Carlos Chagas
Quatro candidatos às eleições presidenciais já se definiram, ainda que até outubro do ano que vem surpresas possam e devam acontecer: Dilma Rousseff, Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva. Mais duas hipóteses estão em aberto, ainda que em zona de sombra: Joaquim Barbosa e José Serra.
Seria oportuno que em meio às preliminares de suas campanhas já iniciadas, mas ainda não reconhecidas, todos eles atentassem para alguns postulados necessários ao bom desempenho de suas candidaturas e, mais tarde, para apenas um deles, o exercício do poder.
1. Começando pelo próprio, deveriam atentar que o poder consiste em meio de transformação, seja social, econômica ou política. Conquistá-lo sem um programa definido de mudanças, apenas como preservação da realidade, ou pior, como satisfação pessoal, será antes de tudo burrice. À exceção de certas exortações e outro tanto de críticas, qual dos referidos candidatos demonstra dispor de um elenco de objetivos a alcançar? Não basta apregoar a continuidade do que vem sendo desenvolvido, no caso de Dilma. Nem prometer a volta ao sonho tucano, como Aécio. Muito menos fazer a mesma coisa, só que melhor, como Campos. Ou sequer levantar a preservação ecológica feito sua maior bandeira, como Marina. Cada uma das bissextas definições dos quatro postulantes visa no máximo uma finalidade prática, jamais, pelo menos até agora, um discurso integralizado, muito menos uma construção lógica. Não tem sido capazes de generalizar, nem de prever. Carecem de imaginação criadora.
2. Aos candidatos torna-se obrigatório não selecionar privilegiados para dirigir suas campanhas e, mais importante, o governo de um deles, depois. Precisariam desde já livrar-se do espírito de casta, parar de incentivar os medíocres e reduzir os bajuladores à impotência. No reverso da medalha, conscientizar-se de que falta a um só indivíduo força para promover transformações, tornando-se imprescindível o concurso de uma equipe, não necessariamente de um partido. Ou melhor, sem comprometer-se exclusivamente com qualquer partido.
3. Deveriam, os candidatos, ter presente que as novas gerações ignoram aquilo que as velhas insistem em esquecer. Traduzindo: suas mensagens deveriam dirigir-se prioritariamente ao eleitorado jovem, sabendo que falando aos moços estarão ao mesmo tempo despertando as camadas mais antigas. A ferrugem dos ressentimentos próprios a todo ser humano não deve corroer a determinação de promover mudanças com quantos possam impulsioná-las. Dividir a sociedade entre mocinhos e bandidos nunca deu certo, nem politicamente.
4. Por último, o que prometer, além do combate à corrupção, para uns, e a permanência do assistencialismo, para outros? Não basta ficar alardeando que vão estender a educação para todos ou construir casas populares para os desabrigados. Que reformas sensibilizarão o eleitorado, desde que apresentadas de forma científica e sistematizada? Existem denominadores comuns, é óbvio, reformas com as quais todos concordam, ainda que a maioria não tenha sido implantada. Dessas nem é preciso falar muito: alterar o sistema eleitoral, partidário, tributário e federativo. Agilizar a Justiça, ampliar o ensino, melhorar a infra-estrutura. Só isso, porem, não despertará entusiasmo.
Necessário para os candidatos torna-se avançar, cada um dentro de suas concepções, ainda que até agora todos deem a impressão de formar a mesma massa insossa e inodora. Reforma agrária e extinção do latifúndio será coisa do passado? Participação dos empregados no lucro das empresas equivalerá mesmo a sufocar a competitividade? Concentrar a riqueza no topo da pirâmide fará com que necessariamente ela escorra até a base? Comprimir salários em nome do desenvolvimento da economia aumentará a produtividade? Taxar o assalariado implica em desafogar o privilegiado?
Os candidatos tão antecipadamente lançados na campanha defrontam-se com excepcional dilema: continuar a desenvolver campanhas mornas e despojadas de interesse ou lançar-se na verdadeira discussão de nosso futuro. Quem sabe?( Tribuna da Imprensa )
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