quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Pregou a felicidade e morreu esmagada

O supervisor da Transalvador na área da Paralela, Jorge Pastore, disse que uma testemunha viu o momento em que o carro derrapou na poça de água




Bruno Wendel e Anderson Sotero
 
 
 Salvador - “Seja feliz ou morra tentando”. A frase na página do Facebook da estudante universitária Marcelle Thaís Silva Sousa, 25, resumia a forma que ela levava a vida. Na madrugada desta terça (29), ela tinha ido comemorar o aniversário do namorado e de dois amigos no show da banda Harmonia do Samba no Wet’n Wild. Mas, na volta para casa, a história teve um trágico fim.
O namorado de Marcelle, Adson Moraes Souza, 24, dirigia um Corsa Sedan e perdeu o controle, batendo num poste na avenida Paralela, altura da Ferreira Costa, sentido Centro, por volta das 4h20. Ela morreu na hora. Ao sair da “melhor segunda-feira do mundo”, como o ensaio da banda é chamado, Marcelle retornaria para casa. Segundo Adson, ao entrar no carro, ela não colocou o cinto de segurança. Ele e outros três ocupantes sofreram ferimentos.
“Menina jovem. 25 anos. Cheia de vida. Gostava muito de festa, mas era supertranquila. Não se envolvia em confusão. Foi uma fatalidade. Ela estava com tudo andando na vida. Estudando, trabalhando... ”, lamentou a tia da estudante, Jaciara Pires, 39, no enterro do corpo da jovem, ontem à tarde, no Campo Santo.

Carro que amigos voltavam da 'melhor segunda-feira do mundo' ficou destruída. (Foto: Evandro Veiga)

“Encontrei ela no domingo e a gente estava conversando sobre a situação do Rio Grande do Sul (o incêndio em Santa Maria, que matou 235 jovens). Chegamos a falar de acidentes. Agora acontece isso. Mas ela era uma pessoa que vivia o hoje intensamente. Para este ano, ela queria terminar a faculdade”, complementou uma amiga, a aeroviária Flávia Oliveira, 37.
Marcelle, que morava no condomínio Petromar, em Stella Maris, estudava Gestão de Recursos Humanos na Unime e trabalhava como atendente na locadora de veículos Localiza, no Rio Vermelho. Adson era auxiliar de operações na mesma empresa. Eles namoravam havia quatro meses.
Na segunda-feira, Marcelle trabalhou até as 18h e saiu para se preparar para ir à festa do Harmonia. “Ela deu luzes no cabelo e pintou as unhas”, contou outra tia, sem se identificar.

Jovens voltavam de show do Harmonia do Samba, no Wet n' Wild. Foto: Reprodução
Poça
O evento acabou por volta das 4h. No carro, Marcelle ficou no banco do carona, e os amigos Deise Bacelar, 25, Kaio Pereira, 17, e Gabriel Lemos,  no banco de trás.
“Saímos do show do Harmonia e percorri um trecho de 2 quilômetros, em velocidade compatível com a via, de 90 km/h (a velocidade permitida na via é de 80 km/h)”, contou Adson ao CORREIO, ao receber alta do HGE, ainda na manhã de ontem. Ele sofreu ferimentos no rosto e perna direita e lesão nas costas.
Adson conta que nesse momento derrapou numa poça na pista e, com isso, perdeu o controle do veículo. “Me senti impotente. Não tive como fazer nada. Um desespero. A culpa não foi minha. Se não tivesse aquela poça...”, desabafou Adson, que atribui o acidente a uma aquaplanagem — quando, por conta da água, os pneus perdem o contato com a pista.

Obra da Embasa teria provocado poça. Concessionária aguarda perícia (Foto: Evandro Veiga)

O Corsa Sedan derrapou, subiu o canteiro central e colidiu num poste de iluminação. Segundo Adson, Marcelle estava sem cinto. “A gente comentou com ela: ‘Vamos botar o cinto’. Mas foi quando aconteceu. Ela ficou imprensada entre o banco e o painel”, emendou o rapaz. Ele lembrou também que, depois do impacto, olhou para o lado do carona. “Ela (Marcelle) ficou viva por alguns segundos...”, relembrou, emocionado.
Questionado se teria ingerido bebida alcoólica, Adson respondeu: “Estávamos comemorando meu aniversário e nos divertimos bastante”.
Segundo a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), Deise, que teve “algumas fraturas”, também recebeu alta. Já Kaio teve fratura exposta no joelho e segue internado.  Gabriel teve escoriações e passará por uma tomografia. Ambos seguem internados, mas sem risco de morte.
Aquaplanagem
O supervisor da Transalvador na área da Paralela, Jorge Pastore, disse que uma testemunha viu o momento em que o carro derrapou na poça de água. “A informação que nós temos é que o carro aquaplanou por conta do rompimento de uma adutora (da Embasa), mas só a perícia para saber”, apontou Pastore.
Ainda segundo o supervisor, não foi encontrado nenhum indício de consumo de bebida alcoólica no carro, mas não foi realizado o teste de bafômetro no motorista.
“Quando a Transalvador chegou, os jovens já tinham sido socorridos por uma equipe do Samu. Agora, cabe ao delegado solicitar”, disse.
A Embasa informou, em nota, que “as causas do acidente envolvendo um veículo na Avenida Paralela serão apontadas pela perícia técnica e que o conserto da rede distribuidora de água no acesso à Avenida São Rafael foi concluído às 13 horas e a via liberada”.
O delegado Clóvis da Silva Lima, que estava no Plantão Metropolitano da Polícia Civil, deu início às investigações. Ele solicitou perícia no veículo. O laudo deve ficar pronto em 30 dias.
O relatório sobre o acidente será encaminhado para o delegado que cuida da região para dar continuidade às investigações, nesse caso Carlos Habib, titular da 10ª Delegacia de Polícia (Pau da Lima).
Lei Seca: tolerância zero é regulamentada
O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) regulamentou ontem uma alteração na Lei Seca, aprovada no ano passado, proibindo os motoristas de dirigir após consumir qualquer quantidade de álcool. A resolução, publicada no Diário Oficial da União, diz que o motorista será autuado e multado quando o bafômetro registrar pelo menos 0,05 miligrama de álcool por litro de ar expirado (0,05 mg/l).
Valores abaixo disso estão dentro da margem de erro do equipamento, casos em que o motorista poderia ser acusado injustamente, mesmo sem ter bebido nada. No caso do exame de sangue, qualquer concentração de álcool vai caracterizar infração.
Decreto anterior fixava tolerância de 0,1 mg/l no teste do bafômetro, e de 2 decigramas de álcool por litro de sangue no exame de sangue. A resolução também estabelece que o agente de trânsito pode observar alguns sinais para atestar a embriaguez do motorista em caso de ele se recusar a fazer o teste do bafômetro.
Entre os sinais estão sonolência, olhos vermelhos, vômito, soluços, hálito, dificuldade de equilíbrio e fala alterada.  Também deve ver se o motorista sabe a data, a hora, e o local onde está, e se lembra qual o seu endereço e o que ele fez antes. Estão mantidos os limites estabelecidos na lei que definem quando o motorista embriagado incorre em crime de trânsito.
A tolerância segue de 0,34 mg/l de álcool por litro de ar ou de 6 decigramas por litro de sangue. A pena é de detenção de 6 meses a 3 anos, multa e suspensão da carteira de motorista. Abaixo disso, é considerado infração gravíssima com multa de R$ 1.915,40, além de o motorista ficar impedido de dirigir por um ano.

Colaborou Lorena Caliman/( IBahia )

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