Carlos Chagas
Na próxima semana, no máximo na outra, o Supremo Tribunal Federal terá encerrado o julgamento dos embargos de declaração interpostos pelos mensaleiros. Ao que tudo indica, rejeitando todos, como até agora. A partir daí, virá a grande decisão, qualquer que seja: 1) O plenário da mais alta corte nacional de Justiça inicia a apreciação dos embargos infringentes, aqueles que na teoria poderão reverter sentenças de prisão, arrastando-se os trabalhos por pelo menos mais um ano. 2) Não será aceito nenhum embargo infringente, determinando que em questão de dias os réus estarão na cadeia.
Impossível a previsão sobre o que vai acontecer. Advogados dos sentenciados fazem todo o tipo de contas a respeito do voto dos onze ministros, mas garantir a tendência de cada um, ninguém garante.
Resta assim analisar as consequências políticas das duas opções. No caso de o julgamento prolongar-se por mais um ano, não haverá como evitar na opinião pública uma profunda desilusão, mesclada com indignação. Os mensaleiros continuarão em liberdade, quatro deles até exercendo mandatos de deputado. Uma evidência a mais da morosidade da Justiça quando se trata de criminosos de alto poder econômico. Uma vitória para eles.
Se desprezados em bloco os embargos infringentes, crescerá a imagem do Judiciário junto à população.
Discute-se a dúvida milenar a respeito de os tribunais decidirem exclusivamente de acordo com a lei ou, no reverso da medalha, exararem suas sentenças com um olho nas ruas. Não são excludentes as duas hipóteses, desde que limitadas pelo bom senso. Nem atropelar a lei nem dar as costas para o sentimento popular será sempre possível.
Boatos e especulações sopram nos corredores do Supremo: aceitos os embargos infringentes, em sinal de protesto Joaquim Barbosa renunciaria à presidência da corte e à sua cadeira de ministro. Poderia até candidatar-se à presidência da República. Recusados de uma só vez aqueles recursos, muitos mensaleiros buscariam refúgio no exterior, mesmo já tendo seus passaportes confiscados.
Tanto a imaginação quanto o temor dão-se as mãos, nessas horas. A procrastinação vai gerar a descrença, quem sabe a revolta. O encerramento abrupto do julgamento determinará o descrédito nas leis do direito de defesa. Uma sinuca de bico.
DOIS EXTREMOS
Enquanto a Câmara dava vexame ao evitar a cassação de Natan Denadon, o Supremo Tribunal Federal negava a redução das penas dos réus do mensalão, ao apreciar os embargos de declaração. Mesmo inconclusa a novela do julgamento, ficou clara a distinção entre os dois poderes, ao menos até agora.
APREENSÕES
Ninguém sabe como serão as manifestações de rua no próximo sábado, Sete de Setembro. Vândalos e tresloucados preparam a baderna, mas talvez venham a ser desestimulados pela maioria.
(Tribuna Da Imprensa )
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