sexta-feira, 2 de julho de 2021

Jair Bolsonaro não deve se reeleger e a crise fortalece pedido de impeachment, diz Kassab

 

 

Gilberto Kassab sabe “farejar” para onde deve ir o poder

Igor Gielow
Folha

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, acredita que o agravamento da crise política reforça o movimento em favor do impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a quem vê longe da reeleição em 2022. “Não se pode banalizar o impeachment, é preciso ter cuidado. A base governista é grande e não pode ser menosprezada também. Mas quando é inevitável, é inevitável”, afirmou Kassab, 60 anos, ressalvando que não vê a situação neste ponto ainda.

A sequência de acusações de corrupção nos negócios com vacinas contra Covid-19 no Ministério da Saúde pioraram a situação de Bolsonaro, que vive seu pior momento em pesquisas de popularidade e de intenção de voto. “Há mais circunstâncias para a defesa [do impeachment]. Seja como for, vejo uma dificuldade muito grande de ele se reeleger”, disse.

SEM SENTIMENTO – “A marca de Bolsonaro é a postura na pandemia. Na hora em que não usa máscara, em que tira a máscara da menina [episódio em palanque na semana passada], dá a impressão de que não tem sentimento. Imagina a pessoa que perdeu um parente vendo aquilo. Gera um descontentamento.”

Considerado uma bússola da política nacional, Kassab também lembra que surgem dificuldades econômicas e há a volta de protestos de rua contra Bolsonaro, fatores usualmente essenciais na equação dos impedimentos presidenciais.

Os golpes mais duros contra o Planalto saíram a partir da CPI da Covid, que ouviu citação ao líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Isso abriu a porta para novas revelações, como a acusação de um empresário de que houve pedido de propina numa tratativa sobre imunizantes, revelada pela Folha.

VERSÕES CONTRADITÓRIAS – A reação de Bolsonaro tem sido defensiva, alternando contradições de versões a acusações contra senadores da CPI e a imprensa.

Kassab defende que a alternativa a Bolsonaro, caso esteja no cargo, e ao líder de pesquisas Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 se chama Rodrigo Pacheco, o mineiro presidente do Senado que está de malas prontas do DEM para o PSD.

“Pessoalmente, quero ele candidato, mas o partido ainda vai se definir. Ele encarna renovação com experiência, tem muito talento. Se elegeu deputado e já foi presidir a Comissão de Constituição e Justiça. Logo depois, se elegeu senador e, na sequência virou presidente da Casa.”

Resta saber qual figurino Pacheco envergaria, dada sua pouca projeção nacional e a atitude ambígua ante o presidente, a quem evita criticar. Kassab diz que até maio não deverá haver nenhum nome despontando em pesquisas que não Bolsonaro e Lula.

LULA E OUTROS – Aliados do presidente do PSD dão de barato que, num segundo turno sem Pacheco ou outra alternativa, Kassab irá de Lula —afinal, antes de ser ministro de Michel Temer (MDB), ele ocupara uma pasta sob Dilma Rousseff (PT). Ele desconversa.

Kassab crê que o líder petista “vive um processo de vitimização”, com as sucessivas vitórias judiciais depois que saiu da cadeia. “Mas ele vai ter de apresentar seus projetos ainda”, afirma.

Sobre outros nomes da dita terceira via, vê o governador João Doria (PSDB-SP), de quem foi aliado, como alguém que pena com alta rejeição, apesar de ter a defesa da vacina como ativo. Ciro Gomes (PDT) “tem seus méritos, mas dificuldades de entrar à esquerda devido ao Lula, e com o centro ocupado”. Já outros citados, como o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), ele considera “cedo” para avaliar.

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