Murillo de Aragão
Já em fevereiro de 2013, quando Dilma Rousseff (PT) se esbaldava em níveis astronômicos de aprovação popular, adverti que seu favoritismo corria riscos. Lembro-me agora da velha história de que “O Estado de S.Paulo” teria repetidamente advertido a Casa Branca sobre os equívocos de sua política para o Oriente Médio. Não deram importância. Deu no que deu.
Para mim e para alguns, apesar da elevada aprovação do governo Dilma, eram patentes as fragilidades de sua gestão, que, ao longo do tempo, levaram a uma espécie de “querer mudar para não sei o quê”. Dilma e o governo cometeram, prodigamente, erros graves em momentos de elevados créditos ofertados pela população. Créditos que começam a faltar na hora crítica.
CONTRADIÇÕES
A falta de objetivo nos sentimentos gestados pelas contradições do governo Dilma resultou em uma situação paradoxal. Dilma manteve-se líder e favorita todo o tempo, mas sua liderança não convencia. Baseava-se em fatos estruturais e nada mais. O tempo passou, passaram as manifestações, a Copa do Mundo não foi um fracasso logístico, o governo muito fez e pouco comunicou adequadamente, e Dilma continuava líder.
Nem mesmo o flerte com a recessão produzia elevação de desemprego. Os astros ajudavam Dilma a manter-se na liderança. A eleição, por sua vez, apesar do calor do noticiário, prosseguia gélida para a maior parte do eleitorado, pouco interessado em um debate sobre modelos econômicos.
Para melhorar a cena para Dilma, apesar do otimismo de setores do mercado que cravavam a vitória de Aécio Neves (PSDB) como certa, a liderança prosseguia com a candidata governista. Mantendo-se essa situação, Dilma deveria vencer no segundo turno contra Aécio. Ou com Eduardo, que, com sorte e o carisma de sua candidata a vice, Marina, poderia embolar a disputa pelo segundo lugar.
CISNE NEGRO
Eis que um cisne negro de proporções catastróficas muda tudo e traz Marina para o centro da cena política, impulsionada pela emoção e pelo seu recall da eleição passada, além do fato inequívoco de que é ela quem melhor personifica o desejo por mudanças da população. Desejo gestado a partir dos equívocos do governo.
Marina, pouco a pouco, assume a condição de favorita com uma mudança relevante: as vantagens estruturais da campanha não estão fazendo a diferença. Fariam se a eleição fosse fria e desinteressante. Com Marina e sua possibilidade de vencer, os holofotes estão acesos, e ela surge comunicando-se melhor, e mais: sem precisar de propaganda eleitoral. A mídia se encarrega de espalhar a nova.
A NOVIDADE
Poucos aguentam o ridículo da propaganda eleitoral, e, assim, o favoritismo de Dilma fica mais do que ameaçado. Definha na mesma praia em que todos admiram a novidade. A novidade está na areia. Um paradoxo em forma de sereia. Alguém que repete os sentimentos que empurraram Collor em 1989 e que deu às costas brasileiras para mudar a cena eleitoral. Em 2002, Ciro Gomes foi a sereia de então. Chegou a ocupar posição de empate técnico com Lula, mas declarações estapafúrdias enterraram suas chances no fim de agosto daquele ano.
Até agora, Marina coube muito bem no figurino de novidade. Tem-se mostrado consistente em driblar suas contradições e trazer a campanha para o seu campo. Já Aécio e Dilma estão como lutadores de luta livre esperando a hora, que nunca chega, de ocupar o centro de um palco que não é deles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário