sábado, 29 de junho de 2013

Falou como candidato


Carlos Chagas/Tribuna da Imprensa 



Há tempos que se cobrava de Aécio Neves um pronunciamento amplo e profundo,  de candidato para valer, capaz de mostrar-se como tal,  abordando   problemas e soluções nacionais de curto e de longo prazo. Apesar de haver assumido a presidência do PSDB e destacando-se como o futuro indicado pelos tucanos à presidência da República, o senador mantinha-se numa zona de cautela. Fazia  críticas ao governo, duras e respeitosas, mas  continuava devendo um plano de vôo para maiores alturas.
Não deve mais. Seu discurso na tarde de terça-feira, em nome das oposições, preencheu com folga  as expectativas de quantos aguardavam a presença, no ringue, de um contendor capaz de enfrentar Dilma Rousseff  e a reeleição. Falou por conta da crise gerada pelas manifestações de rua e a necessidade de o Congresso e os partidos  responderem aos clamores,  reclamos e protestos  da população.
Foi duro ao comentar a fala da presidente da República, feita na véspera. Para ele, o país ouviu o mesmo monólogo de sempre: “assistimos o Brasil Velho tentando ser ouvido pelo Brasil Novo, com o governo buscando terceirizar as dificuldades que ele mesmo criou”.
Aécio lembrou que até pouco nenhum governo havia disposto de tanto apoio popular e parlamentar. Por isso, ficou frustrado com as propostas de Dilma para superar a crise. Num momento como o atual, julgava impensável que as oposições não tivessem sido convocadas. Sua voz teria que ser ouvida antes da apresentação das  medidas unilaterais do governo. “Não tivemos o privilégio de ser convocados”, queixou-se sem fechar as portas ao  chamamento que veio depois, estando marcada para segunda-feira a ida dos tucanos ao Planalto.  Citou Ulysses Guimarães para reclamar um novo pacto federativo: “Ninguém  mora na União,  nem no Estado. Mora-se no Município.”
Seguiu-se a apresentação de um elenco de iniciativas que o PSDB teria levado pessoalmente  a Dilma, mas seria naquele momento divulgado pela tribuna do Senado.
Obrigatoriedade de ficha-limpa para a ocupação de qualquer cargo no serviço público. Extinção dos cartões corporativos para funcionários públicos. Apuração de todos os gastos do governo com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Explicações da presidente Dilma sobre ter inaugurado tantos estádios, se agora afirma  terem sido todos apenas financiados pelo BNDES, mas que os empréstimos serão pagos. Saber, também, quais os gastos de empresas brasileiras no exterior, a começar pela aquisição, pela Petrobrás, de uma refinaria falida em Passadena, Estados Unidos, a preços muito superiores aos do mercado.
“Para acreditarmos nas boas intenções da presidente – continuou Aécio – seria necessário um gesto simbólico por parte dela. Por que não reduzir pela metade o número de ministérios? Por que não cortar parte dos 22 mil cargos comissionados do Executivo, preenchidos pelo PT?  A revisão das dívidas dos Estados é imprescindível, bem como a participação dos Estados na aplicação de pelo menos 50% daquilo que pagam à União. Tolerância zero com a inflação. Nível mínimo para as despesas públicas. Conclusão de todas as obras viárias ligadas à Copa do Mundo. Arquivamento do plano mirabolante do trem-bala e utilização de seus recursos na recuperação da malha ferroviária nacional. Revisão do investimento mínimo na saúde pública, com sua ampliação através de recursos dos royalties do petróleo, com a óbvia prevalência para a educação. Recuperação das Santas Casas da Misericórdia, em estado falimentar em todo o país.  Desoneração das empresas dedicadas ao saneamento básico.”
Entre essas, outras propostas foram alinhadas pelo ex-governador de Minas, numa espécie de pré-plano de governo, ainda que oferecido como colaboração com a presidente Dilma Rousseff. No encerramento, clamou pela rejeição da PEC-37, sepultada no dia seguinte pela Câmara, assim como rotulou de vocação para o suicídio a proposta também depois abandonada, da Assembléia Constituinte exclusiva.
Em suma, o senador Aécio Neves discursou pela primeira vez como candidato assumido, recebendo apoio  dos correligionários e   elogios de adversários.
A PÁTRIA MUDA NÃO MUDA
Causou profunda impressão entre os políticos a frase simples estampada na camiseta de uma menina de 20 anos, uma das líderes dos movimentos de protesto: “A PÁTRIA MUDA NÃO MUDA”. Um simples slogan exprime a causa primeira de todas as manifestações de rua, exceção, é claro, da ação dos vândalos que continuam  saqueando o comércio e propriedades públicas.
INTRANQÜILIDADE
Se faltasse um argumento a mais para sepultar a esdrúxula proposta da convocação  de uma Assembléia Constituinte exclusiva, bastaria atentar para lembranças do historiador Ronaldo Costa Couto, ex-chefe da Casa Civil e ministro do governo José Sarney. Para ele, a intranqüilidade econômica alcançou  seus pontos mais altos quando da convocação da Constituinte em 1987, pelo então presidente da República. Da noite para o dia interromperam-se os investimentos externos,  empresas estrangeiras retiraram-se do país e todo mundo temia o desconhecido. Porque uma Constituinte, mesmo sob o rótulo de exclusiva, pode muito. É capaz de desestabilizar as instituições. Não foi o que aconteceu com a carta de 1988, mas temores se multiplicaram. Um grupo até queria cassar o mandato de Sarney.
MINAS E AS REVOLUÇÕES
Tancredo Neves manteve firme oposição ao regime militar e costumava comentar que a História sempre reservava para Minas a primazia de nossas revoluções, “tanto as boas quanto as más”…

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