Pedro do Coutto
O título deste artigo reflete a realidade de um panorama crítico que envolve tanto o governo quanto o país. A poucos dias da reunião de cúpula sobre o clima organizada pelo governo dos EUA, o Brasil vê-se sufocado por mais uma grande confusão criada pelo ministro Ricardo Salles, a meu ver, um antiministro do Meio Ambiente.
Na quinta-feira, dia 22, Bolsonaro será cobrado pelas providências não adotadas em relação à proteção do meio ambiente, sobretudo na Amazônia e no Pantanal do Mato Grosso. A crise chegou ao acúmulo após o ministro Ricardo Salles atacar o então superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, por esse apreender 200 mil metros cúbicos de madeira oriundas do desmatamento.
INTERFERÊNCIA – O ministro não tem resposta plausível. Como disse Saraiva, foi a primeira vez que o ministro de uma pasta interfere na outra, a da Segurança Pública, em favor de acusados de crime ambiental.
Sua situação é insustentável e o presidente Jair Bolsonaro tem que se livrar do pesado ministro ainda hoje, neste domingo, no sentido de tentar apresentar uma correta posição do país na reunião convocada por Biden.
O panorama em torno do Palácio do Planalto está denso. O senador Renan Calheiros foi escolhido relator da CPI da Covid. Em uma entrevista a Paulo Cappelli, do O Globo de sábado, Calheiros afirma que não há como não reconhecer a culpa do governo federal pela situação extrema a que chegou o país e que impossibilita o atendimento médico urgente e eficiente à população.
CONFRONTO – Sobre esse assunto, Hélio Schwartsman escreve um ótimo artigo na Folha de São Paulo deste sábado. Ele se define politicamente diante da opção em um confronto nas urnas entre Lula e Bolsonaro. Ele faz a opção por Lula da Silva. Votaria nele se as eleições fossem hoje.
Schwartsman tocou em um momento sensível, peculiar à política, que se refere às aparentes contradições que se destacam em vários momentos da história. Como tudo é relativo e só Deus é absoluto, como disse Einstein, as contradições em momentos dramáticos passam para o segundo plano. Líderes democráticos e conservadores já estiveram lado a lado ao longo dos tempos, sendo aliados em momentos determinados. Demonstro que aparente contradições são naturais do processo humano.
INDICAÇÃO DE RENAN – No que se refere à CPI, a situação se agrava para o Planalto. A indicação de Renan Calheiros revela uma posição contrária a de Bolsonaro que afundou o combate à pandemia ao substituir Henrique Mandetta por Eduardo Pazuello.
Alguns comentaristas políticos descartam as atribuições concretas de uma CPI. Caso, por exemplo , do excelente Fernando Gabeira. Mas uma CPI não é para prender, condenar ou elogiar. A CPI é algo que ilumina a situação a que se refere. Dá voz aos convocados a depor, causa reflexo profundo na opinião pública. É essa a sua finalidade. Mas pode provocar o descrédito e o desabamento de quem atuou errado nos episódios, a exemplo de Bolsonaro na pandemia.
SOLIDARIEDADE – Não bastassem os erros em série do ministro Ricardo Salles, em uma entrevista à Daniel Carvalho, Folha de São Paulo de ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o novo chefe da PF no Amazonas deve agir da mesma forma que o anterior , solidarizando-se com Alexandre saraiva, o que deixa o presidente Bolsonaro ainda mais isolado em relação ao tema sensível.
Disse, no início deste artigo, que Bolsonaro joga a sua última, aliás única, e a demissão de Salles neste domingo, tem que ocorrer antes do anoitecer. Se não fizer isso, o amanhecer de segunda-feira trará problemas graves, uma vez que a questão da Amazônia extrapolou as fronteiras brasileiras.
OMISSÃO – Patrícia Campos Mello, na Folha de São Paulo, revela que senadores democratas procuraram Joe Biden para acusar Bolsonaro de ser conivente ou omisso em relação ao desmatamento e às queimadas. Os nomes dos senadores estão listados na reportagem.
Vejam os leitores como se agrava a questão, sobretudo em um momento em que se aproxima a reunião internacional de quinta-feira. A situação de Bolsonaro é crítica. Não creio, aliás, que ele chegue ao final do governo. Mas ele ainda tem uma última chance de escapar da queda imediata, demitindo o ministro do Meio Ambiente.
CHOQUE – Está havendo também o desentendimento que se generaliza no Executivo. A Folha de São Paulo publica reportagem de Fábio Pupo e Bernardo Caram detalhando um novo choque entre os ministros Paulo Guedes e Rogério Marinho. Agora, em função de possíveis cortes na pasta de Marinho para possibilitar que o orçamento de 2021 seja aprovado sem furos no teto estabelecido.
A controvérsia vem de longe e agora se amplia. Rogério Marinho é um ex-deputado federal. Guedes não tem noção de política partidária. Aliás, nem dos problemas sociais da população brasileira.
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