Pedro do Coutto
O ministro Ricardo Levandowsky demorou cinco anos, mas, finalmente, na tarde de terça-feira, concluiu a tarefa de fazer a revisão do relatório de 2007, do ministro Joaquim Barbosa, que aceitou a denúncia do então Procurador Geral da República, Antônio Fernando de Souza, reunindo 38 acusados, que assim se transformaram em réus do processo do Mensalão.
Com isso, terminou a controvérsia envolvendo o ministro Carlos Ayres Brito, presidente do Supremo, e o revisor. Mas não se entende porque o escândalo que explodiu em 2005, levando o presidente Lula a demitir José Dirceu da Casa Civil, é tão complexo.
Em seguida, o então Procurador Geral da República, Antonio Fernando de Souza, encaminhou a denúncia ao STF, relacionando 38 acusados no processo. Concluiu sua tarefa em 2006 e Joaquim Barbosa aceitou a denúncia e preparou seu relatório, apresentando-o em 2007. Cinco anos são passados e o revisor escalado, Levandowsky ainda não conseguiu tempo para concluir a tarefa.
Primeiro propôs adiá-la para 2013. Houve forte reação contrária, já que este ano, 2012, aposentam-se compulsoriamente os ministros Ayres Brito e Cezar Peluso. Ayres Brito, preocupado com o prazo, dirigiu ofício a Levandowsky.
Reportagem de Carolina Brígido, O Globo de terça-feira, focalizou a controvérsia. A foto que acompanhou o texto foi de Givaldo Barbosa. Ayres Brito pediu rapidez. Levandowsky queixou-se de ter tomado conhecimento da comunicação (da urgência) pelos jornais, o que considerou uma descortesia. Não tem razão. Há quanto tempo o processo do Mensalão encontra-se em suas mãos?
Não foi informado de repente da matéria. Ela estava adormecida há praticamente cinco anos. E já que estamos falando de tempo, recordo o título de uma antiga coluna do Correio da Manhã, assinada pelo advogado e jornalista Aldovar Goulart, que cobria o Supremo Tribunal. Eis o belo título: eco ao longo dos meus passos.
Toda vez que passo pela Avenida Rio Branco e olho o antigo prédio da Corte, hoje ocupado pela Justiça Federal, me vem à cabeça a frase eco ao longo dos meus passos. O STF foi transferido para Brasília quando da mudança da capital, em abril de 1960. O eco, agora, na voz de Ayres de Brito, está ressoando no país. A sociedade há de perguntar, perplexa, qual a razão de um trabalho de revisão, mesmo tratando-se de mais de mil páginas, demandar sessenta meses e ainda não estar concluso, palavra do universo jurídico.
Um livro de mil páginas é um livro pesado, com tendência a ser de difícil leitura. Por certo. Mas não impossível de ser lido, relido e revisado. A releitura não implica, obrigatoriamente, em revisão. Se houver concordância quanto ao texto e as colocações originais do Procurador Geral, já por sua vez revistas e aceitas por Joaquim Barbosa, Levandowsky não precisa alterá-las. Sem dúvida. Sobretudo porque o trabalho de revisão é infinitamente mais simples que o de redação.
O exemplo mais emblemático encontra-se nas edições dos jornais. E também dos livros. Nenhum jornal circula sem que seja revisto. Nenhum livro é lançado por sua editora sem pelo menos uma rigorosa revisão, neste caso quanto à linguagem.
Nas obras de arte, a missão torna-se mais difícil e perigosa, principalmente nas traduções, porque em erro pode comprometer todo um contexto e até abalar uma obra.
Estou me referindo a obras herméticas como Ulisses, de James Joyce, Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, por sinal no fim do ano 2000, eleitas como as maiores realizações literárias do século que terminava. No plano da poesia, a vitória, disparada, coube à Terra Arrasada, de T.S. Elliot. Mas o relatório do Mensalão está imensamente mais para a clareza que para o hermetismo. Até porque relatórios, como o de Joaquim Barbosa, nada têm de herméticos ou obscuros. Pelo contrário, são de clareza total.
( Tribuna Da Internet )
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