segunda-feira, 1 de julho de 2013

Governo federal tornou-se o foco das insatisfações populares

Pedro do Coutto
 
A pesquisa Datafolha, publicada sábado pela Folha de São Paulo apontando uma fantástica queda de 27 pontos percentuais na aprovação do governo Dilma Rousseff, no espaço de três semanas de protestos nas ruas do país, revela que a onda concentrou o conjunto de reações diversas na administração federal. Isso apesar de a presidente da República tê-las apoiado através de cadeia de  televisão e rádio, de viva voz, e promovido reunião com os governadores e prefeitos das capitais para atendê-las. O recuo do índice de 57 ótimo e bom para a escala de 30 pontos é sombrio e, inegavelmente, prejudicial à perspectiva de sua reeleição. Não quero dizer que ela não será reeleita, mas somente que sua campanha sofreu um abalo.
Curioso é que sua tese da convocação de um plebiscito, pelo mesmo Datafolha, e na mesma edição da FSP, é amplamente acolhida pela parcela de 68% da população, portanto do eleitorado. A impressão que se pode colher é que a sociedade não aguenta mais protelações e falta de soluções concretas e, assim, busca uma forma de exprimir suas vontades, seus impulsos. O problema todo, como escrevi recentemente, começou com as tarifas de ônibus, mas se projetou no plano geral, aglutinando todos os problemas. Principalmente o da corrupção projetado em superfaturamentos de grandes obras públicas. O povo aprendeu a dizer não, e nem o futebol, consegue deslocar sua atenção de modo a refletir na diminuição da intensidade da onda de protestos.
O fenômeno de as insatisfações terem se concentrado no governo Dilma talvez decorra do fato de ter sido ela própria, como aliás não poderia deixar de ser, assumido a responsabilidade pelas soluções quando recebeu os governadores e prefeitos das capitais. Os problemas de saúde, educação, transporte, combate à corrupção, saneamento, segurança pública são tanto federais quanto estaduais e municipais. Mas ao assumir publicamente o comando das respostas às reivindicações, Dilma Rousseff tornou-se o alvo maior de tudo, principalmente porque é a personagem principal da administração pública e do país. Enquanto o conceito de ótimo e bom recuou 27 degraus, a qualificação de ruim e péssimo avançou 16 pontos, passando de 9 a 25%. Quarenta e três por cento consideram seu desempenho regular, uma forma de neutralizar a resposta. NOVO CAPÍTULO
O resultado do levantamento do Datafolha abriu um novo capítulo no movimento de ações e reações. Primeiro porque reforça os protestos na medida em que atesta que foram capazes de causar reflexos do porte que provocaram. Segundo porque agora, mais do que nunca, vai levar o governo a agir com maior rapidez para reencontrar-se com a opinião pública e tentar partir para recuperar o tempo e os espaços perdidos. Os números e as reportagens publicadas nos jornais e divulgadas na televisão e nas redes sociais da Internet comprovaram a força extraordinária da voz nas ruas.
O plebiscito, difícil de executar na forma múltipla de que seu projeto original prevê para as perguntas populares, foi bem recebido, como o Datafolha assinalou, mas seus resultados podem se perder em consequência da formulação múltipla das colocações. E o governo não pode perder nenhuma oportunidade de reafirmação e mais nenhum lance em favor de sua própria imagem. Afinal, ele se colocou no centro dos acontecimentos. Concentrou a responsabilidade das ações.

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