambial. Os investimentos em refino são essenciais ao país, esclareceu Feldman. Até porque a construção de uma refinaria demanda três anos em média.
A instalação da Petrobras em 1954 pelo presidente Getúlio Vargas foi marcada por resistências colocadas à luz de uma falsa técnica concluída de que no Brasil não havia petróleo. E a produção de petróleo em 1955, quando JK assumiu, era de cinco mil barris por dia. Juscelino Kubitschek entregou o governo a Jânio Quadros em janeiro de 1961 com uma produção de 100 mil barris/ dia para um consumo de 300 mil.
CRESCIMENTO – A produção foi crescendo progressivamente até atingir nos governos Geisel e Figueiredo a autossuficiência em cerca de dois milhões de barris diários. Hoje é 2,3 milhões de barris.
Como se observa, os interesses são muito grandes. Os responsáveis pelo refino no exterior têm lucros bem acentuados, como é natural. Os responsáveis pelas importações, claro, têm igualmente participação percentual.
DIFICULDADES – Entrevistado ontem ao chegar no Palácio do Planalto, pela GloboNews e pela TV Globo, o vice-presidente Hamilton Mourão reconheceu que o governo está encontrando dificuldades para equacionar a questão dos preços dos combustíveis que vem provocando reação popular de grande porte.
Disse, entretanto, que o general Silva e Luna encontra-se sob pressão, envolvendo também aspectos políticos-eleitorais. Mas, acrescentou Mourão, “Silva Luna está acostumado a enfrentar etapas difíceis e não tenho dúvidas que ele resistirá a mais essa”.
FAKE NEWS – Aprovado em 2020 pelo Senado, o projeto de lei contra as fake news encontra-se paralisado na Câmara Federal, aguardando que Arthur Lira o coloque em votação. Em junho ele completa dois anos na Casa. Rodrigo Maia havia escolhido o deputado Orlando Silva para relatar a matéria, mas ela foi paralisada.
Agora, Lira anuncia um grupo de trabalho para analisar novamente a questão. Se não for aprovada este mês, só valerá a partir das eleições municipais de 2024. Um dos artigos aprovados pelo Senado exige que sejam identificados os autores das mensagens, inclusive as que são transmitidas por robôs.