O cantor, escritor, poeta e
compositor carioca Chico Buarque de Hollanda deixou, historicamente, a
ironia fazer festa na letra de “Ano Novo” contra a ditadura militar que,
na época, imperava no país, a qual desejamos que jamais retorne.
O menino, na primeira estrofe, passa rapidamente da indiferença à comoção, pois o autoridade, o Rei, deseja que que todos se alegrem, pois o novo está chegando, no caso o ano, e ele, obediente, não contesta a ordem.
A segunda estrofe lembra Pedro pedreiro, pois acabaram as esperanças, há muito tempo as coisas são sempre iguais: o sofrimento, o trabalho, a vida difícil. As promessas também são sempre as mesmas, não conseguem mais enganar a ninguém, afinal é sempre o mesmo truque. Já que nada pode acontecer, as pessoas acabam fingindo alegria. Se o rei mandou nos alegrarmos, vamos então nos alegrar, pois quem já viu de pé o mesmo velho ovo, hoje fica contente porque é Ano Novo.
A realidade, porém, é muito dura, afinal esta minha gente vai vivendo a muque, sem perspectiva, no mesmo batente, no mesmo batuque. Alegria, o novo e colorido, nem que seja na forma de um vestido para sua nega comemorar, não tem lugar. Pede a mulher para que finja que não está descalça, dance alguma valsa, mais não se pode fazer.
Alerta para os descontentes, aqueles que não vêem mais graça, para não fazerem barulho, não reclamarem, não reivindicarem, pois o rei não vai gostar. É proibido manifestar o descontentamento, finja, portanto.
A ditadura implantada forja números, silencia os descontentes, exila, mata ou prende quem dela discorda. Oculta-se a verdade. Quer se vender numa imagem que não é real – Quem tiver sorriso fique lá na frente, pois vendo valente e tão leal seu povo, o rei fica contente. Se o rei quer o sorriso, mostremos a ele o sorriso.
Se ao rei não interessa ver a realidade, mascarem-se os fatos, oculte-se o sofrimento, a cegueira, a doença, a falta. Ele tem o poder. Mas o terá para sempre? A música ”Ano Novo” foi gravada no Lp Chico Buarque de Holanda – Volume II, em 1967, pela RGE.
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ANO NOVO
Chico Buarque
O rei chegou
E já mandou tocar os sinos
Na cidade inteira
É pra cantar os hinos
Hastear bandeiras
E eu que sou menino
Muito obediente
Estava indiferente
Logo me comovo
Pra ficar contente
Porque é Ano Novo
Há muito tempo
Que essa minha gente
Vai vivendo a muque
É o mesmo batente
É o mesmo batuque
Já ficou descrente
É sempre o mesmo truque
E que já viu de pé
O mesmo velho ovo
Hoje fica contente
Porque é Ano Novo
A minha nega me pediu um vestido
Novo e colorido
Pra comemorar
Eu disse:
Finja que não está descalça
Dance alguma valsa
Quero ser seu par
E ao meu amigo que não vê mais graça
Todo ano que passa
Só lhe faz chorar
Eu disse:
Homem, tenha seu orgulho
Não faça barulho
O rei não vai gostar
O menino, na primeira estrofe, passa rapidamente da indiferença à comoção, pois o autoridade, o Rei, deseja que que todos se alegrem, pois o novo está chegando, no caso o ano, e ele, obediente, não contesta a ordem.
A segunda estrofe lembra Pedro pedreiro, pois acabaram as esperanças, há muito tempo as coisas são sempre iguais: o sofrimento, o trabalho, a vida difícil. As promessas também são sempre as mesmas, não conseguem mais enganar a ninguém, afinal é sempre o mesmo truque. Já que nada pode acontecer, as pessoas acabam fingindo alegria. Se o rei mandou nos alegrarmos, vamos então nos alegrar, pois quem já viu de pé o mesmo velho ovo, hoje fica contente porque é Ano Novo.
A realidade, porém, é muito dura, afinal esta minha gente vai vivendo a muque, sem perspectiva, no mesmo batente, no mesmo batuque. Alegria, o novo e colorido, nem que seja na forma de um vestido para sua nega comemorar, não tem lugar. Pede a mulher para que finja que não está descalça, dance alguma valsa, mais não se pode fazer.
Alerta para os descontentes, aqueles que não vêem mais graça, para não fazerem barulho, não reclamarem, não reivindicarem, pois o rei não vai gostar. É proibido manifestar o descontentamento, finja, portanto.
A ditadura implantada forja números, silencia os descontentes, exila, mata ou prende quem dela discorda. Oculta-se a verdade. Quer se vender numa imagem que não é real – Quem tiver sorriso fique lá na frente, pois vendo valente e tão leal seu povo, o rei fica contente. Se o rei quer o sorriso, mostremos a ele o sorriso.
Se ao rei não interessa ver a realidade, mascarem-se os fatos, oculte-se o sofrimento, a cegueira, a doença, a falta. Ele tem o poder. Mas o terá para sempre? A música ”Ano Novo” foi gravada no Lp Chico Buarque de Holanda – Volume II, em 1967, pela RGE.
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ANO NOVO
Chico Buarque
O rei chegou
E já mandou tocar os sinos
Na cidade inteira
É pra cantar os hinos
Hastear bandeiras
E eu que sou menino
Muito obediente
Estava indiferente
Logo me comovo
Pra ficar contente
Porque é Ano Novo
Há muito tempo
Que essa minha gente
Vai vivendo a muque
É o mesmo batente
É o mesmo batuque
Já ficou descrente
É sempre o mesmo truque
E que já viu de pé
O mesmo velho ovo
Hoje fica contente
Porque é Ano Novo
A minha nega me pediu um vestido
Novo e colorido
Pra comemorar
Eu disse:
Finja que não está descalça
Dance alguma valsa
Quero ser seu par
E ao meu amigo que não vê mais graça
Todo ano que passa
Só lhe faz chorar
Eu disse:
Homem, tenha seu orgulho
Não faça barulho
O rei não vai gostar
E quem for cego veja de repente
Todo o azul da vida
Quem estiver doente
Saia na corrida
Quem tiver presente
Traga o mais vistoso
Quem tiver juízo
Fique bem ditoso
Quem tiver sorriso
Fique lá na frente
Pois vendo valente
E tão leal seu povo
O rei fica contente
Porque é Ano Novo
Todo o azul da vida
Quem estiver doente
Saia na corrida
Quem tiver presente
Traga o mais vistoso
Quem tiver juízo
Fique bem ditoso
Quem tiver sorriso
Fique lá na frente
Pois vendo valente
E tão leal seu povo
O rei fica contente
Porque é Ano Novo
(Colaboração enviada pelo poeta Paulo Peres – site Poemas & Canções-Tribuna da Internet ) )
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