Para Lula, a presidente Dilma pode até ser eleita sem alianças, mas vai precisar delas para poder governar
Com
discursos afinados que antecipam um clima eleitoral, o Partido dos
Trabalhadores realizou ontem, em Fortaleza, com a participação do
ex-presidente Lula, seminário para celebrar os dez anos do partido à
frente do Governo Federal. A ampla mesa de aliados, que reuniu
lideranças petistas e dezenas de representantes de siglas da base
aliada, ainda demonstrou certas cicatrizes do último pleito na Capital
cearense, reunindo, na mesma bancada, a ex-prefeita Luizianne Lins, o
governador Cid Gomes e o atual prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio.
Foram
convidados a integrar a mesa do evento todos os presidentes estaduais
dos partidos da base aliada do Governo Dilma Rousseff FOTO: KID JÚNIOR
Evitando
contato direto com a imprensa, o ex-presidente Lula chegou a declarar
que estava ciente de algumas "intrigas" pessoais entre aliados e, por
isso, tem evitado dar declarações sobre as eleições de 2014. "Eu não vou
dar declarações. Aconteça o que acontecer, temos candidatura de
presidente da República e vamos eleger a Dilma novamente", garantiu.
Aliança
Lula também fez questão de ressaltar a importância do papel desempenhado pela base aliada no processo
eleitoral. "O PT pode até ganhar eleição sozinho, mas precisa de
aliados para governar. E tem horas que, humildemente, temos que apoiar
os outros também", disse. Lideranças petistas já afirmaram que o
dirigente nacional está empenhado em tentar manter a aliança petista com
o PSB na esfera nacional como tentativa de evitar a candidatura à
sucessão da presidente Dilma, do governador e presidente nacional da
legenda, Eduardo Campos.
Como sinalização de tentar ajustar discurso do PSB e PT no Ceará, foram convidados para a programação
do PT tanto o prefeito Roberto Cláudio como o governador Cid Gomes,
desafetos de Luizianne Lins, presidente estadual do PT. O
vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, também faria uma fala
sobre combate à pobreza no País, mas, por motivo de doença, não pôde
comparecer ao evento.
A presença de Cid e Roberto Cláudio causou
visível desconforto à presidente do PT no Ceará. Os dois chegaram,
inclusive, a ser vaiados por parte da plateia, quando alguma das
lideranças presentes se referiam a um dos dois. Durante o seu
pronunciamento, Luizianne evitou ataques aos pessebistas, se resumindo a
elogiar as políticas públicas implementadas durante o governo Lula e
citando iniciativas de sua própria gestão. "Durante oito anos, fizemos
parte dessa história. Lula foi capaz de se reinventar, fazer caravanas
pelo País e provar que era possível fazer um novo projeto", ressaltou. A
ex-prefeita, bastante aplaudida.
Luizianne fez um discurso de
enaltecer as alianças políticas que viabilizaram o governo federal
petista. "O que está em jogo agora é a reeleição da presidente Dilma
Rousseff e nós temos que comemorar com os partidos aliados", disse. Ao
final de sua fala, entregou o livro lançado durante a sua gestão que
trata sobre os oito anos de seu Governo.
O governador Cid Gomes
também se pronunciou durante a ocasião, acrescentando que Lula "foi o
melhor presidente da história". O pessebista fez questão de destacar
que, durante sua trajetória política, sempre foi aliado do PT. "Há 14
anos, desde quando tive o privilégio de estar em cargos executivos,
sempre estive ao lado do PT, ou melhor, o PT sempre esteve comigo",
disse. Sentado ao lado de Luizianne Lins, Roberto Cláudio não fez nenhum
pronunciamento.
O discurso do presidente nacional do PT, Rui
Falcão, também priorizou a relevância do arco de alianças com o seu
partido para dar suporte ao Governo da presidente Dilma. "O Ceará mostra
força política, sendo capaz de reunir várias pessoas em torno de um
mesmo projeto", apontou.
Inclusão
A
palestra do seminário de ontem teve como tema as políticas públicas
executadas pelo Governo Federal visando à inclusão social. Contribuíram
com a exposição a ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
Tereza Campello, e o presidente Fundação Perseu Abramo, Márcio Pochmann.
O vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, também estava cotado
para dar uma palestra, mas não pôde comparecer ao evento.
A
ministra Tereza Campello apresentou dados sobre o aumento de empregos
formais no País, evolução do salário mínimo, expansão de programas de
renda e redução da miséria. Segundo ela, o Governo Federal retirou 22
milhões de pessoas da extrema pobreza através do Bolsa Família.
Avanços
O
ex-presidente Lula fez uma retrospectiva da trajetória dos 33 anos do
Partido dos Trabalhadores e dos avanços conquistados a partir do seu
Governo. "Passei parte da minha vida em reunião com economistas e eles
diziam que era preciso crescer para depois distribuir. Em 1970, o bolo
cresceu e alguém comeu. Para os trabalhadores, só sobraram bolinhas de
chumbo", criticou.
De acordo com Lula, o seu governo teria
"quebrado a lógica" ditada até então, já que, segundo ele, a prioridade
foi crescer e dividir concomitantemente. "O surgimento da CUT, do PT,
tudo foi graças à teimosia. Até a eleição da nossa prefeita (Luizianne
Lins) foi fruto de teimosia", declarou.
O ex-presidente Lula
ainda tocou num tema que, segundo ele próprio, ainda é considerado tabu
por alguns dirigentes: a corrupção. "Eu duvido que neste país algum
presidente tenha criado tantos instrumentos de combate à corrupção como
eu criei", afirmou. O dirigente aproveitou a oportunidade para defender a
aprovação da reforma política. "Pegar dinheiro emprestado para
financiar campanha política deveria se tornar crime inafiançável",
pontuou.
( Diário do Nordeste )
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