(Foto: Daniel Pinto)
Nas mãos de
Deus”, diz o letreiro exposto em um mercadinho localizado na avenida
Perimetral, no bairro da Terra Firme, em Belém. O estabelecimento já foi
assalto duas vezes desde que foi aberto, há oito anos. Hoje, comprar
ali somente através das grades, trancadas por cadeados grandes. Isto
reforça também o medo que sente a proprietária Maria Brito de abrir o
comércio diariamente. “Por isso que eu digo que as nossas vidas e o
nosso trabalho está ‘nas mãos de Deus’, porque nunca sabemos quando
(outro assalto) pode acontecer novamente”.
O gesto de Maria - colocar grades e trancas
-, é um exemplo que confirma a sensação de insegurança dos paraenses
apontada na pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), que mostrou que a população da região Norte do Brasil é a que
mais se sente insegura.
Os índices revelam que mais da metade dos
nortistas (51,2%) não se sentem segura nas cidades onde moram e quase
30% dos que participaram da pesquisa responderam que se sentem inseguros
até dentro de suas próprias casas. Cerca de 40% desses habitantes
também não conseguem sentir segurança nos bairros onde moram. Os dados
são da Síntese de Indicadores Sociais 2012 (SIS).
O IBGE utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2009) referentes ao tema Vitimização e Justiça.
Segundo a pesquisa, o Pará é o Estado que
concentra o maior índice de pessoas que convivem com a sensação de
insegurança. Exatos 63,1% dos paraenses não se sentem seguros nas
cidades onde moram. Das pessoas ouvidas, 51% consideram perigosos os
bairros onde moram. Pouco mais de 35% da população paraense não consegue
se sentir segura nem dentro da própria casa.
No que se refere à sensação de insegurança
nas cidades, o Pará fica, por exemplo, à frente do Acre – que registrou
um percentual de 54,7% - e do Amazonas – que atingiu a média de 45,6% da
população com medo nas cidades.
O medo de morar numa cidade como Belém é
facilmente constatado nas ruas, com casas de muros altos, cercas
elétricas, grades reforçadas e câmeras de vigilância. Na Perimetral, por
exemplo, a reportagem encontrou duas igrejas evangélicas também com as
grades reforçadas.
GRADES
GRADES
Mas nem mesmo estas estruturas inibem a ação
dos bandidos. Roseane Gomes, 35, se surpreendeu ao chegar em sua
lanchonete, que fica no terminal da Universidade Federal do Pará (UFPA),
e verificar que por pouco a porta não foi arrombada. Os criminosos
quebraram o concreto que prende a grade na tentativa de saquear o
estabelecimento. “Eles tentaram arrancar a grade. Aqui a gente não
trabalha tranquilo. Me sinto sobressaltada o tempo todo, porque até
quando a gente registra boa venda eles ficam de olho”.
MEDO
MEDO
Ainda no terminal da UFPA, a universitária Jéssica Tavares, caminhava em passos ligeiros e com a bolsa agarrada em seu colo.
Questionada se este seu comportamento
refletia o medo de andar por Belém, ela imediatamente confirmou. “Eu não
me sinto nem um pouco segura”.
Quando está em casa Jéssica ressalta que a
sensação de insegurança diminui, porém, isto só aconteceu depois que ela
se mudou para um condomínio fechado, junto com a família. “O
residencial tem cerca elétrica, câmera de vigilância e está bem
localizado”.
O comerciante Keidson Leal, 25, relatou que
já foi assaltado na porta de casa, quando chegava do trabalho. “Eles
levaram o meu telefone celular. Foi uma ação muito rápida que nenhum
vizinho chegou a ver”, lembra. A residência, segundo a vítima, possui
muros altos e está totalmente gradeada, mas depois do assalto não
consegue mais viver tranquilo.
“A gente não se sente inseguro, nós estamos
sem segurança”, respondeu, quando perguntado se sentia seguro em morar
em Belém, mais precisamente na Terra Firme. “Só consigo ficar tranquilo,
quando vejo muitas pessoas conhecidas por perto. Aí a sensação de
insegurança diminui”.
(Diário do Pará)
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