Belém -Uma equipe
do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves realizou, na manhã de
ontem (31), a exumação do bebê que supostamente pertencia à Elizabeth
Cardoso da Conceição. O procedimento foi acompanhado pelo delegado Éder
Mauro, responsável por presidir o inquérito sobre o assassinato da jovem
de 21 anos que desapareceu da praça Matriz de Marituba, no último dia
11, grávida de oito meses.
A suspeita do crime, Cátia Cilene Nascimento
Ferreira, já se encontra detida e confessou para a polícia que o bebê
enterrado ali pertencia à vítima. “Mesmo que ela já tenha confessado, é
preciso que isso seja tecnicamente comprovado. Por isso, será feito o
cruzamento de DNA da Elizabeth, da suspeita e do bebê, para comprovar
que a vítima era a mãe”, esclarece a autoridade policial. O procedimento
tem previsão de laudo em até 10 dias, segundo a assessoria do CPC
Renato Chaves.
“Quando é um recém-nascido, o material
biológico se perde muito rápido. A urna será levada para o departamento
técnico de DNA, onde eles irão examinar qual o melhor material para
aquele exame”, explica. Enterrado um dia após o desaparecimento de
Elizabeth, em um cemitério particular no bairro do Tapanã, em Belém, não
havia identificação da criança por nome. Toda a tramitação foi feita
pelo marido de Cátia Cilene, que afirmou acreditar que estava enterrando
o próprio filho. “Nós acreditamos que ele possa ter sido mais uma
vítima nessa história”, firmou o delegado.
Ainda de acordo com a polícia, a suspeita
contou em detalhes sobre a morte da jovem e a retirada do bebê. “Ela já
confessou tudo e disse que a vítima ainda estava viva quando o bebê foi
retirado. Conta que ela ainda ficou pedindo socorro e que, quando pegou o
bebê com o cordão umbilical e tudo, enrolado em uma toalha, e levou
para dentro da casa dela, ele ainda estava chorando”, relatou o
delegado. O próximo passo para a Polícia Civil é entregar o corpo de
Elizabeth e do bebê, conforme determinação do juiz, para a família da
vítima.
Durante a retirada da urna com o bebê,
Rosimere Rodrigues Cardoso, de 41 anos, e Priscila Cardoso,
respectivamente mãe e irmã da jovem Elizabeth, foram discretas e
acompanharam tudo em silêncio. O peso da tristeza que carregam desde o
desaparecimento da jovem tem se mostrado cada vez maior no semblante das
duas. Quanto mais o momento de retirar o bebê se aproximava, mais as
duas pareciam se fechar para o mundo.
A urna foi aberta de maneira rápida, apenas
para que os peritos pudessem confirmar a presença da criança. A avó do
bebê, que o aguardou ao longo de oito meses, preferiu não ter essa
imagem da criança em sua memória. Logo depois, tudo foi novamente
fechado e encaminhado para perícia. Pouco antes de sair do cemitério, a
única declaração de Rosimere Cardoso, já acompanhada de lágrimas, foi
simples e franca. “Eu estou mais aliviada. Mas não perdoo. Só Deus pode
perdoar o que ela fez”.
Uma segunda pessoa envolvida no crime era
procurada até a manhã de ontem. “Falta apenas prender o amante da Cátia.
Ela afirma que ele apenas ajudou a ocultar o corpo, mas acreditamos que
a participação dele possa ser maior. Ela não teria força suficiente
para certas ações. Ele já foi identificado, falta apenas detê-lo”. Ainda
no início da tarde, o homem, identificado apenas como Jonas, foi
finalmente detido e encaminhado para a Delegacia do Marco.
O CASO
A principal suspeita de causar o
desaparecimento de Elizabeth já era Cátia Cilene Nascimento, detida no
último dia 26. Até aquele momento muitos acreditavam que ela também
esteve grávida e que queria trocar um bebê morto pelo da vítima.
Cogitou-se um ritual após um possível aborto espontâneo, mas a verdade é
que ela nunca esteve gestante. Após a detenção da mesma, a história,
que já parecia macabra, se tornou ainda pior quando o corpo da jovem foi
encontrado na última terça-feira (30) no quintal da casa de Cátia,
localizada na rua São José, bairro Bela Vista, em Marituba.
A vítima foi atraída para o local com a
promessa de que ganharia um enxoval para o bebê que esperava. “Ela saiu
da Praça Matriz até o local por volta das 16h. Lá pelas 18h, já estava
sendo atacada com garrafadas e uma pedra que estava próxima ao corpo”,
conta o delegado Eder Mauro. Um objeto ainda mais torturante,
possivelmente uma gilete, não foi encontrado. Com ela, Cátia Cilene
teria aberto o tórax de Elizabeth do alto até a região do útero para
arrancar o bebê da vítima, quando ela ainda estava viva.
Com o bebê no colo, ela teria ligado para o
companheiro e seguido com a criança até a Santa Casa de Misericórdia,
mas o menino não sobreviveu à violenta forma como foi retirado da mãe.
Também causou estranheza o fato de a suspeita já ter filhos e ainda
assim fazer questão de ter o bebê da jovem. A hipótese de Cátia ser
ainda uma assassina em série não foi descartada. “Vamos pedir exames de
DNA nas duas filhas para comprovar se são mesmo dela”, declarou a
autoridade policial após encontrar o corpo de Elizabeth e o cenário em
que foi torturada e morta.
VELÓRIO
Dor, tristeza e revolta marcaram o velório
de Elizabeth Cardoso da Conceição, 25, que foi velada junto com o filho,
na tarde de ontem, em uma igreja evangélica, no bairro de Santa Lúcia,
em Marituba. Indignados com a crueldade do crime que tirou a vida da mãe
e do filho, que ainda estava no útero, amigos e familiares da jovem
gritavam por Justiça durante o cortejo até o cemitério.
“A gente quer justiça! Esse crime bárbaro
não pode ficar esquecido. Tiraram a vida de duas pessoas inocentes,
acabaram com o sonho de uma mãe que esperava pelo nascimento do filho.
Acabaram com uma família inteira. Todos os culpados por essa crueldade
precisam ser punidos. Todos”, declarou a dona de casa Sirley Sena, amiga
da vítima.
ABALO
Muito abalada, a mãe de Elizabeth foi
amparada pelos filhos durante todo o velório. Com a foto da filha e do
bebê nas mãos, Rosimeire Cardoso pediu justiça para o caso e revelou que
a filha já tinha comprado todo o enxoval da criança. “A Beth já tinha
comprado as roupinhas, arrumado as malas do enxoval. A gente tinha feito
todos os planos para essa nova vida que estava chegando, mas de uma
hora para outra todos nossos sonhos foram destruídos. Tiraram não só a
minha filha e a minha neta, destruíram também parte do meu corpo”,
afirmou a mãe da jovem.
O corpo da criança e o de Elizabeth foram
enterrados dentro do mesmo caixão. O funeral ocorreu em um cemitério
particular no bairro de Santa Clara, em Marituba.
(Diário do Pará)
Nenhum comentário:
Postar um comentário