Helio Fernandes/Tribuna da Imprensa )
Não me incomodo com qualquer opinião, em qualquer assunto, até mesmo nesse escabroso episódio da Bolívia. Mas mesmo aceitando e até compreendendo, por mais incongruente (que palavra) que seja, não posso ficar em silêncio. Principalmente porque em geral ultrapassaram o limite do pensamento perdulário e indefensável.
Como “defender” um diplomata que confessa que falou com Deus? Pois se ele diz, “ouvi a voz de Deus”, é lógico que houve “diálogo”, o “misericordioso” não lhe cassaria a palavra.
Ao contrário de Deus, que conversou com Eduardo Sabóia, aqui ele nem precisa se defender, existe antes de qualquer exame dos fatos o pressuposto de que Sabóia foi “humanitário, sensível, se arriscou para salvar uma vida”, como ele mesmo afirmou.
Concordemos, pelo menos para discordar. Se cada encarregado de Negócios pode tomar suas decisões acima da hierarquia, do respeito aos superiores, e das ordens de quem pode emiti-las, então estaremos executando ou caminhando para executar uma verdadeira revolução do serviço diplomático.
NEM MINISTÉRIO DO
EXTERIOR NEM CHANCELER
É isso que vai ou deveria acontecer. Por decreto presidencial ou determinação do Congresso, não demora e o Itamaraty será extinto, para satisfação de tantos que não pregaram isso abertamente, mas está implícito nas razões (?) que apresentaram.
E não é só isso. Podem cortar 99 por cento dos que servem à diplomacia. Cada embaixada não precisará mais do que um funcionário, tenha ele o nome que tiver. E aí, sim, Eduardo Sabóia terá prestado um grande serviço ao país. A economia em todas as mais de 100 embaixadas será colossal.
Esse funcionário único representando não o país, mas o “espírito humanitário, o objetivo de salvar vidas, a sabedoria de entender que os asilados estão pensando em suicídio, se arriscar para salvá-los”, mesmo sem conversar com eles.
A CUMPLICIDADE BOLIVARIANA,
PERDÃO, APENAS BOLIVIANA
Nem é preciso explicação: mesmo os que defendem Sabóia, para ele não ser “sacrificado”, concordam ou deveriam concordar: percorrer 1,6 mil quilômetros de território desse país, em 22 horas, uma façanha extraordinária.
Como alguém disse aqui mesmo, Sabóia merece ou mereceria uma condecoração. Por ter ludibriado as autoridades da Bolívia ou por ter feito ACORDO com elas, coisa que o Brasil não conseguiu.
A VITÓRIA DA
INTIMIDAÇÃO AUDACIOSA
Eduardo Sabóia é um diplomata ou um agente do SNI, disfarçado? É o que parece. E não há dúvida que tem todos os requisitos para investigar e executar o planejado, sem autorização de ninguém.
Logo que foi chamado ao Brasil, já veio “inteligentemente” abastecido para intimidar. Compreendendo tudo num relance, notificou e intimidou de forma abrangente, sem individualização:
“Estou preparado para qualquer acusação, tenho documentos estarrecedores”. Não explicou mais nada, é um vitorioso.
Tudo que tenho dito e estou relatando, são fatos, fatos, fatos, naturalmente dentro do possível. Pois são tantas as fontes e personagens, se conflitando, se desdizendo, se contradizendo, que é preciso buscar e rebuscar, para não se ofuscar, se enganar ou ser enganado.
O único que está acima de qualquer dúvida ou descrença é o próprio Sabóia: sozinho, sem ajuda ou autorização de ninguém , planejou, burilou e executou a operação.
Com sucesso? Aí é o grande problema. E que determinará o fim do episódio, que está condicionado a duas respostas, apenas adivinhação, não é o meu território.
1 – Sabóia garante que voltará para o posto que ocupava na Bolívia. Quem quiser que responda, para mim parece episódio de romance policial. Mas tudo pode acontecer.
2 – O governo da Bolívia, por intermédio, antes, da ministra da Comunicação, depois, do próprio chanceler, que EXIGIU: “O senador tem que voltar imediatamente para responder perante da Justiça do país do qual fugiu”.
3 – Numa das suas contradições, Dona Dilma disse: “Eduardo Sabóia SALVOU uma vida”. Portanto, não poderá de jeito algum devolver o senador à Bolívia. Se fizer isso, estará arriscando a vida dele, que passara de ASILADO a PRISIONEIRO.
