Pedro do Coutto
Para conter a perda de Bolsonaro na planície eleitoral, o Planalto claramente determinou ao ministro Marcelo Queiroga que anunciasse a vacinação das crianças de 5 a 11 anos de idade, como vem sendo feito no mundo, e como deseja a maioria da população e, portanto, do eleitorado brasileiro.
O bloco do Centrão, base de Bolsonaro no Congresso, revelou preocupação com o desgaste maior do presidente se ele permanecesse na sua posição negacionista e isolada da população. O temor do Centrão em perder votos está bem retratado em reportagem de Julia Lindner e Jussara Soares, edição desta terça-feira, no O Globo.
CONTRA AS VACINAS – O lance do governo voltou-se na realidade contra a vontade do próprio Jair Bolsonaro. Tanto assim que o presidente da República afirmou, está na mesma reportagem, que não vacinará a sua filha Laura de 11 anos de idade. Bolsonaro tem algo de profundo contra as vacinas e a própria vacinação. Não sei explicar o motivo.
Mas o fato é que a pressão popular interpretada por uma corrente governista desencadeou uma pressão irresistível sobre o Executivo, com reflexo da campanha eleitoral, e fez com que o ministro Marcelo Queiroga, que vinha colocando obstáculos seguidos à vacinação infantil, revelou Paula Ferreira no O Globo de ontem, fosse forçado a anunciar que a vacinação de crianças a partir de 5 anos deve começar em janeiro, provavelmente após o dia 5, para disfarçar o limite de tempo que havia fixado para conclusão da sombria consulta pública sobre a matéria de interesse social.
INSENSIBILIDADE – Bolsonaro, no episódio, demonstrou insensibilidade política, pois já deveria ter percebido e agido em função do intenso apoio popular à vacina contra a Covid-19 e contra a gripe Influenza. Basta ver que 165 milhões de brasileiros e brasileiras se vacinaram numa escala percentual bastante firme e reveladora de uma tendência em favor da vida humana.
Como Bolsonaro poderia ficar contra a imunização ? Difícil interpretar a razão. Mas foi o que ele fez e continua fazendo ao dizer que a sua filha de 11 anos não será vacinada. Esqueceu da sua mulher, Michelle Bolsonaro, que vacinou-se quando ambos estiveram em Nova York para a Conferência da ONU. Jogar-se contra a vacina num panorama como o brasileiro, em que morreram 610 mil pessoas em decorrência da pandemia, é uma loucura arrematada. Isso sob a ótica individual. Sob a ótica coletiva e política, significa jogar fora um novo mandato que a cada dia torna-se uma perspectiva mais distante.
Ontem, em artigo no O Globo, Merval Pereira focalizou o quadro político, admitindo o surgimento de uma terceira alternativa em decorrência do esvaziamento de Bolsonaro. Mas é difícil, a meu ver, a terceira via, sobretudo porque os acordos políticos na disputa dos governos dos estados, em reflexo do Datafolha e do Ipec, vão se deslocar para a chapa Lula-Alckmin porque, afinal de contas, os rios correm para o mar. A expectativa de chegar ao poder isola ideologias. Política é assim.
TÍTULOS DE APOSENTADORIA -Trata-se de mais um delírio fantasioso em deliberação da usina do ministro Paulo Guedes. O Tesouro lançaria um título a ser adquirido pelas pessoas físicas, a população, portanto, que daria direito à aposentadoria a quem o adquirisse daqui a trinta anos ou daqui a quarenta anos, dependendo de sua opção, uma vez que o resgate quatro décadas depois seria mais vantajoso. Um delírio.
A ideia de Paulo Guedes ressurge para anular o sistema atual de aposentadoria por um método de aquisição pessoal através da apólice do Tesouro.Quem assumiria esses papéis ? Só loucos. Ainda mais em um momento em que o governo faz aprovar pelo Congresso o calote dos precatórios que vencem no final deste ano, em 2022 e até em 2023. Se o governo não paga créditos originários de decisões judiciais, vai garantir o pagamento de títulos daqui a três décadas? Guedes é assim.
Títulos para os que trabalham, vencimento daqui a trinta anos. Títulos assumidos pelos bancos, regidos pela taxa Selic, resgate em trinta minutos. A questão da emissão de tais títulos foi focalizada por Adriana Fernandes, o Estado de S. Paulo de segunda-feira, por Idiana Tomazelli, Folha de S. Paulo de ontem, e por Geralda Doca, O Globo também de terça-feira.
REIVINDICAÇÃO – A Associação dos Magistrados Brasileiros – reportagem de Thiago Resende e Ana Tomazeli, Folha de S. Paulo, dirigiu documento ao ministro Luiz Fux, presidente do STF, para que endosse a reivindicação da magistratura federal no sentido de que os juízes e desembargadores, além dos ministros do STJ e do próprio STF, sejam incluídos no reajuste salarial proposto pelo presidente Jair Bolsonaro aos integrantes da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária e da Polícia Judiciária, órgãos vinculados ao Ministério da Justiça.
A reivindicação, entretanto, não fixa um percentual, mas a questão é que Bolsonaro autorizou o aumento, mas não fixou qual a porcentagem em sua entrada em vigor. Enquanto isso, o presidente do Fórum Permanente das Carreiras de Estado, Rudinei Marques, marcou para hoje, quarta-feira, uma reunião das lideranças dos servidores públicos para discutir o mesmo problema. Rudnei Marques disse que uma das propostas em discussão será uma greve de 24h a 48h para iniciar um processo de conciliação com o governo federal.
IGUAL PARA TODOS – A mesma iniciativa está sendo colocada em prática pelo secretário geral da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público, Sérgio Ronaldo da Silva. O movimento do funcionalismo federal era esperado, inclusive porque pelo artigo 37 da Constituição Federal o aumento do funcionalismo público tem que ser igual para todos, a partir da mesma data e com a mesma percentagem.
Distinguindo apenas a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária e a Polícia Judiciária, Bolsonaro, mantida essa posição, perderá muito mais votos do que aqueles que ele pensar que vai ganhar. Tal situação é fácil de prever, pois se baseia num princípio eterno dos seres humanos.
DIFICULDADE DE MORO – Malu Gaspar, O Globo, edição de ontem, revela que Sergio Moro está encontrando dificuldade para contratar um marqueteiro para a sua campanha e, a meu ver, dificuldade também para colocar a sua campanha nas ruas, nas telas da TV e da internet e nas páginas dos jornais. No caso do marqueteiro isso ocorre porque não é fácil encontrar financiadores. Afinal, ele prestou um serviço importante para o país de combater a corrupção que une políticos e empresários, exceções confirmando a regra.
Em segundo lugar, porque ele terá que descobrir uma mensagem a ser enviada ao eleitorado, o que seria muito mais fácil se ele não tivesse aceitado ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Além disso, foi o de reivindicar e não obter o controle do Coaf. O Coaf é um ponto estratégico para o universo político e empresarial. Ele detecta as transferências bancárias de difícil explicação e de depósitos no exterior, mais difíceis ainda de revelar e traduzir.
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