Carlos Chagas
Virtualmente afastada a hipótese de o novo ministro do Supremo, Teori Zavascki, vir a pedir vistas do processo do mensalão, como deixou claro no meio-depoimento prestado à Comissão de Constituição e Justiça do Senado, a pergunta que se faz refere-se às consequências da possível condenação à prisão de figuras exponenciais do PT. Como reagirá o partido, por exemplo, no caso de José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, João Paulo Cunha e outros se verem sentenciados a reclusão em regime fechado?
Zavascki de fora
Demonstram a experiência e o modo de ser do partido sua obstinação em não voltar atrás nem reconhecer erros passados. Assim, os companheiros insistirão em que o mensalão não existiu e que seus antigos líderes terão sido injustiçados. Que a mais alta corte nacional de justiça deixou-se enganar pela conspiração de setores conservadores e da imprensa empenhada em desfazer a obra do ex-presidente Lula. Mesmo irreais, essas acusações vão inaugurar o próximo biênio, onde se desenvolverão as preliminares e os finalmente da próxima sucessão presidencial. O acirramento dos ânimos será uma constante a partir de 2013, por certo que também alimentado pelas oposições.
A temperatura vai subir, cada vez que fotografados de perto ou de longe os singulares presidiários de um suposto futuro. Aliás, os petistas e os outros, com Valdemar Costa Neto, Roberto Jefferson e bem mais gente.
Admitirá o Supremo Tribunal Federal recolher a luva que lhe será lançada no rosto? Provavelmente, não, mas mesmo assim ocupará um dos pólos do confronto. Em especial se o Procurador Geral da República der seguimento ao processo, formulando novas denúncias contra novos mensaleiros. Imagine-se a inclusão do Lula no rol dos denunciados, como tendo tido conhecimento e até estimulado a lambança.
No meio do tiroteio estará a presidente Dilma, fidelíssima ao antecessor mas em momento algum vinculada ao julgamento da ação penal 470 e seguintes. Haverá prejuízo para sua administração e seus planos de governo. Jamais, no entanto, para sua tentativa de reeleição.
PSDB e penduricalhos não poderão ficar de braços cruzados. Buscando retornar ao poder, os tucanos deverão bater firme no PT, no Lula e em sua candidata. Pode não ser da natureza de Aécio Neves deitar gasolina no fogo, mas sabe que o papel de bombeiro será fatal às suas pretensões. É provável que reme com a maré.
Nessa hora quem sabe se repetirá o fenômeno Russomanno, em pleno desenvolvimento, ou seja, aparecerá uma terceira via de dimensões nacionais, na qual a maioria da opinião publica apostará seus cacifes. Afinal, a contenda centralizada entre companheiros, de um lado, e tucanos, de outro, poderá não ter nada a ver com as forças em choque. Pelo contrário, a população costuma dar mostras de não seguir a ortodoxia partidária. Será sempre bom lembrar que o país rejeitou tanto Ulysses Guimarães quanto Paulo Maluf, decidindo-se por Fernando Collor, nas eleições de 1989, deixando aberta a janela por onde mais tarde o Lula passaria.
Quanto a especular quem poderia ocupar essa faixa entre Dilma e Aécio, nem com bola de cristal. Até porque as variáveis ainda favorecem a presidente e o senador. Mas é bom tomarem cuidado…
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DELFIM EM SOCORRO DE LULA
Em seu artigo das quartas-feiras, Delfim Netto chegou de espada desembainhada. Denunciou aleivosias genéricas para destruir a imagem do Lula, ignorando os avanços sociais e econômicos registrados em seu governo. É bom prospectar as causas, quando o ex-ministro envereda pela política, momentaneamente arquivando a economia. Fala, ou escreve, por ele e por razoável segmento das forças produtivas. Não dá ponto sem nó, como diziam nossos avós. Exprime o sentimento das elites que em maior ou menor grau satisfizeram-se com a administração do ex-presidente.
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CONTRA A OPERAÇÃO CONDOR
Decidiu a Comissão da Verdade investigar a fundo a participação do Brasil na Operação Condor, que durante os anos de chumbo uniu os serviços de informação, segurança e repressão das então ditaduras sul-americanas. Cooperaram o extinto Serviço Nacional de Informações e seus sucedâneos na Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai. O importante a saber é se limitavam seu entendimento à troca de denúncias sobre os naturais de um país atuando nos outros ou se realizavam operações conjuntas de perseguição aos grupos que se opunham aos regimes de força.
Mais grave ainda será perscrutar a participação dos Estados Unidos na deletéria orquestração, através da CIA e congêneres. Muita coisa poderá vir à tona em matéria de tortura, sequestros, assassinatos e similares, se houver cooperação por parte dos governos dos países referidos, hoje todos aferrados à democracia.
( Tribuna da Internet )
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