Daniel Weterman e Iander Porcella
Estadão
Uma ala do PSD do ex-ministro Gilberto Kassab quer que o partido desista de lançar candidato próprio à Presidência. Com a indefinição da legenda até agora, parlamentares passaram a dizer que nem o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), nem o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, hoje filiado ao PSDB, têm chance de vencer.
Pacheco disse a aliados que anunciará a decisão de não entrar na campanha presidencial no início de março. Leite, por sua vez, tem dado sinais contraditórios sobre o convite para ser candidato pelo PSD. Embora tenha indicado a empresários, no último dia 18, que pode deixar o PSDB para apresentar um “projeto alternativo” há dúvidas sobre sua viabilidade eleitoral.
VIÉS PETISTA – Criador e presidente do PSD, Kassab diz que o partido terá candidato próprio ao Palácio do Planalto. Admitiu, no entanto, que se esse nome não conseguir quebrar a polarização entre Lula (PT) e Bolsonaro, a tendência será de apoio ao petista, no segundo turno.
A defesa da candidatura própria, até agora, funcionou como forma de unir o partido, hoje dividido. Mas, apesar de pesquisas em poder do Palácio do Planalto indicarem que Leite tem potencial de crescimento para aglutinar parte da terceira via, deputados do PSD não têm essa avaliação.
Na prática, o partido de Kassab exibe hoje diferentes palanques regionais. Tem uma bancada mais alinhada ao governo na Câmara e mais crítica a Bolsonaro no Senado, apesar de ainda dividida. Nas eleições de outubro, alguns políticos do PSD vão apoiar Lula, como o senador Otto Alencar, pré-candidato ao governo da Bahia. Outros estão com Bolsonaro, como o governador do Paraná, Ratinho Júnior.
NOVAS FILIAÇÕES – Na quarta-feira passada, o PSD comemorou a filiação do secretário de Apoio à Gestão Administrativa e Política do Rio Grande do Sul, Agostinho Meirelles, braço direito de Leite. Outros nomes ligados ao governador também preparam a filiação ao partido de Kassab.
Ex-petista, o prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PSD), disse ter conversado com Leite nesta semana. Afirmou que ele está em “fase de reflexão”. As prévias do PSDB escolheram o governador de São Paulo, João Doria, como candidato do partido à Presidência. O grupo do gaúcho avalia, no entanto, que Doria deveria abrir mão da candidatura, por causa de seu baixo desempenho nas pesquisas.
Foi diante desse impasse no PSDB e da falta de apetite político demonstrada por Pacheco que Kassab convidou Leite para mudar de partido e ser candidato à sucessão de Bolsonaro. “Agora o cavalo está encilhado para ele. Não sei no futuro”, comentou o prefeito de Canoas, que é presidente municipal do PSD e articula a filiação de mais aliados de Leite.
DESTINO DE PACHECO – Na outra ponta, apoiadores de Pacheco observam que ele deve se dedicar à campanha para a reeleição ao Senado, em 2023. Até lá, tentará aprovar propostas de impacto, como a reforma tributária.
“Precisamos romper com o paradigma de que, em ano eleitoral, há um engessamento do Legislativo”, afirmou Pacheco.
Amigo do senador Pacheco, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), disse que pautará a reforma para votação no colegiado em 16 de março. “Sou cabo eleitoral do Pacheco para qualquer coisa que ele quiser”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O verdadeiro objetivo de Kassab é ser vice na chapa de Lula. Essa intenção foi revelada há alguns meses aqui na Tribuna, com absoluta exclusividade, e hoje é vista frequentemente no noticiário político. Dentro do PSD, essa manobra de Kassab está causando descontentamento e todos já sabem que a “candidatura própria” de Rodrigo Pacheco nunca foi para valer, assim como a ideia de lançar Eduardo Leite pelo PSD também é da boca para fora, como se dizia antigamente. Nesse caso, o verdadeiro objetivo de Kassab é filiar o governador gaúcho e seu grupo, para reforçar o partido. Como dizia Ibrahim Sued, em sociedade tudo se sabe. (C.N.)
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