segunda-feira, 1 de julho de 2013

Erros e correria


Carla Kreefft 



O governo está com medo de dizer o que talvez seja o mais importante no momento: “empurra não, companheiro”. É mais um erro na lista que vem sendo formada dia a dia pelo governo federal.
Não há dúvidas de que o movimento que ocupa as ruas tem legitimidade e força reivindicatória. Ele preciso ser ouvido e, principalmente, atendido. Mas como fazer isso de forma adequada é a grande questão.
Primeiro, é preciso dizer que o governo demorou a se mover. Talvez por não acreditar na força dos movimentos, a presidente Dilma preferiu ignorá-los. Depois, quando decidiu ir para a televisão em cadeia nacional, fez um discurso vazio, repleto de propostas velhas e de pouca eficácia. Três dias após esse pronunciamento que não agradou ninguém – muito provavelmente nem a ela mesma –, a presidente volta a falar com a população, por meio da televisão, para anunciar um grande pacto com a nação.
Anunciar pacto com a nação é algo típico de presidentes da República brasileiros e, quase sempre, é uma iniciativa que não consegue bons resultados. É alguma coisa assim como ato de desespero.
A proposta que, de certa forma, já está sendo implementada, envolve a realização de um plebiscito para aprovar a reforma política. É bom lembrar que, antes dessa decisão de fazer um plebiscito voltado para a reforma, o governo federal pensou em fazer um plebiscito para avaliar se a população aprovaria ou não a convocação de uma assembleia constituinte com a finalidade exclusiva de fazer a reforma. Essa ideia foi extremamente criticada pelos constitucionalistas e, por isso, abortada rapidamente.
AFOGADILHO
Agora, Dilma discute com partidos, movimentos e lideranças do Congresso como fazer o plebiscito da reforma política. A intenção é correr para que toda a legislação esteja aprovada até outubro e possa valer para a eleição de 2014.
O afogadilho impediu que, pelo menos até o momento, alguém pare para pensar em alguns elementos básicos diante de uma empreitada dessa. O primeiro deles seria a formatação de uma campanha informativa sobre a reforma política. É possível que a maioria dos brasileiros, incluindo alguns que estão nas ruas, não saibam do que se trata. O segundo elemento seria avaliar quais os pontos da proposta de reforma são consensuais e, por isso mesmo, não precisariam da aprovação popular. Somente a partir, seria correto pensar na perguntas que serão feitas ao povo pelo plebiscito. Estudos de viabilidade para apontar custos e prazos também teriam que ser elaborados.
Como nada disso feito, o mais sensato seria evitar a correria, mas o governo não tem tempo a perder e não pode pedir às ruas paciência. Não pode dizer “não empurra não” porque já errou muito. (transcrito do jornal O Tempo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário