(Foto: Sidney Oliveira)
Os cidadãos de Tailândia retornavam ao município depois de terem saído de madrugada de suas casas para diversas consultas na capital. Não se sabe o destino do motorista da carreta, que morreu na hora, mas ele vinha no sentido Acará-Marituba. A parte do micro-ônibus atingida foi a do lado direito, a mesma onde há a porta de embarque e desembarque. Já a cabine da carreta foi atingida de forma frontal. As enormes bobinas de madeira soltaram-se da carroceria da carreta, correndo para a estrada. Algumas delas esmagaram alguns passageiros.
O motorista do micro-ônibus ficou sujo, mas aparentemente não se machucou muito, assim como as pessoas que vinham encostadas na janela oposta. A primeira viatura dos bombeiros chegou 10 minutos após o acidente, vinda do município de Marituba, e encontrou no local muitos gritos - de mulheres, crianças e adultos -, muita dor, a parte direita do ônibus bastante avariada e a cabine do caminhão, completamente destruída.
Até o fechamento dessa edição, 14 pessoas haviam dado entrada no Hospital Metropolitano, segundo sua assessoria de comunicação. Dos pacientes, quatro eram crianças.
Os adultos são, segundo informações da Agência Pará, Carlos Otávio Tavares da Silva, que obteve alta, Ismael Gonçalves Pereira, Eva dos Santos Bento, Antonia Braz Santiago, Daniel Barbosa Barbalho, Danila Mendonça Barbalho, Erismar de Souza Chaves, Francisco de Assis Araújo da Silva, Eliane Slongo, Antonia Linhares, criança de 8 anos, criança de 11 anos, criança de 3 anos, desconhecida, ainda não identificada, criança de 11 anos (morreu), Eunice Tavares da Silva (morreu). Desses, três estão em estado grave. Sete morreram no local do acidente.
À frente do resgate esteve a capitã Adriana, do Corpo de Bombeiros. “É uma área distante de todas as áreas onde temos base. Mas, mesmo assim, acreditamos que chegamos rapidamente, apesar de que a pista ficou completamente obstruída. Todos os pacientes, com escoriações leves ou graves, foram socorridos”, avaliou. O tenente Dantas, da Polícia Rodoviária Federal, conduziu o motorista sobrevivente até a Seccional de Marituba, para prestar esclarecimentos.Ele não quis dar declarações.
Lamúrias e perplexidade
Dona Simone do Socorro estava convalescendo na cama, um pouco febril. Estava chovendo muito. De repente um barulho que lembrava trovão a assustou. “Eu vim do meu quarto pensando que aquilo mais parecia batida de carro, e quando abri a janela, vi muitos corpos jogados e ouvi muitos gritos”, relatou ela que, mora em uma casa localizada em barranco bem em frente ao local do acidente, e, assim teve uma vista “privilegiada” da tragédia.
Moisés da Cruz, 27 anos, é portador de deficiência cognitiva. Ele esperava a chuva passar em um abrigo, sentado à cadeira, como sempre costuma fazer, para tentar quebrar o tédio, vendo carros indo e vindo. De repente, ele viu o micro-ônibus vindo para cima do caminhão, a pouco mais de cinco metros de onde estava. O choque. Os gritos. Uma criança voou pela janela. Ele acudiu. A criança não entendia nada do que estava acontecendo, e depois, não se sabe de que jeito, foi informada que o pai que a levava para o hospital morreu.
Enquanto as outras pessoas eram resgatadas, muita gente gritava, os corpos dos mortos eram amontoados no abrigo onde Moisés estava e a criança não chorava, não falava. Ela então, aparentemente não muito machucada, ou sem ânimo para dizer onde doía, foi colocada no banco da frente de um carro dos bombeiros. Ela foi a que mais atraiu pesar e gestos de solidariedade de motoristas e passageiros que davam vida a três quilômetros de engarrafamento.
Dentro do carro onde o menino estava, era socorrido o pedreiro Manoel Raimundo, 36 anos, que saiu de casa feliz porque finalmente havia chegado o dia da cirurgia da córnea que não o deixava trabalhar direito. A cirurgia seria no Centro de Oftalmologia de Belém. Seria, porque, ele que foi preparado pra ficar internado, teve que voltar na condução, pois a cirurgia havia sido adiada. “Na ida, minha mulher veio na janela, e eu no corredor. Quando foi na volta, eu falei ‘amor, minha vez’. Ela veio então no corredor. E ela só morreu por causa disso”, lamentou o pedreiro, que sentou na terceira poltrona da esquerda do veículo.
Ela era Raimunda Brilhante da Silva, 44 anos. Ela, que deixou três filhos, vinha comentando com ele que o motorista vinha bastante nervoso, porque havia brigado com os passageiros. Segundo o sobrevivente, o condutor se irritou porque a consulta de algumas pessoas demorou muito. Por isso ele teria vindo correndo muito, fazendo ultrapassagens perigosas, até que, tragicamente, teve que parar.
ACIDENTE PAROU ESTRADA
“Eu acho que foi um acidente”, “eu não sei o que tem pra lá”, “ih, se tem imprensa deve ter sido grave”, comentavam as pessoas que tiveram que conviver com o engarrafamento provocado pela tragédia. Num local onde o celular não tem sinal, as informações, como na forma mais rudimentar, iam passando de boca em boca, confusas, exageradas, imprecisas. Mas o clima pedia respeito, e sem buzinaços, todos resignaram-se, nos dois sentidos da Alça, a esperar o cessar do vai-vem de ambulâncias, viaturas, e etc.
“Eu, vez ou outra venho pra Belém pela Alça. Mas eu confesso que tenho medo”, admitiu o açougueiro Sandoval Peres, 53 anos, conformado no lugar dele, num micro-ônibus semelhante ao que colidiu, mas com destino à Vila dos Cabanos. (Diário do Pará)
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