Ucho Haddad
(Do Blog Ucho.info)
É no mínimo irresponsabilidade acreditar que o ex-ministro José Dirceu de Oliveira e Silva, condenado no processo do Mensalão do PT, está realmente interessado em trabalhar área administrativa do Hotel Saint Peter, na capital dos brasileiros. Sem desmerecer os que trabalham no setor, o cargo é muito pouco para quem foi o homem forte da República nos primeiros anos da era Lula e estava acostumado a dar as cartas, inclusive nos bastidores do poder. E continua agindo da mesma maneira, mesmo preso no Complexo Penitenciário da Papuda, de onde manda recados nada diplomáticos para a direção do Partido dos Trabalhadores.
De acordo com o documento protocolado no Supremo Tribunal Federal e que também será entregue na Vara das Execuções Penais do Distrito Federal, o criminalista José Luís de Oliveira Lima justificou o pedido com a alegada experiência do seu cliente em consultoria empresarial, o que pode ser interpretado como lobby e tráfico de influência.
O Hotel Saint Peter, que já pertenceu ao polêmico Sérgio Naya, é de propriedade do empresário Paulo Abreu, dono da Rede Mundial de Comunicação, que controla as emissoras de rádio Tupi FM, Tupi AM, Mundial, Kiss FM, Scalla FM, Apollo FM, Iguatemi Prime FM, Terra AM, Terra FM e BR FM, entre outras.
José Dirceu já teria um contrato de trabalho assinado com o Saint Peter, mas tudo indica que a ideia é instalar no hotel uma central de lobby. Na última semana, José Dirceu acenou com a possibilidade de transferir de São Paulo para Brasília a sua empresa de consultoria, que ainda funciona em bairro nobre da capital paulista, mas ao que parece a ideia foi descartada.
O CLIENTE
O primeiro cliente do ex-chefe da Casa Civil e mensaleiro condenado seria o próprio Paulo Abreu, que trabalha intensamente nas entranhas do poder para ressuscitar a extinta TV Excelsior, que pertencia ao empresário Mário Wallace Simonsen e fechou as portas em setembro de 1970, em pleno regime militar.
De acordo com uma ex-funcionária de Abreu, que falou ao ucho.info sob a condição de sigilo, ele é um velho conhecido do Partido dos Trabalhadores, tendo escancarado a Rádio Tupi, em São Paulo, para entrevistas semanais de Fernando Haddad durante a campanha eleitoral rumo à prefeitura paulistana. Fora isso, na Advocacia-Geral da União (AGU) o possível novo patrão de José Dirceu é conhecido como o “rei das liminares”, o que explica as muitas concessões no setor de rádio.
O retorno da TV Excelsior, que recebeu aval da cúpula do Ministério das Comunicações, depende de um decreto de anistia que precisa ser assinado pela presidente Dilma Rousseff e já está na escrivaninha da petista. Para isso o empresário Paulo Abreu, que é próximo do deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), conta com a simpatia de petistas cinco estrelas, como Sigmaringa Seixas e os ministros José Eduardo Martins Cardozo (Justiça) e Paulo Bernardo da Silva (Comunicações).
Essa costura, até então desconhecida, mostra que há muitos interesses por trás da prisão de José Dirceu, que mesmo com a liberdade cerceada parece não querer largar o ofício de lobista. Nesse intrincado jogo há um escambo previamente combinado, que dependendo da decisão da Justiça poderá ruir a qualquer momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário