Carlos Chagas
Importa repetir o provérbio árabe de que bebe água limpa quem chega primeiro na fonte. Num comício em Mauá, segunda-feira, o ex-presidente Lula agradeceu a Deus por estar curado e fez novo pedido de graça: reeleger Dilma Rousseff em 2014.
Lula em campanha
Dois anos atrás o primeiro-companheiro foi responsável pela integral eleição da sucessora. Sem ele, Dilma talvez não se elegesse deputada. Com ele, virou presidente da República. De lá para cá, afirmou-se e conquistou popularidade própria, ainda que nem por isso deixe de reverenciar e seguir instruções do antecessor. Começa que jamais se candidataria a um segundo mandato caso o Lula manifestasse o menor desejo de voltar ao palácio do Planalto daqui a dois anos. Como ele tem repetido inúmeras vezes ter ela o direito de reeleger-se, abre-se ampla avenida para o repeteco.
Só que agora o trajeto será diferente. Aclives e declives imprevistos desdobram-se diante de Dilma, a começar pelo distanciamento do Lula do contacto direto com o eleitorado. Menos até por conta de uma suposta derrota de seu candidato à prefeitura de São Paulo. Em parte a presidente necessitará apoiar-se nas próprias forças, mesmo com o suporte ainda extraordinário do Lula.
As realizações do governo pesarão de modo especial, mas será preciso assegurar sua base política. O PT, de quando em quando amuado pela falta de domínio da administração federal, será imprescindível. Dele não se duvida. O PMDB, da mesma forma, prepara-se para repetir a dobradinha, com Michel Temer novamente de vice. Haverá, porém, que trabalha muito o PSB, o PDT, o PDT, o PC do B e penduricalhos. De quando em quando eles se afastam mas encontram-se sem outra saída, apesar dos arroubos do governador Eduardo Campos.
O perigo pode surgir do casamento de dificuldades econômicas com uma previsível renovação no PSDB. Aécio Neves parece mais à vontade, depois da incerteza que atinge a candidatura de José Serra à prefeitura de São Paulo. Dificilmente Celso Russomano, se eleito como indicam as pesquisas, deixaria de formar com o bloco governista no pleito federal.
De qualquer forma, a hora é de a presidente Dilma começar a formar o grupo de gestão de sua segunda candidatura. Com o Lula de presidente de honra, é claro, mas com gente de sua criação.
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DANDO A VOLTA POR CIMA
Uma leitura especial do repetido lançamento da reeleição de Dilma no palanque de Mauá, pelo Lula: preparado para a derrota de Fernando Haddad, em vez de acomodar-se, o ex-presidente avança no tabuleiro. Deixa entrever que do dia 7 em diante, se seu candidato não passar ao segundo turno, novo objetivo logo concentrará suas atenções: o segundo mandato da sucessora.
Traduzindo: o homem é de luta, mesmo acutilado pelos efeitos do julgamento do mensalão. Vai dar a volta por cima. A experiência demonstra que já tendo sido derrotado algumas vezes, sempre partiu para o ataque, estratégia que costuma dar certo.
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GUAMPADA DE BOI MANSO
Já nos estertores do Estado Novo, em 1945, Getúlio Vargas foi surpreendido pela defecção do governador Benedito Valadares, que se aproximou dos militares já empenhados na conspiração para depor o ditador. Comentário de Getúlio, bem ao gosto de suas origens campestres: “Guampada de boi manso…”
Mais ou menos assim pode ser interpretada a súbita demissão de Sepúlveda Pertence da Comissão de Ética da presidência da República. A presidente Dilma não esperava do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal uma reação assim tão abrupta, mesmo por conta dele ter sido contrariado na designação de dois integrantes da comissão. Afinal, sua presença no contingente de reserva do governo, nem por isso menos importante, fazia supor até mesmo seu aproveitamento no ministério da Justiça, caso os ventos de mudança soprassem sobre José Eduardo Cardoso. Para a presidente, uma decepção. Para Sepúlveda, um gesto imprevisível mas jamais letal.
( Tribuna da Internet )
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