Pedro Coutto
A deputada Luiza Erundina
(matéria publicada na edição de segunda-feira da Folha de São Paulo)
assumiu praticamente a tarefa de articular um programa conjunto entre o
PSB, seu atual partido e o de Eduardo Campos, e a Rede Sustentável, de
Marina Silva, em torno da sucessão presidencial e das eleições de 2014
para os governos estaduais. Por uma coincidência do destino, a
ex-prefeita da cidade de São Paulo e a ex-ministra do meio Ambiente
pertenceram aos quadros do PT e dele, por motivos diversos, se tornaram
dissidentes da legenda.
Ao participar de encontro entre
os líderes das duas correntes, Erundina defendeu a tese da elaboração
de um programa conjunto através do qual tanto o Partido Socialista
Brasileiro quanto a Rede manterão suas identidades próprias. Trata-se de
uma convergência difícil, já que as identidades e disposições, no
fundo, são colidentes. A começar pela sucessão paulista: o grupo do
governador de Pernambuco defende o apoio à reeleição de Geraldo Alckmin.
O da ex-senadora prefere apoiar o deputado Fábio Feldman.
PROBLEMAS
Mas as contradições são maiores
do que esta. Marina Silva, mal ingressou no PSB, vetou a aliança de seu
novo partido com o DEM, de Ronaldo caiado, em torno do governo de Goiás.
Os socialistas apoiariam Caiado para o governo goiano, a corrente do
líder ruralista daria apoio a Eduardo Campos para presidente da
República. Com a atitude de Marina, tal projeto de acordo logo se
evaporou. Goiás e São Paulo tornam-se exemplos de um processo de
colisão, que, a meu ver, vai culminar com a escolha da candidatura
presidencial pela convenção do PSB – uma definição entre Marina e
Campos. Nas pesquisas do Datafolha e do IBOPE, Marina Silva tem o dobro
das intenções de votos de Eduardo Campos.
Um programa conjunto capaz de
manter as identidades de um e de outro é algo extremamente problemático.
Melhor seria a fixação de um denominador comum capaz de abrigar (e
contentar) as duas correntes. Esta, inclusive, foi a ideia central do
projeto do presidente de Gaulle, quando, em 1965, instituiu o segundo
turno nas eleições diretas, sempre que no primeiro o mais votado não
alcançasse maioria absoluta dos votos válidos. A França, inclusive, foi o
primeiro país do mundo a implantar esse sistema, adotado no Brasil a
partir das eleições presidenciais de 1989.
Achava De Gaulle que nenhum
partido possuía força suficiente para impor um programa de governo sem o
respaldo do Poder Legislativo. A falta de sintonia entre o Executivo e o
Parlamento inevitavelmente acabaria obstruindo as propostas e programas
governamentais. Para enfrentar tal realidade – confirmada pelos fatos –
e viabilizar a colocação em prática dos projetos voltados para o
desenvolvimento econômico e social era imprescindível o acordo entre as
tendências dos partidos vitoriosos nas urnas, dispostos a assegurar a
governabilidade do país. Aliás como acontece nos paias que adotam o
regime parlamentarista. A formação dos gabinetes depende da aprovação
das coligações.
Não se trata, portanto, de unir
as identidades, pois cada qual tem a sua. Trata-se, isso sim, de reunir
os propósitos em torno de um programa comum, como é próprio da
política, dentro dos limites do possível. Não adianta buscar o ideal,
porque como , em 1965, definiu o grande Alceu Amoroso Lima, o candidato
ideal não existe. A frase dita a integrantes da Juventude Católica que
foram procurá-lo por ter apoiado, através de artigo no Jornal do
Br4asil, a candidatura de negrão de Lima contra Flexa Ribeiro, na
sucessão de Carlos Lacerda no Estado da Guanabara. Os jovens estudantes
disseram: professor, Negrão é um conservador. “O candidato ideal não
existe” – respondeu o ilustre acadêmico. Repórter do Correio da Manhã,
nunca esqueci a frase.(Tribuna Da Imprensa )
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