O Globo
A senadora Marta Suplicy deu ontem mais um passo para aprofundar a crise que vive com o partido desde o final ano passado, quando deixou o Ministério da Cultura com uma carta de demissão com críticas à gestão da presidente Dilma Rousseff. A publicação de um artigo no jornal “Folha de S.Paulo” com duros ataques ao governo causou irritação até em aliados próximos, como o coordenador nacional da corrente petista à qual ela pertence, a Construindo um Novo Brasil (CNB). Francisco Rocha, o Rochinha, disse que Marta está magoada e que “alguém deveria conversar com ela”.
“Não aceito que nenhum petista cuspa no prato em que comeu. Nem eu, Rochinha, nem ela, Marta” — disse o militante, que descarta um pedido de expulsão da senadora: “Para expulsar a Marta pelo que ela fala, o PT teria de fazer uma lista enorme (de expulsões)”.
No artigo de terça-feira, Marta criticou a “falta de transparência” do governo, que teria levado a economia a uma “situação de descalabro”, e ironizou a declaração de campanha da presidente de que não mexeria em direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”. Para a senadora, a presidente está “fazendo a vaca engasgar de tanto tossir”.
ALIADO CRITICA
Antigo aliado de Marta, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) condenou o texto da senadora, em sua conta no Twitter. Ele considerou o teor do texto “inaceitável”. “Não traduz o sentimento dos petistas nem do povo brasileiro”, escreveu o deputado. Já o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, que foi secretário de governo de Marta em São Paulo, mas acabou criticado por ela em uma entrevista recente, não quis falar sobre o assunto.
— O PT está certo. Ela quer é polemizar e não vamos fazer isso. Marta quer deixar o partido e está conversando diretamente com São Paulo, onde há um sentimento antipetista forte. Ela quer uma saída à esquerda do partido, com discurso moralista — disse um dirigente nacional da legenda, para quem Marta já está com os dois pés fora do PT e pensando em sua campanha à prefeitura.
LULA E SUPLICY
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também não quis comentar as declarações de Marta. Na semana passada, um dos diretores do Instituto Lula, o ex-ministro Paulo Vannuchi, já havia reclamado da senadora, dizendo que Marta fazia uma campanha “sórdida” contra o PT. As afirmações foram consideradas muito pesadas e tensionaram ainda mais a relação.
Ex-marido de Marta, o senador Eduardo Suplicy foi surpreendido com o artigo da senadora e disse que Marta não tem motivos graves para se ressentir com o partido.
“Ela tem consciência de que, se em alguns momentos ela não se sentiu tão considerada, por outro lado sabe o quanto o partido a acolheu”, disse o senador, salientando que Marta não pediu aconselhamento.
Ex-companheira de Marta no PT, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) avaliou que a “radicalidade” do discurso de Marta demonstra sua intenção de deixar o partido.
“Tenho a impressão de que ela já decidiu sair do partido. Senão, estaria fazendo essas críticas internamente. É uma situação muito grave” — disse Erundina, que deixou o PT há 15 anos.
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