Carlos Newton
Um dos grandes mistérios que desafiam a CPI da Covid é identificar o mencionado “grupo” que domina os bastidores do Ministério da Saúde, agora com apoio de militares contratados para importantes cargos e que acabaram também se corrompendo. Se ouvirem as pessoas certas e conduzirem as investigações para as diretorias que realizam compras de equipamentos e remédios, os membros da CPI vão chegar a resultados surpreendentes.
Um dos detalhes mais importantes é que o esquema de corrupção existe desde sempre, não há nada de novo no front ocidental, diria o escritor Erick Maria Remarque. A corrupção na Saúde é apenas uma tradição que passa de um governo para o outro, para controlar uma dos maiores sangradores de recursos públicos – as verbas bilionárias do Sistema Unificado de Saúde.
NAS MÃOS DO CENTRÃO -No caso atual, o esquema vinha sendo controlado pelo Centrão desde o governo Michel Temer, quando o deputado paranaense Ricardo Barros foi nomeado ministro da Saúde, como representante do PP na parte que cabia ao Centrão no latifúndio da coligação governista.
Com a vitória de Jair Bolsonaro em 2018, o ministério acabou sendo transferido para outro partido do Centrão, o DEM. Para ministro, foi indicado o ex-deputado federal Henrique Mandetta, de Minas, que nomeou como seu assessor direto outro ex-deputado de seu partido, José Carlos Aleluia, da Bahia.
Ricardo Barros, que se tornou líder do atual governo, não aceitou ser afastado do esquema e se integrou ao grupo, que ganhou reforço com a nomeação de outro ex-deputado do DEM, Abelardo Lupion, herdeiro político de Moyses Lupion, duas vezes governador e que se notabilizou como o maior corrupto do regime militar, em plano superior a Paulo Maluf.
MANDETTA DEMITIDO – Abelardo Lupion, que era assessor da Casa Civil na gestão de Onyx Lorenzoni, aceitou o cargo de diretor do Ministério da Saúde e completou o “grupo”. Com a demissão de Henrique Mandetta, que vinha ganhando protagonismo, e a desistência do substituto Nelson Teich, então chegaram os militares.
A grande surpresa foi que, ao invés de erradicar os núcleos de corrupção e moralizar o Ministério para combater a pandemia, os militares fizeram exatamente o contrário e se adaptaram ao esquema.
Albergado agora no terceiro andar do Planalto, o ex-ministro Eduardo Pazzuelo segue manchando sua biografia. Devia ir logo para reserva e se defender na Justiça. Sabe que jamais será preso, porque não há mais prisão após segunda instância e os processos acabam prescrevendo. A impunidade é garantida, general, pode vestir o pijama, porque o senhor será uma ausência que preenche uma lacuna. Ninguém notará sua falta, nem mesmo Bolsonaro, o velho companheiro na Escola de Paraquedismo.
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P.S. – Pazuello é um general que perdeu completamente a dignidade. A manifestação que encaminhou segunda-feira à Procuradoria, no âmbito da notícia-crime contra Bolsonaro, é um primor de desfaçatez. Disse que tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto ele adotaram providências para apurar possíveis irregularidades no caso Covaxin, mas não encontraram. No documento, ele mesmo relatou que Bolsonaro lhe passou a denúncia dia 20 de março. Ou seja, confessou não ter apurado nada, pois foi demitido no dia seguinte, 23 de março. Pazuello está emporcalhando a farda. Deveria ser preso, a bem do serviço público, para evitar que continue manchando o nome do Exército Brasileiro. (C.N.)
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