Pedro do Coutto
A pesquisa Datafolha, publicada
sábado pela Folha de São Paulo apontando uma fantástica queda de 27
pontos percentuais na aprovação do governo Dilma Rousseff, no espaço de
três semanas de protestos nas ruas do país, revela que a onda concentrou
o conjunto de reações diversas na administração federal. Isso apesar de
a presidente da República tê-las apoiado através de cadeia de
televisão e rádio, de viva voz, e promovido reunião com os governadores e
prefeitos das capitais para atendê-las. O recuo do índice de 57 ótimo e
bom para a escala de 30 pontos é sombrio e, inegavelmente, prejudicial à
perspectiva de sua reeleição. Não quero dizer que ela não será
reeleita, mas somente que sua campanha sofreu um abalo.
Curioso é que sua tese da
convocação de um plebiscito, pelo mesmo Datafolha, e na mesma edição da
FSP, é amplamente acolhida pela parcela de 68% da população, portanto do
eleitorado. A impressão que se pode colher é que a sociedade não
aguenta mais protelações e falta de soluções concretas e, assim, busca
uma forma de exprimir suas vontades, seus impulsos. O problema todo,
como escrevi recentemente, começou com as tarifas de ônibus, mas se
projetou no plano geral, aglutinando todos os problemas. Principalmente o
da corrupção projetado em superfaturamentos de grandes obras públicas. O
povo aprendeu a dizer não, e nem o futebol, consegue deslocar sua
atenção de modo a refletir na diminuição da intensidade da onda de
protestos.
O fenômeno de as insatisfações
terem se concentrado no governo Dilma talvez decorra do fato de ter sido
ela própria, como aliás não poderia deixar de ser, assumido a
responsabilidade pelas soluções quando recebeu os governadores e
prefeitos das capitais. Os problemas de saúde, educação, transporte,
combate à corrupção, saneamento, segurança pública são tanto federais
quanto estaduais e municipais. Mas ao assumir publicamente o comando das
respostas às reivindicações, Dilma Rousseff tornou-se o alvo maior de
tudo, principalmente porque é a personagem principal da administração
pública e do país. Enquanto o conceito de ótimo e bom recuou 27 degraus,
a qualificação de ruim e péssimo avançou 16 pontos, passando de 9 a
25%. Quarenta e três por cento consideram seu desempenho regular, uma
forma de neutralizar a resposta.
NOVO CAPÍTULO
O resultado do levantamento do
Datafolha abriu um novo capítulo no movimento de ações e reações.
Primeiro porque reforça os protestos na medida em que atesta que foram
capazes de causar reflexos do porte que provocaram. Segundo porque
agora, mais do que nunca, vai levar o governo a agir com maior rapidez
para reencontrar-se com a opinião pública e tentar partir para recuperar
o tempo e os espaços perdidos. Os números e as reportagens publicadas
nos jornais e divulgadas na televisão e nas redes sociais da Internet
comprovaram a força extraordinária da voz nas ruas.
O plebiscito, difícil de executar
na forma múltipla de que seu projeto original prevê para as perguntas
populares, foi bem recebido, como o Datafolha assinalou, mas seus
resultados podem se perder em consequência da formulação múltipla das
colocações. E o governo não pode perder nenhuma oportunidade de
reafirmação e mais nenhum lance em favor de sua própria imagem. Afinal,
ele se colocou no centro dos acontecimentos. Concentrou a
responsabilidade das ações.
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