Paulo PeresSite Poemas & Canções
“A Família do Burrinho” é um célebre poema, em que o advogado, escritor, ensaísta, dramaturgo e poeta paulista José Oswald de Souza Andrade (1890-1954) fantasia sobre a viagem de São José e da Virgem Maria a Belém, quando nasceu o menino Jesus.
A FAMÍLIA DO BURRINHOOswald de Andrade
– Vamos Joseph fugir
– Para onde Maria ir
Joseph (jocoso) – Shall go to Jundi-aí ai!
– Depressa! Sela o Mangarito
Vamos com o vento Sul
Onde serei cesariada?
– Não presepe
– Tenho medo da vaca
– Não chores darling (terno) Sweepstake de Deus!
Maria – Caí na ilegalidade
Porque modéstia à parte
Trago uma trindade no ventre
Nesse tempo não havia ainda as irmãs Dione
Algumas palavras de inglês conhecendo
A família sagrada partiu
Sem saudades levar
Para as bandas do mar
Vermelho
Na poeira da madrugada
Cruzou um olival
O escaravelho
– Quantas dracmas serão precisas?
Exclamou o castiço esposo
Para esta viagem em torno da lei do mundo
Estamos no século III ou IV da fundação
De Roma
E só tenho “argent de poche”
– Não vá faltar Joseph
– Na verdade Deus ajuda…
(os ricos)
– Sonhei que os serafins
Estão bordando uma estrela surda
Para Herodes não ver
Quero reis magos
Trenzinho e monjolo
E o retrato de Shirley Temple
Porque o menino vem
Este mundo salvar
O vento distribuía algodão pelos açudes
Joseph espancou o burrinho
E riu
– Belo mundo ele vem salvar!
(Já havia naquele tempo
Pouco leite para os bebês)
– Se faltar numerário
Eu carrego na centena do Mangarito
E dou um viva ao faraó Hitler…
(Antes que ele faça comigo
O Progrom que fez com Moisés)
– Oportunista! gritou uma nuvem
Joseph fingiu que não ouvia
– A vida é um buraco
Enquanto não vier Maria
A socialização
Dos meios de produção
– Besta! gritou um anjo
São José seguiu pensando
Que os anjos geralmente são reacionários
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