Carlos Chagas
Em termos de sucessão presidencial, servirá para que candidato o conselho de Winston Churchill de que “jamais devemos negociar com medo, mas não devemos ter medo de negociar”?
Começando por Aécio Neves, vale indagar se não está na hora dele visitar José Serra e esclarecer de uma vez por todas se, depois de o ex-governador paulista haver reconhecido a prevalência do ex-governador mineiro como candidato, não está na hora de obter um plano de vôo completo para a campanha dos tucanos? Porque sem a simbiose dos dois, claro que em torno da indicação de Aécio, fica difícil sonhar com o palácio do Planalto. É preciso definir a compensação para Serra, inclusive espaços num hipotético governo, sem falar da sua candidatura a senador ou deputado.
Outra negociação imprescindível do neto do dr. Tancredo tem que ser com Eduardo Campos. Devem passar das preliminares para a fase concreta da aliança no segundo turno, devendo um apoiar o outro, na dependência de quem for disputar com Dilma. Um pacto de não agressão precederia os entendimentos, inclusive envolvendo o futuro governo, na hipótese da vitória.
Por falar no candidato do Partido Socialista, ele também precisa negociar sem medo com Marina Silva. E vice-versa. Parecem tênues as pontes que ligam o governador de Pernambuco e a ex-senadora e ex-ministra. Começa por saber se ela aceitará compor a chapa, como vice, e em que termos. Sem afastar a possibilidade de, estando bem adiante nas pesquisas, inverter-se a dobradinha. Antes de tudo, porém, necessitam ambos enfrentar a dúvida, além de encontrarem um ponto de inflexão na doutrina e na ideologia que sustentam, obviamente cheias de arestas.
A sempre presente e muitas vezes negada candidatura de Joaquim Barbosa precisaria, se verdadeira, partir de uma negociação ampla do presidente do Supremo Tribunal Federal com as organizações da sociedade civil. Só depois partiria para encontrar um partido capaz de abrigá-la. Essa equação pouco ortodoxa exigirá, mais do que as outras, diálogo permanente do suposto candidato com forças situadas à margem do quadro partidário, mesmo com a necessidade de valorizá-los.
Por último, que tipo de negociação causaria medo em Dilma Rousseff? Talvez devesse começar com o Lula, que já deu mil evidências de apoiar a sucessora mas ainda assiste parte considerável do PT levantando o nome dele. Claro que conversam todas as semanas, examinam as sucessões estaduais e debatem o papel do partido na campanha. Mas seria preciso uma aproximação maior entre a presidente-candidata e os companheiros. A promessa de manter ou até de ampliar a participação do PT no segundo governo deve ser o ponto de partida, ainda que seja longo o percurso para polir arestas partidárias.
As legendas que apóiam o governo e a reeleição exigirão de Dilma compromissos de no mínimo preservar seus espaços no ministério. Pode não ser essa intenção dela, capaz de imaginar o governo de seus sonhos no segundo mandato, isto é, livrar-se das exigências de sua base parlamentar. A operação exigirá amplas e delicadas negociações, mas se ela não tiver medo, poderá obter sucesso.
Foi assim que Winston Churchill viajou diversas vezes a Moscou, negociando com Stalin, durante a Segunda Guerra. Foi assim que salvou a Inglaterra.
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