sexta-feira, 16 de abril de 2021

Guedes reage e culpa o Planalto pela “emenda fura-teto” que pode virar pedalada do governo

 

 

Guedes nega ter negociado e aceitado a emenda “fura-teto”

Malu Gaspar
O Globo

O ministro da Economia, Paulo Guedes, está procurando interlocutores no governo e no mercado financeiro para negar que seja o pai da proposta de emenda constitucional que retira dos limites do teto de gastos bilhões de reais que seriam destinados ao combate à pandemia — a chamada emenda fura-teto. Fura-teto, aliás, sempre foi o adjetivo preferido de Guedes para bombardear esse tipo de proposta.

Ministros palacianos e líderes do Congresso têm dito que, depois de semanas defendendo o corte de todas as emendas parlamentares, Guedes mudou de ideia e passou a sugerir a proposta que veio a público ontem. Nos bastidores, porém, Guedes diz que nunca propôs nada semelhante, e que a emenda foi gestada no Palácio do Planalto nos últimos dias.

RESPOSTA DURA – “Eu não vou propor nada que fure o teto. Querem me carimbar justamente como o que eles são”, o ministro tem dito. 

A ideia de que o ministro da Economia tenha aceitado alguma solução para o orçamento que possa furar o teto de gastos teve péssima repercussão no mercado financeiro. Banqueiros e gestores de recurso passaram a considerar a queda do ministro possível e a cogitar nomes de substitutos.

Percebendo o movimento, o ministro decidiu reagir. Nas conversas de bastidores, está dizendo a gestores que só é admissível tirar do limite do teto os gastos com o combate à Covid, e que nunca defendeu nada diferente disso.

ORÇAMENTO-BOMBA – O orçamento da União para 2021 só foi aprovado no Congresso no final de março e caiu como uma bomba no colo de Bolsonaro. Organizado pelo senador Marcio Bittar (MDB-AC), o texto não prevê recursos para o pagamento de despesas obrigatórias em Previdência e benefícios sociais, mas incluiu R$ 29 bilhões a serem gastos com emendas parlamentares.

Depois disso, o dilema de Bolsonaro passou a ser vetar o orçamento, tirando dos parlamentares os recursos das emendas, ou sancioná-lo com ressalvas, correndo o risco de cortar verbas obrigatórias e ser processado por crime de responsabilidade.

Essa é a disputa interna que deu origem ao fogo cruzado entre a Economia e os outros auxiliares de Bolsonaro — Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil).

AFIRMAÇÕES CRUZADAS – O relator do Orçamento, Márcio Bittar, tem dito desde o começo que o documento saiu do Congresso exatamente como foi combinado com o Ministério da Economia, que aceitou incluir no Orçamento R$ 16 bilhões em emendas em troca da aprovação da PEC Emergencial.

Nas brigas internas do governo, Guedes disse que o acordo que fez era para gastos de 16 bilhões, que se transformaram em 30 bilhões porque seus colegas de Esplanada e outros líderes políticos preferiram pensar nos próprios interesses.

Numa dessas reuniões, no final de março, o ministro da economia foi claro em alertar Bolsonaro para o risco de impeachment. Nos ultimos dias, ministros palacianos passaram a dizer que ele, isolado no governo, decidiu ceder. Com a reação de Guedes, agora, um novo round na guerra do Orçamento está para começar. 

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