Sandra Starling
Por alguma razão que não sei precisar, amanheci pensando com quem, em
minha vida, havia me surpreendido positivamente com o que fez ao ganhar
uma eleição. Só consegui me lembrar de uma única pessoa, em quem não
votei, mas cujo governo me fez realmente ver diferenças significativas.
Sonhei com esse governo durante toda a noite passada. Foi o governo do
então petista Cristovam Buarque, no Distrito Federal.
Devo confessar que, até hoje, lamento um voto que nunca dei:
Cristovam Buarque para governador, em 1994. Eu votava em Minas, e não em
Brasília. Mas Cristovam me surpreendeu.
Por várias razões: em primeiro lugar, porque, quando saía à noite do
Congresso Nacional, comecei a perceber que haviam sumido das ruas os
menores que vendiam todo tipo de bugigangas entre as mesas na calçada de
restaurantes e bares de Brasília. Entre eles, havia crianças vendendo
panos de prato, bombons e bonecas. Eu ficava no maior aperto no coração,
pensando que qualquer deles poderia ter sido meu filho ou um dos meus
netos.
Em segundo lugar, porque, procurando entender onde teriam ido parar
aqueles menores, fiquei sabendo de seu programa de Bolsa Educação, que, a
julgar por seu último artigo, publicado no domingo, dia 21, ele já não
considera uma política pública capaz de ajudar, efetivamente, a promover
a justiça social. Portanto, Cristovam não se compraz, não se deita
sobre os feitos que deram fama a ele e a outros, inclusive a Lula. Ele
continua a buscar soluções.
Em terceiro lugar, porque ele conseguiu realizar meu velho sonho de
fazer da travessia das ruas um procedimento seguro para as pessoas, e
não um espaço privilegiado das motos e dos automóveis. Lembro-me de
quando começou essa verdadeira revolução. Havia ainda um problema
peculiar na capital federal: a péssima qualidade do asfalto das ruas
fazia com que, nas primeiras chuvas, os carros deslizassem como se
estivessem sobre quiabos, e as colisões eram frequentes. Era um
transtorno. Um perigo que a gente via por todo lado.
O governador exigiu a observância dos limites de velocidade na malha
urbana, colocou “pardais” e, o melhor de tudo, iniciou uma campanha para
educar pedestres e motoristas a respeitarem primeiro a vida e, depois, a
velocidade dos que querem se locomover nos grandes centros. Faixas, com
e sem sinais, foram colocadas nas ruas e nas avenidas. Bastava o
pedestre esticar o braço para fazer pararem todos os carros em
circulação e poder atravessar sem sobressaltos. De início, antes da
aplicação de multas, a advertência pedagógica. Depois de certo tempo, as
pessoas começaram a ganhar confiança na nova ordem e a atravessar sem
medo. Depois, foi preciso até coibir o excesso de desordem, ocasionado
pelos que achavam que bastava pôr o pé no chão e decretar a freada dos
veículos.
Quero, com isso, dizer: ainda há gente que consegue governar pensando, antes de tudo, em nosso próprio bem-estar. ( Tribuna da Internet )
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