segunda-feira, 3 de setembro de 2012

FHC e Dilma batem boca por escrito sobre seus governos



Em artigo, Fernando Henrique disse que Dilma recebeu uma “herança pesada” de Lula. Em nota, a presidenta responde que, na sua herança, não havia apagão elétrica nem intervenção do FMI, referindo-se a mazelas do governo FHC

Antonio Cruz/ABr
A discussão por escrito entre Dilma e Fernando Henrique quebra o clima cordial que a presidenta até então mantinha com o ex-presidente

A presidenta Dilma Rousseff (PT) reagiu nesta segunda-feira (3) a artigo do ex-presidente Fernando Henrique (PSDB) que afirmou que o governo da petista suporta uma “herança pesada” deixada pelo antecessor no Palácio do Planalto, o ex-presidente Lula. Em nota divulgada na tarde de hoje, a presidenta respondeu que, na verdade, recebeu uma herança “bendita” de Lula. E comparou a situação deixada por Lula com aquela que, na sua ótica, caracterizou o governo FHC. Quando ela assumiu, provocou Dilma, o país não estava sob ameaça de um apagão elétrico, como o que assolou o Brasil em 2001, e nem sob intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI), já que, durante os anos comandados pelo tucano, o país permaneceu como devedor da instituição financeira. Ela afirmou que o passado deve ser olhado como “lição” e não como “ressentimento”. Em seu artigo, FHC afirma que o governo Dilma herdou uma crise moral. “Lá se foram oito ministros, sete dos quais por suspeitas de corrupção”, escreveu o tucano, jogando a responsabilidade em Lula, ao definir a composição do atual ministério de acordo com alianças eleitorais firmadas em 2010. Fernando Henrique ainda lembra que o mensalão  é “dor de cabeça”. Na nota, Dilma não comenta as acusações de crise moral, corrupção e mensalão. O Palácio do Planalto tem evitado se envolver no julgamento do Supremo Tribunal Federal.
Fernando Henrique critica ainda a situação econômica e de investimentos do Brasil, culpando Lula novamente por isso. Afirmou que o ex-presidente não aproveitou as boas taxas de crescimento do PIB e apenas aumentou o crédito e os salários, sem acelerar as parcerias com o setor privado, retomar as concessões de serviços públicos e reduzir os impostos. FHC ainda critica a demora nas mudanças na Previdência dos servidores, realizada apenas por Dilma, a construção de estaleiros com dinheiro do BNDES e da Petrobras, as usinas hidrelétricas que não funcionam com capacidade total o ano inteiro, os aumentos de custos da refinaria de petróleo em Pernambuco e os gastos com importação de óleo.
Em resposta, Dilma afirma que recebeu de Lula uma economia “sólida” com crescimento “robusto”. “Recebi um país mais justo e menos desigual, com 40 milhões de pessoas ascendendo à classe média, pleno emprego e oportunidade de acesso à universidade a centenas de milhares de estudantes”, rebateu na nota. Dilma reforça a maior importância que o Brasil possui hoje na comunidade internacional. E afirma ser preciso olhar o passado com os olhos no futuro, sem ressentimentos. “Aprendi com os erros e, principalmente, com os acertos de todas as administrações que me antecederam. Mas governo com os olhos no futuro.
O bate-boca por escrito entre Dilma e Fernando Henrique quebra um clima mais ameno entre os dois até agora. Ao contrário do que acontecia com Lula, Dilma vinha tentando estabelecer uma relação cordial com o ex-presidente. Os ataques feitos por ele, e as repostas de Dilma, em nota oficial, num momento de proximidade das eleições municipais, alteram esse quadro.

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