quinta-feira, 28 de novembro de 2013

zum, zum, zum, está faltando um


Sebastião Nery


Contei esta historia aqui em 25 de setembro do ano passado. Tarde de sábado do começo de 2003 no restaurante Piantella, o melhor de Brasília. Lula havia ganho as eleições presidenciais de 2002 contra José Serra e estava em Porto Alegre, com José Dirceu e a cúpula do PT, discutindo com o PT gaúcho a formação do novo governo.
Como fazíamos quase todas as tardes de sextas e sábados, um grupo de jornalistas almoçávamos a um canto,conversando sobre política e o pais.
De repente, entram nervosos, aflitos, os deputados Moreira Franco, Gedel Vieira Lima, Henrique Alves, da direção nacional do PMDB, e começam a discutir baixinho, quase cochichando. Em poucos instantes, chega o deputado Michel Temer, presidente nacional do PMDB. Nem almoçaram. Beberam pouca coisa, deram telefonemas, saíram rápido.
Nada falaram. Acontecera alguma coisa grave. Deviam voltar logo.
LULA
Só um voltou e nos contou a bomba política do fim de semana. Antes de viajar para o Rio Grande do Sul, Lula encarregara José Dirceu, coordenador da equipe de transição e já convidado para Chefe da Casa Civil, de negociar com o PMDB o apoio a seu governo, em troca dos ministérios de Minas e Energia, Justiça e Previdência, que seriam entregues a senadores e deputados indicados pelo partido.
Lula já havia dito ao PT que eles não podiam esquecer a lição da derrubada de Collor pelo impeachment, que o senador Amir Lando, do PMDB de Rondônia, relator da CPI de PC Farias, havia definido como uma “quartelada parlamentar”. No Brasil, para governar é preciso ter sempre maioria no Congresso. O PT tinha que fazer as concessões necessárias.
DIRCEU
O primeiro a ser chamado foi o PMDB, o maior partido da Câmara e do Senado. Lula mandou José Dirceu acertar com o PMDB. Combinaram os três ministérios e ficaram todos felizes. Em Porto Alegre, na primeira noite, Lula encontrou a gula voraz do PT gaúcho, que exigia os ministérios de Minas e Energia, da Justiça e da Previdência. Lula cedeu. Chamou Dirceu e deu ordem para desmanchar o acordo com o PMDB.
Dirceu perguntou como iriam conseguir maioria no Congresso.
- Compra os pequenos partidos, disse Lula a Dirceu.Fica mais barato.
Dilma virou ministra de Minas e Energia, Tarso Genro da Justiça e Olívio Dutra das Cidades. O PMDB seria substituído pela compra dos “pequenos partidos” : PTB, PL, PP, etc. E assim nasceu o Mensalão.
PATRÃO
O advogado do ex-deputado Roberto Jefferson, o brilhante jurista Luiz Francisco Correa Barboza, disse ao “Globo”:
-”Não só Lula sabia do Mensalão como ordenou toda essa lambança. Não é possível acusar os empregados e deixar o patrão de fora”.
No dia 12 de agosto de 2005, em um pronunciamento pela TV a todo o povo brasileiro, Lula pediu “desculpas pelo escândalo”.
Lula é um “cappo”. Os companheiros do partido e do governo na Papuda e ele, só ele, de fora. Logo ele que é o grande réu, “o réu”. Dirceu, Genoino, Delúbio, Valério, a malta toda, como disse o Procurador Geral da República, era uma “organização criminosa”, uma “quadrilha” chefiada pelo Dirceu. (Mas sob o comando do Chefão, Lula).
SUPREMO
Desde 2003, cada ano relembro essa historia. Lula começou dizendo que “não sabia de nada”. Depois, passou para : “Fui traído pelas costas”. E, finalmente, a tese oficial dele e do PT : – “O Mensalão foi uma farsa”.
E Lula arranjou ajudantes na desfaçatez para agredir o Supremo Tribunal. Delubio:- “O Mensalão é uma piada de salão”. Um gaúcho baixotinho, que veio não se sabe de onde e virou presidente da Câmara, Marco Maia, cuspiu no Supremo: “O Mensalão é uma falácia”.
Ele não sabe o que é falácia. Mas cadeia ele sabe. Quando for visitar na Papuda sua turma, Dirceu, Genoino, Delubio, Valério, ele vai aprender.
Quem tinha de estar na Van da frente era Lula, o Chefão. Como diz a marchinha do Paulo Soledade, Zum, Zum, Zum, na Papuda está faltando um.

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