domingo, 1 de setembro de 2013

‘Hasta la isla siempre’

 

 


João Gualberto Jr.


Cubanos são inigualáveis na fabricação de charutos e rum e muito bons em produção cultural, especialmente, na música e na dança. Essas virtudes do país caribenho ninguém tira. Há muita gente que inclui na lista de vantagens comparativas a arte de filmar e de salvar vidas. Mas existe também quem questione tais talentos – coincidentemente ou não, ambos erigidos após a revolução de 1959.
O cinema diferenciado de Cuba atraiu muito estudante brasileiro. Agora, soa desabonador traçar um paralelo em termos de quantidade e qualidade de títulos até com a produção brasileira feita, a duras penas, a partir da década de 60. A estética cubana na tela parecia mais uma versão tropical da “direção dirigida” de Eisenstein, um “Mamute Siberiano” em dimensões reduzidas, assim como, grosso modo, era tudo por lá em relação à União Soviética.
Brasileiros também foram estudar medicina em Cuba, onde haveria métodos mais avançados, por exemplo, de tratamento contra o câncer. Críticos identificaram um tempero ideológico nessa exaltação à saúde dos comandantes. Como tudo que se refere à ilha surge envolto em uma fumaça vermelha e, em nome dessa pasión, para um lado ou e para outro, é imperativo desconfiar de qualquer certeza, sentiremos, agora, a expertise dos doutores cubanos, literalmente, na pele.
O programa Mais Médicos, de Dilma e Padilha, foi concebido e mantém um distinto componente político. É evidente, logo, que desdobramentos políticos advenham dele. No entanto, estas parcas reflexões não se dirigem às boas intenções do Planalto. Tampouco se deseja falar do zelo dos conselhos de medicina com a restrição de nosso mercado interno.
FETICHE IDEOLÓGICO
O caso do Mais Médicos somente exemplifica o fetiche ideológico que determinados segmentos do espectro partidário brasileiro preservam com a ilha de Fidel e Che. Os médicos cubanos que desembarcam em nossas praias não vão ver a cor do dinheiro pelas mãos do Ministério da Saúde. Primeiro, o Planalto passará o dinheiro à ditadura de Havana, que, depois, conforme seu bem-entender, repassará o soldo a seus militantes. Com profissionais de outras origens o salário será depositado normalmente.
Existe muita conspiracionice envolvendo a relação entre Brasília e Havana, mas, vez por outra, surgem histórias que tornam duendes factíveis. É o caso. Como foram as tratativas entre Dilma e Raul sobre a remuneração dos médicos? E o nevoeiro sobre o suposto apoio financeiro a Cuba que levou o Senado a agendar uma audiência de esclarecimento com o ministro Fernando Pimentel? E as embaixadas brasileiras no Caribe, como O Tempo mostrou? Entre esses cavalos há unicórnios?
Fato é que “la isla de nuestros sueños” continua viva no coração revolucionário e jovem de brasileiros, entre eles, alguns que, hoje, maduros, mandam na República. Qual a razão? Retribuição pelo acolhimento nos duros anos do exílio, mera saudade ou investimento em restauração? (transcrito do jornal O Tempo)

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