A um mês do início do julgamento do mensalão, o “núcleo central da
quadrilha”, conforme definição do então procurador-geral da República
Antonio Fernando de Souza, combinou que o ex-tesoureiro do PT Delúbio
Soares deve assumir que partiu somente dele a iniciativa de formar o
caixa 2 para o financiamento de partidos e parlamentares que se
coligaram com os petistas nas eleições de 2002 e 2004.
Esse núcleo central, segundo o procurador, era formado por Delúbio, o
ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), o ex-deputado José Genoino e o
ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira. Este último fez acordo com o
Ministério Público e já cumpriu pena alternativa de 750 horas de
serviços comunitários.
O “núcleo central da quadrilha” foi citado 24 vezes por Souza na peça
que pediu a condenação dos envolvidos por crimes como formação de
quadrilha, corrupção ativa e passiva, evasão de divisas, lavagem de
dinheiro e peculato.
Ao afirmar que foi atrás do dinheiro que resultou no caixa 2 sem
pedir a autorização a ninguém, Delúbio fará mais do que manter o
silêncio sobre o escândalo. Ele abrirá o caminho para que José Dirceu
possa reafirmar, no Supremo Tribunal Federal (STF), que estava afastado
do partido, não acompanhava as finanças petistas e que não há no
processo uma única testemunha ou ato que o incrimine.
José Genoino, que era o presidente do partido, pretende reafirmar que
a presença de seu nome apareceu em dois empréstimos feitos pelo PT nos
bancos Rural e BMG, isso ocorreu por mera formalidade do cargo. Na
condição de presidente, deveria dar o OK a tal tipo de operação.
Na denúncia, Genoino é acusado de formação de quadrilha e corrupção
ativa, como Delúbio e Dirceu. A diferença entre eles é que Dirceu foi
chamado, na peça, de “chefe da quadrilha”.
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ADVOGADOS DISCORDAM
O acerto feito por Dirceu, Genoino e Delúbio chegou a causar um
estresse entre os seus advogados. De acordo com informações de
bastidores, Arnaldo Malheiros Filho, que defende Delúbio, discorda da
estratégia – a seu ver, ela vai incriminar seu cliente e facilitar a
vida dos outros dois. “É claro que esse assunto do pagamento da conta
dos partidos que se aliaram ao PT foi discutido pela Executiva Nacional
da legenda”, disse Malheiros Filho ao Estado. “Delúbio não fez nada
sozinho.”
Malheiros Filho contesta os argumentos do procurador-geral, baseados
no relato da CPI dos Correios. Segundo a comissão, do início do governo
Lula a 2005 foi montado um esquema de corrupção baseado na irrigação de
empresas de Marcos Valério de Sousa, que obteria contratos vantajosos do
governo e do PT em troca de devolver ao partido grandes quantias em
dinheiro. O PT usaria tais recursos para distribuir a parlamentares de
partidos aliados para que apoiassem projetos do governo.
“Que o Delúbio distribuiu dinheiro, distribuiu. Mas foi para pagar os
gastos de partidos aliados e não para comprar parlamentares. E tudo com
pleno conhecimento da cúpula do partido”, reafirmou o advogado. “No
mundo todo, compram-se aliados de forma diferente, oferecendo-lhes
cargos e não dinheiro, como se fala na acusação.”
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PEÇA DE FICÇÃO
Já o advogado José Luiz de Oliveira Lima, que defende José Dirceu,
afirmou que o ex-ministro não tinha a mínima ideia do que ocorria no PT,
pois estava envolvido com as atividades de governo. “Essa denúncia do
procurador-geral é a mais fantástica peça de ficção. É a maior
irresponsabilidade que já vi uma autoridade cometer em meus 22 anos de
carreira”, diz ele. “Não há uma única testemunha que fale de mensalão, a
não ser o ex-deputado Roberto Jefferson, cassado por mentir ao
Congresso”.
Por sua vez, o advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende José
Genoino, afirmou que o ex-presidente do PT vai permanecer em Brasília,
onde trabalha como assessor do Ministério da Defesa. “Ele continuará a
levar uma vida normal. Não vai alterar a agenda”, avisa Pacheco.
Segundo ele, Genoino não tem nada a ver com a movimentação financeira
feita por Delúbio. “Como presidente do partido, Genoino cuidava da
relação do PT com a bancada no Congresso, os entendimentos com a base
aliada e os movimentos sociais. Nunca tratava de assuntos que pudessem
envolver o financiamento de coligações”.
Para o advogado, em 2002, quando foi acertado que o PT financiaria o
PR, Genoino estava envolvido na disputa pelo governo de São Paulo,
eleição que perdeu para o tucano Geraldo Alckmin. “Depois, toda a cúpula
e a militância do partido sabiam que o PT entrou numa crise financeira.
Foi por isso que o Diretório Nacional delegou ao Delúbio a resolução do
problema, como tesoureiro, e coube ao Delúbio resolver isso. Quem tem
que responder por isso é o Delúbio”, disse o advogado, adiantando a
linha de defesa que sustentará no Supremo, durante o julgamento do
mensalão.
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