O jornalista Mauro Beting, filho de
Joelmir Beting, estava no ar pela Rádio Bandeirantes quando recebeu a
notícia sobre a morte de seu pai. Ele conteve as lágrimas e fez uma
homenagem lendo uma carta no início da madrugada desta quinta-feira
(29).
Joelmir morreu no início da
madrugada desta quinta, aos 75 anos. Ele estava internado desde o dia 22
de outubro no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e, no
domingo (25), sofreu um acidente vascular encefálico hemorrágico (AVE).
Leia abaixo a íntegra da carta:
Nunca
falei com meu pai a respeito depois que o Palmeiras foi rebaixado. Sei
que ele soube. Ou imaginou. Só sei que no primeiro domingo depois da
queda para a Segunda pela segunda vez, seu Joelmir teve um derrame antes
de ver a primeira partida depois do rebaixamento. Ele passou pela
tomografia logo pela manhã. Em minutos o médico (corintianíssimo) disse
que outro gigante não conseguiria se reerguer mais.
No
dia do retorno à segundona dos infernos meu pai começou a ir para o
céu. As chances de recuperação de uma doença autoimune já não eram boas.
Ficaram quase impossíveis com o que sangrou o cérebro privilegiado.
Irrigado e arejado como poucos dos muitos que o conhecem e o reconhecem.
Amado e querido pelos não poucos que tiveram o privilégio de
conhecê-lo.
Meu pai.
O melhor pai que um jornalista pode ser. O melhor jornalista que um filho pode ter como pai.
Preciso dizer algo mais para o melhor Babbo do mundo que virou o melhor Nonno do Universo?
Preciso.
Mas não sei. Normalmente ele sabia tudo. Quando não sabia, inventava
com a mesma categoria com que falava sobre o que sabia. Todo pai é assim
para o filho. Mas um filho de jornalista que também é jornalista fica
ainda mais órfão. Nunca vi meu pai como um super-herói. Apenas como um
humano super. Só que jamais imaginei que ele pudesse ficar doente e
fraco de carne. Nunca admiti que nós pudéssemos perder quem só nos fez
ganhar.
Por isso sempre acreditei no meu pai e no time dele. O nosso.
Ele
me ensinou tantas coisas que eu não sei. Uma que ficou é que nem todas
as palavras precisam ser ditas. Devem ser apenas pensadas. Quem fala o
que pensa não pensa no que fala. Quem sente o que fala nem precisa
dizer.
Mas hoje eu preciso agradecer pelos meus 46 anos. Pelos 49 de amor da minha mãe. Pelos 75 dele.
Mais
que tudo, pelo carinho das pessoas que o conhecem – logo gostam dele.
Especialmente pelas pessoas que não o conhecem – e algumas choraram como
se fosse um velho amigo.
Uma
coisa aprendi com você, Babbo. Antes de ser um grande jornalista é
preciso ser uma grande pessoa. Com ele aprendi que não tenho de
trabalhar para ser um grande profissional. Preciso tentar ser uma grande
pessoa. Como você fez as duas coisas.
Desculpem, mas não vou chorar. Choro por tudo. Por isso choro sempre pela família, Palmeiras, amores, dores, cores, canções.
Mas
não vou chorar por algo mais que tudo que existe no meu mundo que são
meus pais. Meus pais (que também deveriam se chamar minhas mães) sempre
foram presentes. Um regalo divino. Meu pai nunca me faltou mesmo ausente
de tanto que trabalhou. Ele nunca me falta por que teve a mulher
maravilhosa que é dona Lucila. Segundo seu Joelmir, a segunda maior
coisa da vida dele. Que a primeira sempre foi o amor que ele sentiu por
ela desde 1960. Quando se conheceram na rádio 9 de julho. Onde fizeram
família. Meu irmão e eu. Filhos do rádio.
Filhos
de um jornalista econômico pioneiro e respeitado, de um âncora de TV
reconhecido e inovador, de um mestre de comunicação brilhante e
trabalhador.
Meu pai.
Eu
sempre soube que jamais seria no ofício algo nem perto do que ele foi.
Por que raros foram tão bons na área dele. Raríssimos foram tão bons
pais como ele. Rarésimos foram tão bons maridos. Rarissíssimos foram tão
boas pessoas. E não existe outra palavra inventada para falar quão raro
e caro palmeirense ele foi.
(Mas sempre é bom lembrar que palmeirenses não se comparam. Não são mais. Não são menos. São Palmeiras. Basta).
Como
ele um dia disse no anúncio da nova arena, em 2007, como esteve escrito
no vestiário do Palmeiras no Palestra, de 2008 até a reforma: “Explicar
a emoção de ser palmeirense, a um palmeirense, é totalmente
desnecessário. E a quem não é palmeirense… É simplesmente impossível!”.
A
ausência dele não tem nome. Mas a presença dele ilumina de um modo que
eu jamais vou saber descrever. Como jamais saberei escrever o que ele é.
Como todo pai de toda pessoa. Mais ainda quando é um pai que sabia em
40 segundos descrever o que era o Brasil. E quase sempre conseguia. Não
vou ficar mais 40 frases tentando descrever o que pude sentir por 46
anos.
Explicar quem é Joelmir Beting é desnecessário. Explicar o que é meu pai não estar mais neste mundo é impossível.
Nonno, obrigado por amar a Nonna. Nonna, obrigado por amar o Nonno.
Os filhos desse amor jamais serão órfãos.
Como
oficialmente eu soube agora, 1h15 desta quinta-feira, 29 de novembro.
32 anos e uma semana depois da morte de meu Nonno, pai da minha
guerreira Lucila.
Joelmir José Beting foi encontrar o Pai da Bola Waldemar Fiume nesta quinta-feira, 0h55.
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