quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Conselho amigo: não participe dessa farsa!


Percival Puggina
Se em sua paróquia houver uma urna para votação no tal “Plebiscito popular por uma constituinte exclusiva do sistema político”, saia pelo outro corredor. Se alguém o convidar para dar seu voto por meio eletrônico, não entre no site e, se resolver dar uma espiada, escape antes de fornecer os dados que lhe são solicitados – nome, CPF, e-mail. É a eles e só a eles que convém conhecer seus dados e sua orientação política.
O que você deve fazer, sim, é checar a lista das 459 instituições apoiadoras desse estrupício jurídico. Elas estão em ordem alfabética e começam com a A Marighella (cujo site informa ser uma “organização socialista, patriota, internacionalista e revolucionária, de orientação geral marxista-leninista, que busca o horizonte do comunismo via o caminho do socialismo popular brasileiro”). A escrutinada no longo rol de coletivos, facções, movimentos, associações, redes, institutos, e assemelhados, irá surpreendê-lo. Tenho certeza de que, como eu, você não sabia que a chamada “esquerda” abrigasse, em nosso país, tantas organizações.
A constituinte pela reforma política, objeto desse plebiscito, se conjuga com o projeto divulgado em outubro do ano passado pelo Movimento Eleições Limpas (www.eleicoeslimpas.com.br). Ou seja, o plebiscito servirá para dizer que foi aprovada “pelo povo” a proposta de uma Constituinte que vai promover a reforma política desejada pelo PT. Lembro que em texto anterior examinei a semelhança e as mínimas diferenças entre o que pretende o Movimento Eleições Limpas e o que recomendou ao partido o 3º Congresso Nacional do PT. Fechou-se o círculo das conveniências.
A QUEM SERVE?
Reitero aqui a conclusão a que cheguei em julho passado: com esses apoiadores e tanta identidade de pontos de vista, eu não preciso saber mais para compreender a quem serve o projeto. E concluo: se ele convém a essa lista de apoiadores, não serve ao Brasil. Ademais, nunca houve no mundo uma constituinte – e ainda por cima exclusiva! – para mudar aspectos políticos de constituição em vigor. E o motivo é simples: alterações constitucionais parciais se fazem com emendas constitucionais. Constituintes são eventos magnos, que ocorrem em momentos de ruptura institucional. É um disparate promover algo desse vulto para pequenas mudanças normativas. Exceto se o objetivo for o que, neste caso, se pretende: promover um assembleísmo para fazer de conta que o povo está exigindo. Para tais grupos, ouvir o povo é ouvirem-se a si mesmos.
Ao fim e ao cabo, esse é verdadeiro espírito do plebiscito. Algo semelhante aconteceu outras vezes, ao longo da história, na legitimação revolucionária de regimes totalitários.

 
 

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