sexta-feira, 22 de março de 2013

25 familias de Fortaleza disputavam espaço entre ratos, escorpiões, lama e esgoto

Pessoas viviam em condições subumanas há três anos; durante ação, houve incêndio em um dos barracos

O cenário é desolador. É difícil imaginar como um ser humano consegue viver entre baratas, ratos, em um ambiente fétido e sem água. Mas, há aproximadamente três anos, 25 famílias sobreviviam assim. Crianças disputando espaço com escorpiões, lama e esgoto. Na manhã de ontem, uma ação conjunta da Prefeitura - por meio da Secretaria Executiva Regional (SER) III -, Defesa Civil e outros órgãos retirou as pessoas que estavam em barracos, embaixo do viaduto na Avenida Mister Hull, no bairro Antônio Bezerra. Quase no fim da ação, um dos casebres pegou fogo, controlado em poucos instantes. Uma criança chegou a passar mal.

Não se sabe se o fogo, que aconteceu em um dos barracos, foi provocado ou acidental. Extintores de carros que estavam no lugar foram usados por dois bombeiros e pela Defesa Civil para apagar o incêndio Foto: Alex Costa

Segundo o coordenador da Defesa Civil de Fortaleza, Cristiano Férrer, a ação teve o objetivo de melhorar as condições de vida daquelas pessoas. "Eles não têm água, nem banheiro, a energia é improvisada. São condições totalmente subumanas", avalia. As famílias foram levadas para uma abrigo provisório, o Mercado das Marias, no bairro Jacarecanga. "Eles serão inseridos no aluguel social, em que a Prefeitura disponibiliza R$ 350,00 todo mês para cada família, durante um ano, até que a Habitafor (Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza) as encaminhe para suas casas", informa.

O risco de desabamento das moradias improvisadas, algumas até com segundo andar, era iminente. Foi em um desses "dúplex" que o incêndio aconteceu, não se sabe se provocado ou por acidente.

No momento que iniciou o fogo, foi necessário usar extintores de carros que estavam no lugar, porque a viatura do Corpo de Bombeiros demorou a chegar. Dois bombeiros, com a ajuda da Defesa Civil, apagaram o fogo, totalmente finalizado após a chegada do resto da corporação.



Da ação, participaram, também, Guarda Municipal, Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal, Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos, Corpo de Bombeiros, Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) e Companhia Energética do Ceará (Coelce). Representando o Conselho Tutelar, Izaíra Cabral, Fátima Silva e Germana Vasconcelos. Para Izaíra, o trabalho é uma forma de assegurar a proteção das crianças e dos adolescentes.

Futuro incerto
Para quem está saindo do local, o medo está no futuro. Mesmo com a consciência de que não viviam dignamente, eles temem a nova moradia. "Sei que não posso viver assim. Mas será que vai ser bom lá no abrigo?", indaga Cláudia de Oliveira, 42. Ela vivia embaixo do viaduto há três anos. Para conseguir se alimentar, lavava roupa para fora.

O catador de lixo José André, 43, tem a mesma preocupação. "Estão dizendo que vão dar R$ 350,00. Será que isso vai acontecer mesmo?", questiona.

Já outros fazem questão de sair de lá. Uma das moradoras, que pediu para não ser identificada, contou que tinha um barraco lá e precisou sair, disse que está tentando ser levada para o abrigo. "Quero ter uma vida mais justa", afirma.

Lugar também seria ponto de traficantes
O viaduto também serviria de ponto para traficantes e dependentes de drogas. O inspetor da Guarda Municipal Luiz Valdeci da Silva, um dos participantes da ação, explicou que, ao chegar no viaduto, foi logo surpreendido por um grupo que estava dentro de um dos barracos fumando maconha. "Eles tentaram resistir, teve um pequeno tumulto, mas nada que não pudesse ser controlado", informa. Ele mostrou que, por trás deste mesmo barraco, tinha um fundo falso que dava para um portão com abertura por baixo do viaduto. Era onde eles se escondiam.

Uma moradora, que não quis se identificar, disse que precisou sair da sua moradia porque os dependentes químicos roubavam seus móveis para comprar drogas. "Acabei saindo e deixando meu irmão, que tem problema mental, morando sozinho. Agora, quero ir embora com ele daqui", explicou.

Remoção
Esta não é a primeira desocupação do viaduto da Mister Hull. Em 2006, foram removidas seis famílias que habitavam o lugar. Em 2007, a remoção foi de barracas de comerciantes que vendiam comidas, bebidas e lanches rápidos. A Polícia Militar chegou a utilizar bombas de efeito moral para dispersar curiosos.

Em 2010, as famílias voltaram ao viaduto, erguendo casebres de papelão e madeira. Barracos com apenas um compartimento, onde espalhavam colchões velhos, lençóis sujos.

EVELANE BARROS
REPÓRTER/Diário do Nordeste ) 

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