Pedro do Coutto
Por ampla maioria de votos, o Supremo Tribunal Federal no final da tarde da última quinta-feira confirmou a liminar do ministro Luiz Edson Fachin e anulou as condenações de Luiz Inácio Lula da Silva pelo ex-juiz Sérgio Moro, no fórum de Curitiba. Com isso, Lula retoma integralmente os seus direitos políticos e encontra-se livre para se candidatar à Presidência da República em uma luta possivelmente com Jair Bolsonaro na sucessão de 2022.
Digo provavelmente, pois a confusão política na área do governo é tão grande que pode acontecer qualquer coisa nas próximas semanas ou nos próximos meses. Política é assim. De repente surgem fatos que alteram substancialmente ou totalmente os rumos da sucessão presidencial.
DINÂMICA DOS FATOS – Quem esperava a liminar do ministro Fachin? Quem esperava que a Suprema Corte do país devolveria a elegibilidade a um ex-presidente que havia sido condenado e cumprido meses de prisão, tendo negado os pedidos de habeas corpus ? Esse fato deve ser colocado em destaque para que os cientistas políticos analisem que a dinâmica que envolve os acontecimentos podem sofrer repentinas alterações. Além do inesperado, tem que se levar em conta os interesses econômicos que envolvem uma eleição. Não se pode ignorar esses aspectos.
Lula assim volta ao centro do palco político. Em 1989, rememoro um fato importante. Lula perdeu o debate final na TV Globo para Collor. Não foi bem. O subdiretor de jornalismo da emissora, na época Alberico Sousa Cruz, preparou uma edição sintética do debate destacando os melhores momentos de Collor e os piores instantes de Lula. Alberico não inventou nada, apenas expôs um confronto que piorou a situação de Lula. Colocado este fato do passado, vamos ao panorama presente.
Lula em decorrência da decisão do STF encontra-se à vontade para articular apoios de candidatos a governador em vários estados também para 2022. Sem dúvida o seu apoio é muito importante. Ele, novamente, volta à cena eleitoral.
PREMIAÇÃO – A Folha de São Paulo publicou na edição de sexta-feira uma foto excepcional de Lalo de Almeida assinalando resultados trágicos de queimada ocorrida no Pantanal, Mato Grosso do Sul, em outubro de 2020. A foto, premiada pelo World Press Photo, exibe um macaco morto pelas chamas e árvores destruídas pelo incêndio. Algo revoltante que tem sido objeto da preocupação mundial, menos para o ministro Ricardo Salles. A reportagem prossegue na mesma edição falando sobre o problema das queimadas e do desmatamento, objeto da reunião da próxima quinta-feira, convocada pelo presidente americano Joe Biden.
O fato destacado pela Folha de São Paulo ocorre às vésperas da reunião internacional para debater questões ambientais. Não bastasse esses aspectos, o diretor geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, demitiu o superintendente Alexandre Saraiva no comando da Superintendência no Amazonas.
Nos bastidores da PF, a informação é a de que Saraiva já havia sido comunicado sobre a mudança na tarde desta quarta-feira , antes de enviar ao STF a notícia-crime contra Ricardo Salles por obstrução de investigação ambiental, organização criminosa e favorecimento de madeireiros. O governo tem que ser pressionado a demitir Salles, pois os reflexos internacionais podem ser grandes.
BOLSONARISMO – Em artigo publicado ontem, na Folha de São Paulo, o professor Fabio Terra sustenta que o bolsonarismo mantém sua posição sólida na fração que vem alcançando em matéria de opinião pública favorável. A tendência do fanatismo é essa.
Entretanto, Terra esquece que as últimas pesquisas do Datafolha apontaram uma queda de aprovação de 40% em relação ao governo para 31%. Se no futebol por um gol se vence ou se perde, a diferença de 1% em uma eleição pode ser decisiva. Decide uma disputa. E o presidente Bolsonaro encontra-se em queda, e mesmo em redutos conservadores a sua posição preocupa.
Mesmo entre o empresariado, existe uma perspectiva favorável a uma vitória de Lula. Os maiores empresários no fundo preferem a estabilidade de Lula do que a instabilidade que Bolsonaro lança sobre o Brasil. Jair Bolsonaro está desestabilizado e sua posição pode se agravar dependendo de sua conduta na reunião internacional de 22 de abril convocada por Joe Biden.
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