O estudo tem a meta de identificar a existência de animais gigantes no período Holoceno da história das civilizações
Limoeiro do Norte.
Arqueólogos da Universidade Estadual do Ceará (Uece) assinam hoje à
tarde convênio com a Prefeitura de Jaguaretama para realização de
pesquisas no município. O projeto Lagos do Sertão, que tem a coordenação
da doutora em Arqueologia e professora da universidade, Marcélia
Marques, deverá iniciar as pesquisas de campo em novembro, após a
autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan).
O projeto foi lançado em 1993, iniciando pelos lagos do Sertão Central há três anos
Pela
primeira vez, pesquisas nessa área científica chegam a Jaguaretama. A
Uece vem realizando esse trabalho desde 1993 na região do Sertão
Central, especialmente nos municípios de Quixadá e Quixeramobim. Em
2010, a pesquisadora, juntamente com uma equipe interdisciplinar,
composta por professores de outras instituições de ensino e estudantes,
desenvolveu o projeto "Caçadores-coletores do Holoceno no Sertão Central
do Ceará, Nordeste do Brasil: processo de ocupação e contexto
ambiental", para tentar reconstruir esta época histórica e identificar a
existência de animais gigantes na região.
Fortes indícios
A
expectativa agora é expandir as pesquisas para o Vale do Jaguaribe,
iniciando pela cidade de Jaguaretama. Estudos preliminares mostram
fortes indícios da existência de sítios arqueológicos em localidades
próximas a leito de rios e lagoas.
Segundo Marcélia, a partir
destes indícios será pesquisado sítios de arte rupestre, cultura
material arqueológica e fósseis da megafauna pleistocênica - animais
gigantes.
"O intuito é realizar escavações, fazer datações para
identificar a cronologia da deposição dessa megafauna e constatar, ao
mesmo tempo, se havia coexistência de animais gigantes com as populações
humanas", afirma a arqueóloga.
Sobre os estudos de arte
rupestre, a expectativa é reconhecer a técnica de elaboração das
gravuras e o grau de intemperismo delas (estado de conservação). A
pesquisadora ressalta que, pelo fato das pedras estarem no leito do
riacho, não é possível resgatar algum material que possa ter sido
utilizado pelas as populações e assim identificar a época em que as
gravuras foram feitas.
"É muito complexo saber o tempo exato das
gravuras em pedras, o que se tem delas é uma datação relativa quando se
compara com o tipo de grafismo realizado com algum outro sítio que já
tem apontado uma data neste sentido", explica Marcélia.
As
pesquisas serão realizadas na Lagoa do Coronel, localizada próximo à
comunidade Serrote do Mato, zona rural, distante cerca de 25km do Centro
da Jaguaretama. Contará com a participação de professores pesquisadores
e alunos da Uece, Universidade Federal do Ceará (UFC) e Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). O projeto Lagos do
Sertão está montado e deverá ser encaminhado ao Iphan nos próximos dias.
"Estão sendo feitos estudos preliminares e pretendemos iniciar os
trabalhos de campo em novembro. É o tempo que se espera que tenha havido
a autorização", ressalta Marcélia.
A pesquisa contará com o apoio logístico da Prefeitura de Jaguaretama, no que compete à hospedagem dos pesquisadores no local.
Escritório de campo
"A
prefeita Ila Pinheiro vai reformar uma escola desativada, que fica
próxima da Lagoa do Coronel, para que a equipe de pesquisadores fique
hospedada e que monte o escritório de campo. As pesquisas são
desenvolvidas ao longo de alguns anos em missões anuais. Após a
conclusão dos estudos a escola poderá retornar em boas condições à
comunidade", ressalta Marcélia.
O convênio será assinado hoje, na
Secretaria de Cultura de Jaguaretama. Na ocasião, haverá palestra sobre
Arqueologia e uma explicação dos trabalhos que serão desenvolvidos na
comunidade.
Uma das grandes preocupações de Marcélia é sobre a
conservação deste patrimônio. A temática também será acordada junto à
comunidade para preservação dos sítios.
Na região, populares têm
descoberto na região indícios da existência de sítios arqueológicos. O
Diário do Nordeste vem acompanhando as primeiras descobertas feitas por
populares. Em matéria publicada em março deste ano, o funcionário
público Mathusalem Maia denunciou a depredação de um possível sítio
arqueológico de gravuras rupestres. A denúncia foi encaminhada ao Iphan
e, em resposta, o Instituto informou que enviaria uma equipe para
confirmar se a área se tratava mesmo de um sítio arqueológico, já que
não havia registro do local no cadastro nacional.
Já no mês de
abril, o Iphan confirmou a existência de sítios arqueológicos em
localidades dos municípios de Jaguaribara e Alto Santo. As áreas sob o
conhecimento do Instituto pertencem ao Patrimônio Histórico Nacional e,
em qualquer violação dos locais, os responsáveis serão punidos. Para
estudos e exploração dos locais, o Instituto deverá emitir autorização.
Objetivo
"O intuito é realizar escavações e constatar se havia coexistência de animais gigantes com as populações humanas"
Marcélia Marques
Professora de Arqueologia da Uece
Mais informações
Núcleo de Arqueologia e Semiótica (Narse), da Universidade Estadual do Ceará (Uece)
Professora Marcélia Marques
E-mail: marceliamar@terra.com.br
ELLEN FREITAS
COLABORADORA
( Diário do Nordeste )
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