Carlos Chagas
A decisão do Supremo Tribunal Federal de que o mensalão serviu para a compra de votos no Congresso deixa poucas dúvidas sobre a condenação dos réus acusados de corrupção ativa: José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares e outros. É a desmoralização do argumento de que o dinheiro servia para pagar despesas de campanhas eleitorais anteriores. Foi ação de bandoleiros, como votou o ministro Celso Mello.
A projeção que se faz a partir dessa evidência refere-se menos ao futuro dos mensaleiros, hóspedes garantidos de cadeias públicas, mais à sorte do PT daqui por diante. As sentenças ainda incompletas poderão influir nas eleições de domingo, mas serão muito mais perigosas no segundo turno, dia 28.
É claro que os companheiros ainda dispõem de seu grande trunfo, o ex-presidente Lula, mas o tecido do partido parece esgarçado. Os candidatos contrários aos poucos que o PT conseguir apresentar na rodada decisiva encontraram desde já um denominador comum para seus palanques: o mensalão. Claro que outros fatores pesarão para o eleitor definir-se, entre eles o perfil e as qualidades dos indicados. Ficará impossível, porém, que os petistas venham a ignorar o escândalo, deixando de emitir suas opiniões, presumidas sem muita consistência.
Quanto a 2014, é outra história. A presidente Dilma, sem maiores convicções partidárias, sabe que a reeleição dependerá muito mais dela. Mantidos na segunda metade do governo os conceitos de ótimo e bom para sua administração, estará a um passo da vitória, mesmo se na campanha futura o mensalão vier a constituir-se num dos grandes temas em debate. Sua reeleição, porém, servirá para o PT manter a condição de maior bancada na Câmara? Para aumentar sua representação no Senado? Dificilmente. Vale o mesmo para os governos estaduais, onde o partido já não se destaca em número de governadores. Hoje tem três, não propriamente em estados de importância política ou econômica. Em suma, estão em xeque o PT e seu futuro.
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DERROTADOS E VITORIOSOS
Parece óbvio ser o PT o grande derrotado nas tertúlias do mensalão, mas quais os vitoriosos? Em termos éticos e patrióticos, o Supremo Tribunal Federal, mas no plano político-partidário? Erra quem supuser o PSDB e seus penduricalhos. A performance de José Serra como candidato a prefeito de São Paulo dá o tom das dificuldades tucanas. A presença de pequenos partidos em ascensão poderá constituir-se numa surpresa, jamais uma certeza. Faltam-lhes líderes de expressão nacional, mesmo o governador Eduardo Campos, do PSB, sem maior penetração da Bahia para baixo. O que dizer do PSOL, do PDT, do PTB, do PP e do PR, muitos até envolvidos na lambança petista.O mais provável é que os chamados grandes partidos não lucrem com o julgamento na mais alta corte de justiça, e que os pequenos careçam de espaço e tempo para ocupar seus lugares.
Um nivelamento por baixo, no quadro partidário, servirá para as entidades da sociedade civil recuperarem o tempo perdido na última década? Erra quem estiver pensando em CUT, Força Sindical e congêneres. Foram derrotados pelo PT, que agora se queda pálido e exangue. OAB, ABI e CNBB dão mostras de haver interrompido ascendentes trajetórias anteriores. Dos militares nem haverá que falar, consciente e felizmente afastados do centro do palco. O empresariado cuida mais de salvar-se dos efeitos da crise econômica e as ONGs locupletaram-se tanto, com as exceções de sempre, que perderam condições de influência.
Vitorioso, mesmo, só o cidadão comum, feliz com a derrocada da impunidade. Como diria Leonel Brizola, se estivesse entre nós: “ganhou o povo brasileiro”. ( Tribuna da INternet )
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