quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Copa do Mundo: espetáculo sectário, autoritário, perdulário




Helio Fernandes


A partir da Olimpíada de 1920, messiê Jules Rimet aumentou sua obsessão de realizar uma competição de futebol que não fosse subordinada a nenhum evento, tivesse vida própria. Assistiu à Olimpíada de 1924, ganha pelo Uruguai, à de 1928, também vencida pelo Uruguai, que se consagrou como a “Celeste Olímpica”.





Em 1930 concretizou seu sonho, a primeira Copa do Mundo foi no Uruguai, pelo passado e pelo presente. O Uruguai completava 100 anos da Independência. Eram 8 países convidados, não existia eliminatória, nem estádios assombrosos, luxuosos, suntuosos. Apenas o Estádio Centenário, que existe sem reformas altamente custosas.
O tempo passou, chegamos à realidade de agora. No momento vários países disputam sediar a Copa de 2026, a de 2030 já está prática e justamente destinada: será no Uruguai-Argentina, uma parceria. Principalmente para a Fifa que já patrocinou um fracasso total, jogado entre Japão e Coréia do Sul. Sete horas de avião de um país para outro, moeda diferente, língua idem, e por aí vai.
A de 2026, luta enorme entre México e EUA. Por que essa antecedência, se antigamente o anfitrião era indicado entre 5 e 6 anos antes. Preponderância da corrupção e do poder financeiro. Por causa disso, a Fifa mudou seus hábitos, escolheu no mesmo dia (inédito e surpreendente) duas sedes. Rússia 2018. Qatar 2022. O dinheiro “correu solto”. (Parecia até a reeleição de FHC).
A escolha da Rússia, no distante 2018, e a do Qatar, no mais longínquo 2022, acusações que correram o mundo. Blatter, um dos acusados, aproveitou para expulsar os adversários, contabilizou (ou contaminou) mais uma reeleição. De simples funcionário (amanuense), se transformou em riquíssimo personagem esportivo.
O AMANUENSE BLATTER
Tem um plano de saúde para sempre, ao custo de 300 mil dólares. Aposentadoria majestosa, salários mensais ou anuais, que não consegui descobrir de quanto é. Fora as mordomias, avião especial, por que iria se misturar com a plebe vil e ignara?
Com toda essa deficiência de competência e de caráter, se permite fazer exigências a um país como o Brasil, que aceita tudo, incluindo mudanças constitucionais. Lembrando seu secretário-geral, Jerome Valcke, que disse para todo mundo ouvir: “O Brasil deveria levar um pontapé no traseiro”. Inacreditável, continuam vindo ao país, dando ordens ou fazendo restrições.
A Copa do mundo geralmente não deixa “herança” positiva para a coletividade, gastam fortunas em estádios desnecessários, e depois, praticamente inúteis. Muito mais elogiável e facilmente verificável é a Olimpíada. Podem dizer, “beneficia apenas uma cidade”. Vejam o Rio, hoje um “canteiro de obras” em todos os lugares, do subúrbio à Zona Sul, tudo para a população. E que reflete e repercute no país inteiro.
Desmoralizaram até o Maracanã, um símbolo respeitado no mundo inteiro. Na Copa do Mundo de 50 não eram exigidos tantos estádios, também não havia eliminatórias. Na final Brasil-Uruguai, histórica pelo monumental silêncio provocado pela derrota. E histórica pelo fato de estarem presentes 200 mil pessoas, ou até mais.
MARACANÃ E AS “REFORMAS”
Na bancada de imprensa, em cada cadeira, ficavam 5 jornalistas em pé. Depois, na eliminatória de 1978, Brasil-Paraguai, mais de 188 mil pessoas. Num jogo Flamengo-Fluminense, mais de 170 mil pagantes. Agora, na “reforma” desse Maracanã do qual tanto nos orgulhamos, quase um bilhão de reais desperdiçados. Para ser mais exato e com os números oficiais: 882 milhões.
Não podemos esquecer: nos 4 anos do governador Garotinho, obras de mais de 300 milhões. A seguir, no governo de Dona Garotinha, outra reforma no custo de mais 400 milhões. Isso em quanto tempo? 12 anos. E as duas obras executadas pelo mesmo personagem, chamado de Chiquinho da Mangueira, eleito deputado estadual, se licenciava, logo ia para a Secretaria de Esportes e o Maracanã.
Acabava o governador Garotinho, voltava para a Alerj,era reeleito, outra vez a palavra voltava, para a mesma Secretaria de Esportes e para mais obras no Maracanã. O que mudava? Saía o marido, entrava a mulher.
Excluído o Maracanã, apresentemos apenas os totais oficiais de 10 estádios. Sem qualquer aparelhamento ou discussão sobre números, só o que o Ministério do Esporte divulga: 5 bilhões e 160 milhões. O que ficará para a comunidade? Só o exagero.
O mais caro, São Paulo, acima de 800 milhões. O menos dispendioso, do Paraná, pouco mais de 200 milhões. E foram construídos com uma capacidade aceitável, com previsão de público razoável para esses estádios.
EM BRASÍLIA, O ABSURDO
Absurdo completo: 70 mil pessoas em Brasília, que nem campeonato trem. (Mais importante na capital é “A pelada do Estevão, disputada). O único estádio pronto é o de Fortaleza, ao custo e mais de 700 milhões, não estão incluídos na lista de mais de 5 bilhões.
Esse estádio é chamado de “Castelão”, muita gente pensa que é por causa do ditador Castelo Branco. Quando foi construído (agora monumentalizado), Castelo nem era nascido. É que naquela região só existiam castelos, ultrapassados.
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PS – Para terminar: estava demorando o Parreira posar para câmeras e holofotes. Diz: “O Brasil não tem direito de perder outra Copa em casa”. Além de não se aproveitar nada do que falou, esta preciosidade: “O Zagallo me ajudou muito nas duas Copas”. A primeira, 1994, a mais fraca de todas, vencida nos pênaltis, depois de uma classificação com um gol milagroso e mediúnico do Branco.
PS2 – A segunda Copa a que ele se refere foi a de 2006 na Alemanha. Vexame completo, até hoje inesquecível, vive na mente e no coração dos brasileiros. Agora apela para o apoio do torcedor: “É preciso envolver todo mundo no projeto vitória. E quando falo todo mundo, é o país inteiro”. Por que o povão confiaria na Comissão Técnica, comandada por esse Marin, que foi parceiro, “vice e depois governador da ditadura”?
PS3 – Guardei para o fim o único elogio geral. A Copa de 1930 no Uruguai, que festejava os 100 anos de liberdade. Em 2030, 100 anos da primeira Copa, resta saber o que a autoritária, arrogante e corrupta Fifa vai exigir dos anfitriões.

( Tribuna da Imprensa ) 

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