sexta-feira, 16 de abril de 2021

A dura sensação de ter perdido a mocidade, no romantismo poético de Abgar Renault

 

 

Paulo Peres
Poemas & Canções

O professor, tradutor, ensaísta e poeta mineiro Abgar de Castro Araújo Renault (1901-1995), no poema “Fim”, nos dá sua visão do que significou o término de sua mocidade.

FIM
Abgar Renault

O que eu perdi não foi um sonho bom,
não foi o fruto a embebedar meus lábios,
não foi uma canção de raro som,
nem a graça de alguns momentos sábios.

O que eu perdi, como  quem perde uma outra infância,
foi o sentido do enternecimento,
foi a felicidade da ignorância, foi, em verdade,
na minha carne e no meu pensamento,
a última rubra flor do fim da mocidade.

E dói – não esse gesto ausente, a que se apagam
as flores mais solares, mas uma hora,
– flor de momento numa bela aurora –
hora longínqua, esquiva e para sempre morta,
em cuja escura, inacessível porta
noturnos olham cegamente vagam.

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