Pedro do Coutto/Tribuna Da Imprensa
Ao apoiar a atuação do
diplomata Eduardo Saboia no episodio que culminou com uma crise no
Itamarati e irritou a presidente Dilma Rousseff, o governador Eduardo
Campos finalmente sinalizou que pretende mesmo disputar, pela oposição,
as eleições presidenciais de 2014. Reportagem de Flávia Guerreiro, Fábio
Mendes e Taí Nalon, Folha de São Paulo de 28, focalizou amplamente o
assunto. Amplamente porque de um lado da página destacou a reação de
Dilma Rousseff e, de outro, as declarações de Aécio Neves e Eduardo
campos. O senador mineiro já se anunciou candidato de oposição ao
governo. O governador de Pernambuco, pela primeira vez, de modo
incisivo, contesta a posição assumida pela presidente da República.
Rousseff condenou a atitude de
Eduardo Saboia sustentando os riscos a que se expôs, a si, e à própria
vida do senador Roger Pinto Molina, ao passar por várias barreiras
policiais. Nada aconteceu, mas poderia ter acontecido. Um governo não
negocia vidas: age para proteger vidas. Nós não estamos numa situação de
exceção Condenou fortemente a comparação de Saboia colocando no mesmo
patamar a embaixada em La Paz e o Doi-Codi da ditadura militar.
Eduardo Campos contestou: eu só
posso ter uma opinião. Salvamos uma vida, ameaçada pela depressão, uma
doença terrível. Cumprimos uma tradição do país, que é de abrigar
perseguidos políticos. Por dever de consciência, cumprimento o diplomata
Eduardo Saboia, por sua atitude humanitária. A afirmação do governador
se choca principalmente com uma das declarações de Dilma Rousseff,
quando lamenta profundamente a atuação do diplomata.
PEDIDO DE FÉRIAS
A revolta da presidente da
República foi autêntica, não um lance no tabuleiro do xadrez
internacional, como alguns analistas admitiram. Tanto assim que
suspendeu (matéria de Valdo Cruz e Eliane Catanhede, além também de
Gabriela Guerreiro) a designação do embaixador Marcel Biato para a
embaixada brasileira na Suécia. Marcel Biato é embaixador em La Paz.
Havia entrado de férias, o que levou Eduardo Saboia a substituí-lo
interinamente. Dilma Rousseff interpretou que o pedido de férias foi
programado para Saboia retirar Molina da embaixada.
E só poderia ter irritado, seja
qual for a verdade completa, uma vez que o episódio afetou a autoridade
presidencial na medida em que, no plano internacional, colocou-a na
posição de desinformada. Nenhum dirigente político sente-se confortável
em tal posição levada pelas circunstâncias rocambolescas da atuação de
Saboia, quase uma aventura de capa espada lançada nos tempos modernos.
Portanto, as afirmações de Aécio
Neves e Eduardo Campos só podem ter contribuído para irritá-la ainda
mais. As de Aécio nem tanto porque ele sempre se anunciou um candidato
de oposição. Mas principalmente as de Eduardo Campos, que é do PSB,
legenda que ocupa dois cargos ministeriais na administração federal. O
próximo lance de Eduardo Campos deverá ser a iniciativa de retirar o
partido da equipe do Planalto, pois não faz o menor sentido alguém
assumir a trilha da oposição e, ao mesmo tempo, permanecer integrando a
equipe do governo. Lançando-se candidato, por fim, Eduardo Campos terá
que renunciar ao governo de Pernambuco até 5 de abril do próximo ano. A
atuação de Saboia, do dia para noite, projetou-se profundamente no
quadro político nacional.
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