As fortes ondas deixaram um cenário de destruição; pedras estão espalhadas por todos os lados
O
avanço do mar sobre a Praia do Icaraí, em Caucaia, distante 22 Km da
Capital, já derrubou por duas vezes a parede de contenção de marés, na
Avenida Litorânea. A força do mar e a rapidez com que ele avança sobre
as barracas de praia e apartamentos daquela área têm deixado os
moradores e trabalhadores com medo de perder tudo o que possuem. Agora, o
muro será refeito pela terceira e custará R$ 808 mil, pagos pela
Prefeitura.
A
força do mar e a rapidez com que avança sobre as barracas e
apartamentos da área têm deixado moradores e trabalhadores com medo
FOTO: ÉRIKA FONSECA
As ondas deixaram um cenário de
destruição naquela orla. Pedras estão espalhadas por todos os lados, e
parte do calçadão também foi atingido. Tomar banho de mar ficou mais
difícil. Para que o banhista consiga chegar ao mar, ele é obrigado a
passar pelas enormes pedras que faziam parte da barreira e agora estão
espalhadas. Em alguns locais, é impossível fazer a descida, e em outros
existe o perigo de a pessoa cair e se machucar.
Andar pela
calçada é outro desafio. Devido à força da maré, muitas pedras e areia
foram parar no local, portanto, é impossível andar sem tropeçar. Diante
deste cenário, as pessoas são obrigadas a fazer cooper ou passear no
meio da rua.
A vendedora Raquel Nunes classifica a situação atual
da Praia do Icaraí como horrível. "A tendência é que o mar continue
avançando cada vez mais até que um dia chegue nos prédios próximos à
orla", acrescenta.
Raquel ainda destacou que muitos moradores
estão vendendo seus apartamentos a preços considerados baixos somente
para que possam se livrar do imóvel, pois têm medo do que possa
acontecer se a força do mar não puder ser contida.
Perigo
Além
disso, ela comentou que a destruição da parede de contenção de marés
afastou os banhistas da praia. "Infelizmente, hoje nós não temos mais
uma praia. O lugar ficou perigoso devido ao grande número de pedras
espalhadas por todo o lugar".
Para a dona de casa Maria da Guia
Fernandes Martins, até mesmo fazer cooper pela orla se tornou algo
difícil. Quando ela não encontra problemas para desviar do grande número
de pedras e areia, o problema são as ondas do mar que chegam até a
calçada e acabam molhando tudo pela frente. "As máquinas passam o dia
reconstruindo o muro e durante a noite o mar destrói tudo o que foi
feito. Todo dia acontece a mesma coisa. Não sei como essa parede de
contenção vai dar certo", reclamou.
Maria ainda ressaltou que é
necessário que a Prefeitura de Caucaia mude a sua estratégia de
construção de um novo muro, principalmente porque a maré já conseguiu
destruir os outros dois anteriores. "Agora, não vai mudar nada se for
feito do mesmo jeito. Por isso, é preciso procurar novas alternativas".
O
balconista Levi Braz Feitosa trabalha há dez anos em uma das barracas
daquela praia. Desde então, ele já viu a paisagem mudar diversas vezes e
o mar se aproximar cada vez mais. Feitosa diz que o avanço da maré tem
afastado muitos dos clientes. "Hoje, a movimentação não é igual a
antigamente. Os clientes preferem ir para outras praias".
Agora, o
balconista espera que a nova intervenção da Prefeitura possa finalmente
resolver o problema e, dessa forma, o local volte a ser bastante
frequentado. "Já vimos o paredão ser quebrado duas vezes. Fico em dúvida
se agora vai ser diferente".
Restauração
De
acordo com o vice-prefeito da cidade de Caucaia, Paulo Guerra, o
governo municipal está realizando obras de restauração em dois trechos
da Avenida Litorânea atingidos pelas ressacas em abril desse ano.
Guerra
acrescentou que estudos sugeriram que houvesse, em alguns pontos, um
reforço estrutural adicional para prevenir que o problema não ocorra
novamente. "Com os serviços de urbanização da Av. Litorânea ocorrerá a
impermeabilização da área protegendo os sedimentos".
FIQUE POR DENTRO
Processo de urbanização é responsável
A
erosão que acontece na praia do Icaraí, localizada no município de
Caucaia, é resultado do processo de urbanização de Fortaleza e também da
instalação do Porto do Mucuripe. Com isso, desde o início dos anos
2000, os moradores daquela área vêm sofrendo com o avanço do mar.
Mesmo
antes de ser concluída, em 1957, a obra de construção do quebra-mar de
proteção do Porto do Mucuripe já provocava erosão na Praia de Iracema.
Como não houve a realização de todas as obras necessárias para conter o
fenômeno ele se estendeu até a Barra do Ceará.
Devido à
construção de espigões entre a Escola de Aprendizes Marinheiros e a
Barra do Ceará, o processo no local foi amenizado. Porém, isso fez com
que o problema seguisse para as praias mais próximas chegando assim até o
Icaraí.
THIAGO ROCHAREPÓRTER/Diário do Povo )
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