Carlos Newton
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) era presidente do Congresso
Nacional, em 2007, quando a imprensa levantou que o parlamentar usou
laranjas e pagou 1,3 milhão de reais em dinheiro vivo, parte em dólares, para virar sócio oculto de uma empresa de comunicação em Alagoas.
No mesmo ano, explodiu o escândalo Renagate, com a divulgação de que a
jornalista da TV Globo Monica Veloso tinha uma filha com o parlamentar
alagoana, que assumiu a paternidade da criança. Mônica passou a pleitear
na Justiça um aumento de pensão para a filha. No meio da confusão (o
senador era casado há 28 anos com Verônica Calheiros), Mônica revelou à
imprensa que o dinheiro da pensão lhe era entregue por Cláudio Gontijo,
um lobista ligado à construtora Mendes Junior.
Promovida a celebridade, Mônica posou nua para a Playboy, lançou uma
autobiografia aos 39 anos, ganhou as páginas das revistas de
fulgaridades, não fala mais sobre o Renangate e há alguns meses passou a
apresentar o programa Vrum, no SBT, sobre carros de luxo, do jeito que
ela gosta.
Monica virou “celebridade”
Com um escândalo atrás do outro, ficou-se sabendo que Calheiros era
dono de fazendas de gado, casa na praia, apartamento e carros de luxo,
com patrimônio “declarado” de cerca de 10 milhões de reais. Descobriu-se
também que o senador era também empresário do ramo das comunicações,
dono de duas emissoras de rádio em Alagoas que valem cerca de 2,5
milhões de reais e tinha sido sócio de um jornal diário.
Nada como um dia atrás do outro…
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POR BAIXO DO PANO
Reportagem de Alexandre Oltramari, na Veja, mostrava que pouca gente
em Alagoas conhecia essas atividades do senador. E por uma razão
elementar: os negócios de Renan eram clandestinos, irregulares, forjados
de modo a manter o anonimato dos envolvidos.
“Para que isso fosse possível, a compra das emissoras de rádio e do
jornal foi colocada em nome de laranjas, formalizada por meio de
contratos de gaveta e paga com dinheiro vivo – às vezes em dólares, às
vezes em reais. Tudo feito à margem da lei, com recursos de origem
desconhecida, a participação de funcionários do Senado e,
principalmente, visando a garantir que a identidade do verdadeiro dono, o
senador Renan Calheiros, ficasse encoberta”, revelou o jornalista.
A reportagem mostrava que Renan não costumava usar usou banco,
cheques ou transferências eletrônicas. A exemplo do que fez no caso do
pagamento da pensão de sua filha, quando pediu o apoio de um lobista de
empreiteira, nos negócios de comunicação ele, de novo, utilizava como
tesoureiro um intermediário com envelopes cheios de dinheiro.
Dessa vez, o pagador das mensalidades foi o assessor legislativo
Everaldo França Ferro, funcionário de confiança do gabinete do senador. O
assessor fez entregas em dinheiro vivo que totalizaram 700 mil reais.
Às vezes, pagava em dólares.
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FESTIVAL DE DENÚNCIAS
A imprensa devassou a vida financeira de Renan Calheiros, mostrando
que tudo que ele fazia era irregular, por baixo do pano, até mesmo a
compra e venda de gado e os negócios com um frigorífico eram mutretadas.
Houve uma sequência de denúncias sobre tráfico de influência, junto à
empresa Schincariol, na compra de uma fábrica de bebidas, com
recompensa milionária, sobre o uso de notas frias, em nome de empresas
fantasmas, para comprovar seus rendimentos, sobre a montagem de um
esquema de desvio de recursos públicos em ministérios comandados pelo
PMDB, e sobre a montagem de um esquema de espionagem contra senadores da
oposição ao governo Lula.
Ao todo, houve seis representações no Conselho de Ética do Senado,
pedindo a cassação de Renan Calheiros, que teve de abandonar a
presidência so Senado.
Renan Calheiros teve de sair da presidência do Senado, ficou meses
submergido. Consciente de que “a memória nacional só dura 15 dias”, como
dizia o general Golbery do Coutto e Silva quando a ditadura entrava em
algum escândalo, o enriquecido parlamentar ficou na encolha. Não foi
investigado pela Receita, pela Polícia Federal ou pelo Ministério
Público. Continua livre, leve e solto. E vai presidir novamente o
Senado, com apoio irrestrito do governo e da bancada do PT. Ah, Brasil…( Tribuna da Internet )
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