Pessoas viviam em condições subumanas há três anos; durante ação, houve incêndio em um dos barracos
O
cenário é desolador. É difícil imaginar como um ser humano consegue
viver entre baratas, ratos, em um ambiente fétido e sem água. Mas, há
aproximadamente três anos, 25 famílias sobreviviam assim. Crianças
disputando espaço com escorpiões, lama e esgoto. Na manhã de ontem, uma
ação conjunta da Prefeitura - por meio da Secretaria Executiva Regional
(SER) III -, Defesa Civil e outros órgãos retirou as pessoas que estavam
em barracos, embaixo do viaduto na Avenida Mister Hull, no bairro
Antônio Bezerra. Quase no fim da ação, um dos casebres pegou fogo,
controlado em poucos instantes. Uma criança chegou a passar mal.
Não
se sabe se o fogo, que aconteceu em um dos barracos, foi provocado ou
acidental. Extintores de carros que estavam no lugar foram usados por
dois bombeiros e pela Defesa Civil para apagar o incêndio Foto: Alex Costa
Segundo
o coordenador da Defesa Civil de Fortaleza, Cristiano Férrer, a ação
teve o objetivo de melhorar as condições de vida daquelas pessoas. "Eles
não têm água, nem banheiro, a energia é improvisada. São condições
totalmente subumanas", avalia. As famílias foram levadas para uma abrigo
provisório, o Mercado das Marias, no bairro Jacarecanga. "Eles serão
inseridos no aluguel social, em que a Prefeitura disponibiliza R$ 350,00
todo mês para cada família, durante um ano, até que a Habitafor
(Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza) as encaminhe
para suas casas", informa.
O risco de desabamento das moradias
improvisadas, algumas até com segundo andar, era iminente. Foi em um
desses "dúplex" que o incêndio aconteceu, não se sabe se provocado ou
por acidente.
No momento que iniciou o fogo, foi necessário usar
extintores de carros que estavam no lugar, porque a viatura do Corpo de
Bombeiros demorou a chegar. Dois bombeiros, com a ajuda da Defesa Civil,
apagaram o fogo, totalmente finalizado após a chegada do resto da
corporação.
Da
ação, participaram, também, Guarda Municipal, Polícia Militar e Polícia
Rodoviária Federal, Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos, Corpo
de Bombeiros, Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) e Companhia
Energética do Ceará (Coelce). Representando o Conselho Tutelar, Izaíra
Cabral, Fátima Silva e Germana Vasconcelos. Para Izaíra, o trabalho é
uma forma de assegurar a proteção das crianças e dos adolescentes.
Futuro incerto
Para
quem está saindo do local, o medo está no futuro. Mesmo com a
consciência de que não viviam dignamente, eles temem a nova moradia.
"Sei que não posso viver assim. Mas será que vai ser bom lá no abrigo?",
indaga Cláudia de Oliveira, 42. Ela vivia embaixo do viaduto há três
anos. Para conseguir se alimentar, lavava roupa para fora.
O
catador de lixo José André, 43, tem a mesma preocupação. "Estão dizendo
que vão dar R$ 350,00. Será que isso vai acontecer mesmo?", questiona.
Já
outros fazem questão de sair de lá. Uma das moradoras, que pediu para
não ser identificada, contou que tinha um barraco lá e precisou sair,
disse que está tentando ser levada para o abrigo. "Quero ter uma vida
mais justa", afirma.
Lugar também seria ponto de traficantes
O
viaduto também serviria de ponto para traficantes e dependentes de
drogas. O inspetor da Guarda Municipal Luiz Valdeci da Silva, um dos
participantes da ação, explicou que, ao chegar no viaduto, foi logo
surpreendido por um grupo que estava dentro de um dos barracos fumando
maconha. "Eles tentaram resistir, teve um pequeno tumulto, mas nada que
não pudesse ser controlado", informa. Ele mostrou que, por trás deste
mesmo barraco, tinha um fundo falso que dava para um portão com abertura
por baixo do viaduto. Era onde eles se escondiam.
Uma moradora,
que não quis se identificar, disse que precisou sair da sua moradia
porque os dependentes químicos roubavam seus móveis para comprar drogas.
"Acabei saindo e deixando meu irmão, que tem problema mental, morando
sozinho. Agora, quero ir embora com ele daqui", explicou.
Remoção
Esta
não é a primeira desocupação do viaduto da Mister Hull. Em 2006, foram
removidas seis famílias que habitavam o lugar. Em 2007, a remoção foi de
barracas de comerciantes que vendiam comidas, bebidas e lanches
rápidos. A Polícia Militar chegou a utilizar bombas de efeito moral para
dispersar curiosos.
Em 2010, as famílias voltaram ao viaduto,
erguendo casebres de papelão e madeira. Barracos com apenas um
compartimento, onde espalhavam colchões velhos, lençóis sujos.
EVELANE BARROS
REPÓRTER/Diário do Nordeste )
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