quarta-feira, 26 de setembro de 2012
80% dos moradores de rua de Fortaleza são do interior
Canteiros, praças e até paradas de ônibus viram "casas"; programas dão assistência à população
Margarida Leni é natural do Crato e segue, há dois anos, "morando" no canteiro central da Avenida Borges de Melo. Ismael Araújo, que vive em cima de uma parada de ônibus, na Avenida Pessoa Anta, com Gerliane Sousa, desde outubro do ano passado, é paraense. Assim como os dois, de acordo com informações da Secretaria Municipal de Ação Social (Semas), aproximadamente 80% da população em situação de rua na Capital cearense não é de Fortaleza.
Margarida Leni mora com um primo, um sobrinho e o cachorro no canteiro central da Avenida Borges de Melo. De acordo com a assessoria da Habitafor, ela deve receber o aluguel social no início de outubro Foto: Alcides Freire
Margarida Leni "mora" no canteiro central da Avenida Borges de Melo, no trecho em frente ao Terminal Rodoviário João Tomé, com o primo Flávio Henrique Nascimento da Silva, o sobrinho Francisco Jeciano da Silva e o cachorro vira-lata, chamado Pitbull. Segundo informações da assessoria de imprensa da Semas, ela tem indícios de problemas mentais.
Em agosto de 2011, o Diário do Nordeste registrou o caso de Margarida, que, na época, ainda morava sozinha nas ruas e acreditava se proteger da violência da noite escrevendo frases em ossos de galinha e bisteca de porco que sobravam das refeições.
Documentos
De acordo com o primo de Margarida, o problema para que eles consigam uma moradia digna é a falta de documentos. "Por ela já ter dado as informações antes para conseguir a casa, quando ela foi retirada de um terreno na Luciano Carneiro, ela não quer mais entregar seus dados. Mesmo a Margarida tendo problemas mentais, eu não posso ser o responsável por ela, porque fui assaltado e não tenho mais nenhum documento e nem tenho dinheiro para a segunda via", explica, mostrando o Boletim de Ocorrência, que comprova o extravio dos documentos, inclusive a certidão de nascimento.
Para os comerciantes do entorno da "casa" dessa família, o grupo não representa perigo. "Eles deveriam ser retirados do canteiro central para um abrigo porque é até perigoso para eles", diz o frentista Jerry Sousa.
Acostumado a passar de carro naquele trecho da Avenida Borges de Melo, o professor aposentado Nilo Rangel concorda. "Eles não incomodam ninguém e deveriam ter a sua moradia. Faz tempo que eles estão nessa situação", destaca.
Na Praça General Tibúrcio, mais conhecida como Praça dos Leões, um grupo de mais de dez pessoas aproveita a sombra das árvores frondosas como abrigo.
Benefício
De acordo com a assessoria de imprensa da Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor), no início de outubro, Margarida Leni será beneficiada com o aluguel social e, posteriormente, será encaminhada para uma unidade em algum conjunto habitacional.
A demora na concessão desse benefício se deu por conta dos indícios de problemas mentais, que fizeram com que ela se recusasse a ir para essa casa.
O aluguel social beneficia, hoje, 400 moradores de Fortaleza. O benefício é concedido em caso de pessoas que perderam suas moradias ou estão em áreas de risco iminente, como, por exemplo, Margarida Leni, que está em situação de rua.
A casa é escolhida pela família, juntamente com agentes sociais, e a Prefeitura concede um valor mensal de até R$350,00 por seis meses, que pode ser renovado por igual período, até a família ser removida para a residência definitiva.
SAIBA MAIS
Serviços oferecidos
Centropop
Centro de Referência Especializado de Assistência Social para Pessoas em Situação de Rua. Funciona de segunda a sexta, das 8h às 17h, na Rua Antônio Pompeu, Centro, e oferece desde o banho até atendimento jurídico
Espaço de Acolhimento Noturno
Funciona todos os dias, inclusive feriados e fins de semana, das 18h às 7h
Serviço Especializado de Abordagem de Rua
Percorre os principais pontos de Fortaleza e tem equipe atuando nos três turnos, de segunda a sexta-feira
Consultório de Rua
Unidade móvel que atende pessoas em situação de rua por motivos de drogadição.
Também há atendimentos nos Centro de Atenção
Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-AD) e pelo Núcleo de Atendimento à Saúde da Família (Nasf)
Projeto Ponte de Encontro
Atende exclusivamente a crianças e adolescentes, oferecendo, inclusive, abrigamento
KELLY GARCIA
REPÓRTER/Diário do Nordeste
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