4 – Como se vê, sem a menor dúvida, criaram situação tão complicada, que é difícil encontrar solução. A Comissão de Sindicância vai tentar ganhar tempo para que Dona Dilma e Morales façam o que não fizeram em quase 2 anos. E que Eduardo Sabóia “fez”, sem hierarquia, mas “falando com Deus” e “cumprindo o que ouviu”.
DILMA, MORALES
E PATRIOTA
Para terminar por hoje, unicamente por hoje. Todos os três voltaram atrás no discurso e nas ações. O presidente da Bolívia, oficialmente e com bastante hostilidade: “Queremos de volta à Bolívia o senador que fugiu daqui, sem licença ou autorização”. Antes, dizia: “As relações de Brasil e Bolívia não serão atingidas”.
Dona Dilma, na transmissão do cargo de chanceler: “Quero agradecer ao ministro Patriota sua dedicação, sua eficiência e a competência com que comandou a diplomacia brasileira”. Antes, mandou que Celso Amorim fosse pedir ao chanceler que apresentasse sua demissão, não podia continuar.
O ex-chanceler, que tentou preservar Eduardo Sabóia, jogou-o do alto dos 3 mil e 800 metros de La Paz. Desdisse ontem, tudo o que disse antes. São todos trogloditas.
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PS – Monica, o Gabeira, convidado por vários partidos para ser candidato a governador, recusou totalmente. Com o massacre de Cabral, talvez dispute para senador, talvez.
PS2 – Domingo, Gabeira estreia um programa de reportagem na GloboNews, canal por assinatura. Domingo, meia-noite, incógnita.
PS3 – Solon, um abraço, o candidato a governador pelo Estado do Rio seria o Bernardinho, e não o filho do Abílio Diniz. O filho é sócio do economista-técnico numa rede de academias de ginástica. Isso é informação, nenhuma opinião.
PS4 – Em relação à denominação que usei, “China-comunista-capitalista”, é a mais completa realidade. Concordamos inteiramente na admiração por Mao, que com sua “Grande Marcha” de 1949, tirou a China do carro de boi, colocou-a nos holofotes do prestígio e da inveja. Mas existe.
PS5 – Você não gosta que se fale na parte “capitalista” da China “comunista”, embora concorde que ela tenha deixado de ser marxista. Quanto a Cho En Lai, poderíamos jantar os três, com a maior satisfação, o que ficou impossível. Um abraço.
PS6 – Termino, por hoje, quase ouvindo o estrondo das poderosas forças armadas dos EUA, França, Império Britânico, começando o que chamam de “Guerra dos dois dias”, sem invadir a Síria.
PS7 – Pela primeira vez, afirmam: “Não queremos derrubar Assad, não temos como objetivo invadir a Síria. Mas não podemos permitir que usem armas químicas”.
PS8 – O mundo já ouviu isso, na Guerra do Iraque, depois desmentido pelos próprios observadores da ONU. Que no episódio de agora tentam desesperadamente ADIAR A OPERAÇÃO MASSACRE, “esses países só QUEREM ISSO E MAIS NADA”.
PS9 – Todos sabem que a Síria tem um dos maiores arsenais de armas químicas, mas outros também têm. Só que mesmo durando dois ou três dias, e aconteça todo o “ESPÍRITO PACÍFICO” desses países, ela terá consequências, imediatas ou mais demoradas. Nenhuma guerra civil , “pacífica” ou não, acontece e termina em dois ou três dias, com todos se confraternizando.
PS10 – Além do mais, Rússia e China estão perto, tão perto, que não ouvirão, silenciosos, o que eu ouço, antes (?) de acontecer. Podem não reagir agora, mas ficará tudo escrito. Para ser respondido. Ou retaliado.
PS11 – Enquanto “ouço” os poderosos massacres de França, Grã-Bretanha e EUA, vou recebendo informações. Agora me comunicam que a ONU está preocupada com documentos que recebeu: “São os rebeldes que estão usando armas químicas na Síria”.
PS12 – Sabem de onde surgiram essas armas, só não podem informar, ou serão todos demitidos dos cargos mais do que cobiçados.
PS13 – Diante disso, o secretário-geral da ONU pede desesperadamente aos EUA (os outros são apaniguados, não podem sem sofrer retaliações) para atrasarem a operação em alguns dias. Assim, os “observadores” da ONU constatariam o que se diz das armas químicas, que seriam no mínimo dos dois lados.
PS14 – Escrevo, é minha obrigação, mas continuo “ouvindo” o estrondo. Como é que se destrói arma química com dois rótulos?
PS15 – Quando os americanos usaram Napalm no Vietnã (e assim mesmo foram derrotados), a Dow Chemical era a maior fabricante do mundo. E no Brasil, presidida pelo general Golbery.
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