O artigo assinado por Marta Suplicy na Folha de ontem suplantou qualquer pronunciamento feito por Aécio Neves durante a campanha e depois. A ex-prefeita só não xingou a mãe da Dilma em sinal de respeito à velha senhora, mas não deixou pedra sobre pedra no governo a que serviu tão diligentemente até poucos dias. Referiu-se à crise moral e ética, junto com a crise econômica, política, hídrica, energética e institucional. Para ela, faltam transparência, confiança e credibilidade. Mísseis tão ou mais explosivos foram depois lançados contra a presidente e o PT.
Não que se conteste cada raciocínio e cada palavra apresentada em estilo furibundo, mas a indagação que fica é se Marta endoidou, se já era assim mesmo ou agora acordou. A partir de ontem, o caminho ficou sem retorno. Mesmo que o PT em peso se ajoelhe diante dela pedindo para ficar, hipótese mais do que impossível, a verdade é que no partido não há mais lugar para sua permanência.
A pergunta que se faz é se o destempero hoje elevado ao clímax significa a frustração acumulada de quem um dia imaginou tornar-se candidata do Lula, em vez de Dilma, ou se revela a abertura de uma porta por onde em breve passarão montes de companheiros desiludidos com a ocupação do poder. Escreveu assim por perceber que jamais será candidata do PT à prefeitura de São Paulo no lugar de Fernando Haddad, ou porque o governo dos trabalhadores revelou-se uma das maiores farsas encenadas no país desde a proclamação da República?
Tanto faz, porque o diagnóstico de Marta é perfeito, importando menos suas motivações. Sente-se ser grande a revolta nas hostes do PT, desde as forças sindicais às bancadas no Congresso e nas Assembleias. Para muitos revoltados, não se trata de pularem para outro galho partidário, mas precisamente do contrário: de a base da pirâmide provocar um terremoto capaz de deslocar, demolir e destruir o ápice.
E O LULA?
A dúvida é saber onde se encontra o Lula. Em sua última aparição, reunido a portas fechadas com sindicalistas, ele falou da importância da renovação dos quadros petistas. Na intimidade, não esconde críticas à performance da sucessora. Pode ser que na próxima semana, na reunião nacional prevista para Belo Horizonte, o primeiro-companheiro não se limite a abraçar Dilma e a agredir os adversários tucanos. Mesmo em termos ponderados, admite-se que possa desabafar e pregar a retificação de rumos.
Se o ex-presidente também é responsável pela débacle administrativa e ideológica do governo, salta aos olhos que desse jeito será levado de roldão na corrente que flui para as profundezas. Foi poupado por Marta, ainda que no parágrafo final do artigo de ontem possa ser identificado um duplo sentido. Ela conclui haver sumido o diretor da peça com enredo atrapalhado e incompreensível. Referia-se a Dilma ou será Lula o diretor oculto?
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